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Reportagem Machine Head + Guests em Lisboa
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Foi uma noite dedicada à música pesada em Lisboa, que recebeu a "Eighth Plague Tour" dos norte-americanos Machine Head, com os convidados Bring Me The Horizon, Devildriver e Darkest Hour. Para os receber, um Coliseu dos Recreios ao rubro que se encheu ao longo da noite, para culminar numa lotação quase total.
A abertura da noite ficou a cargo dos Darkest Hour, que apresentaram o seu álbum The Human Romance ao público português. Ao som de "Terra Nocturnus" e "The World Engulfed in Flames", John Henry e companhia começaram a sentir a energia da plateia, que se mostrou receptiva ao metalcore desta banda originária de Washington. Durante mais seis temas, entre os quais mais três do novo álbum, as coisas foram aquecendo, e uma actuação sólida dos americanos proporcionou um bom início de noite no Coliseu.
Seguiu-se mais uma banda norte-americana. Vieram de North Carolina, chamam-se DevilDriver e também eles apresentaram o seu novo álbum, Beast. Foi talvez a banda que menos mexeu com o público português, poucos foram os que os viram no Metal GDL, na sua última passagem por terras lusas, mas ainda assim deram um bom espectáculo e animaram as hostes com músicas como "End Of The Line", "Dead To Rights", "Not All Who Wander Are Lost", "I Could Care Less" e "Clouds Over California". Ficou ainda o agradecimento de Dez Fafara (também vocalista dos Coal Chamber) aos Machine Head por terem levado os DevilDriver em tour e assim torná-los mais conhecidos.
A última das bandas de abertura foi provavelmente a que mais fãs levou ao Coliseu dos Recreios (não contando com os Machine Head, claro). Os Bring Me The Horizon abriram com "Diamonds Aren't Forever", e podia-se distinguir uma pequena falange de fãs que se deslocaram ao emblemático espaço de Lisboa exclusivamente para assistir ao concerto dos britânicos.
Oli Sykes não se fez rogado, e pediu de imediato ao público que cantasse com ele, chegando mesmo um fã da banda a entrar em palco, a quem foi cedido um microfone para cantar juntamente com a banda. Com o passar do tempo, os fãs de Machine Head foram ficando impacientes, e durante algum tempo ouviu-se ruidosamente o nome dos norte-americanos, o que não agradou ao líder da banda de Sheffield. O concerto foi perdendo energia, e viria a terminar com "It Never Ends" e "Chelsea Smile".
Finalmente, a banda por que todos aguardavam no Coliseu (à excepção daqueles que abandonaram a sala depois de BMTH), os Machine Head de Robb Flynn, com o novo álbum Unto The Locust na bagagem. "I Am Hell (Sonata in C#)" e "Be Still And Know", do mais recente álbum do quarteto de Oakland, viria a ser o início épico de uma actuação absolutamente arrasadora. Nesta fase da noite já a plateia estava repleta, e o Coliseu dos Recreios vestido a rigor para "Imperium", um dos clássicos do álbum Through The Ashes Of Empires, que levou o público português ao delírio.
Seguiram-se "Beautiful Mourning", "The Blood, The Sweat, the Tears", esta última dedicada aos apreciadores de cerveja, e "Locust", primeiro single do último álbum, onde se confirmou aquilo que foi observável no início do concerto: Os fãs portugueses conhecem os temas do último álbum (que foi lançado há apenas dois meses) como se de clássicos se tratassem. Robb Flynn estava visivelmente impressionado com a energia e devoção dos presentes, que sabiam na ponta da língua todos os riffs e versos dos Machine Head.
A seguir a uma "Aesthetics of Hate" dedicada a Dimebag Darrell, foram "Old", "Ten Ton Hammer" e a incendiária "Bulldozer" a deixar o Coliseu dos Recreios em êxtase. Para terminar, "Halo" do tão bem sucedido The Blackening, com solos fantásticos de Phil Demmel e Robb Flynn, e como já é hábito "Davidian".
Pelo público, viam-se caras conhecidas da música nacional, dos mais diferentes nichos. Talvez pelo facto de os Machine Head serem uma banda tão genérica e de tamanha influência para tantas bandas portuguesas, vimos elementos de More Than a Thousand, Moonspell, entre muitos outros.
Ficou provado que os Machine Head são uma banda de culto em Portugal e provavelmente uma das melhores bandas ao vivo da actualidade. Uma setlist intocável, a humildade de sempre, a atitude positiva e a qualidade dos norte-americanos carimbaram uma noite inesquecível.
Reportagem Ulver no MusicBox
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Nota autobiográfica: ver Trickster (aka, Kristoffer "Garm" Rygg) e os Ulver era já uma espécie de fantasia antiga. Quer queira quer não, foi uma figura que até me acompanhou bastante nos últimos 10 anos e pouco, em viagens, leituras, e todo o tipo de experiências. Sem me considerar um super-fã, depois de perder o concerto o ano passado no Porto, fui desta vez porque estava finalmente à mão. Por isso não vou comparar o concerto com nada. Fui absolutamente sem expectativas, poucos cigarros no bolso, e algum tempo para queimar.
Directamente de Oslo para o Musicbox, muito bem-dispostos e faladores, os Ulver abriram com "February MMX", que deu logo para sacudir e abrir os olhos. A sala não estava tão completa como seria de esperar... 22 euros também é dinheiro, mas valeu bem pela montagem audiovisual e para desfrutar do som espectacular que ainda lhes levou alguns anos a atingir. É curioso o facto de esta banda, já sem o destaque que teria há anos atrás, ter apresentado um excelente concerto.
O baterista encolhido no seu canto, um baixista/guitarrista/multiusos, zeloso do seu instrumento e Garm a cantar, levando sempre tudo na calma, a mastigar pastilhas ou a fumar, compunham um quadro que dava para ver e ouvir.
Os outros dois elementos, atarefados com a maquinaria em cima do palco, também se dedicavam ao ruído, mas era nos outros que a atenção do público se encontrava.
Mulheres nuas baloiçavam-se na tela, dando o mote para as velhas e favoritas: "Porn Piece" em versão acelerada, um "Rock Massif" inesperado, com alguma riffalhada pelo meio de encher o ouvido e Lost in Moments, com nota psicadélica. Ainda outros temas do último disco: "England" e "Island", com umas ondas de fundo que nos afogaram no som. Encore divertido, com uma versão punk de um tema desconhecido, e um segundo encore para arrumar a questão com a tão esperada "EOS".
Setlist:
- February MMX
- Norwegian Gothic
- England
- September IV
- Lost In Moments
- Porn Piece Or The Scar Of Cold Kisses
- Island
- Darling Didn't We Kill You?
- For The Love Of God
- Little Blue Bird
- Rock Massif
- EOS
De destacar, a qualidade fantástica do som que o Musicbox conseguiu produzir para uma banda que bem a merece. Há muitos anos que este projecto trabalha na perfeição da sonoridade e da composição, e sabe sempre bem ouvir o que o artista quer que se ouça.
Reportagem Com Truise no Porto
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Os últimos dois domingos do mês de novembro ficaram marcados por dois concertos matiné muito agradáveis e surpreendentes. A Lovers & Lollypops deu uso aquele que por muitos é visto como um dia enfadonho e aborrecido.
A música ambiente que se fazia ouvir nos Maus Hábitos quase se confundia com The Festmen, que entrou em palco muito discretamente. De repente, começam a a surgir vídeos quase aleatórios desde publicidades, desenhos animados ao programa O Preço Certo – com momentos e situações cómicas que se enquadravam com a sonoridade 8 bit extremamente dançável. Escusado será dizer que a setlist foi indecifrável, mas isso mostrou-se o menos importante, quem lá estava, e por poucos que ainda fossem, gostaram do que ouviram e não faltaram aplausos.
João Chaves é o sonhador de Dreams que através das suas músicas chillwave nos faz lembrar das mais belas memórias do verão, os tempos quentes e os dias repletos de sol. Acompanhado, ao vivo, pela guitarra de Ricardo Barbosa e pelos sintetizadores de Paulo Catumba, João e a sua voz afundada em reverberações já é bastante conhecido e falado pelas redondezas do nosso país.
Com a maior das honras, antecipa o concerto do projecto americano Com Truise. Uns sentados e outros de pé, cada vez com mais gente, mas ainda sem se aproximarem muito do palco, ouviram e aplaudiram as músicas que por lá se foram ouvindo "Step 1", "Step 3", "Interlude", "In Dreams" e "Don't Leave Me".
Com Truise é o nome do projecto musical de Seth Haley, músico electrónico de Oneida, Nova Iorque. O nome, que muitas vezes é confundido com o de Tom Cruise, surge de um spoonerism, ou seja, de um erro ou um propósito deliberado, na expressão oral, onde as consoantes ou as vogais de uma palavra são trocadas. Seth Haley, com Com Truse, cria o estilo experimental que intitula de "mid-fi synth-onda, funk slow-motion", onde se consegue encontrar alguns fragmentos de Joy Division, New Order e Cocteau Twins.
Mal se começa a ouvir "Sundriped" o público aproxima-se instantaneamente e os seus corpos começam a dançar e a balançar ao som electrónico em slow-motion. Pouco tempo ouve para aplausos, música atrás de música, Seth e a sua ginástica musical feita à base de ajustes e reajustes nas mesas de misturas e processadores de efeitos, era acompanhado por um baterista, ainda que jovem, bastante dedicado e preciso nas batidas electrónicas dominadas por Seth. Algo inovador, diga-se, pois não é todos os dias que se assiste a um concerto electrónico com instrumentos como baterias, que tornam os ritmos mais genuínos trazendo a este estilo musical a ideia de criação sonora in loco.
Pela tarde ainda se ouviu "Slow Peels", "IWYWAW", "BASF Ace" entre outras. Não importou muito a setlist, o concerto foi tão contagiante que no fim só se queria mais. A Lovers & Lollypops comprovou, mais uma vez, que seja a que hora for, os bons músicos não desiludem e fazem a festa seja ou não em dia de descanso.
Esperamos assim que 2012 se torne mais certo e traga com ele mais alguns domingos como este.
Reportagem Suuns no MusicBox
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Segundo dia do mês de Dezembro e terceira parte da rubrica Heineken a decorrer mensalmente na versátil caixa de música do Cais do Sodré, foi hoje a vez dos canadianos Suuns se estrearem em Portugal para a apresentação do seu primeiro álbum de longa-duração entitulado Zeroes QC, lançado no final do ano de 2010. Considerados uma das grandes revelações do ano, Suuns tocaram ontem na Casa da Música no Porto com os hiperactivos Battles, num concerto arrebatador e digno da exaltação do público.
Ivo Pacheco ou se preferirem, Ivvvo, editor do colectivo criativo portuense Terrain Ahead e parceiro de Trikk nos Baliac, é um jovem criador de beats densos e melancólicos que explora a música electrónia e as suas vertentes no submundo do post dubstep e witch house. A personagem melómana de Ivvvo invadiu o Musicbox com o EP Her e Four U | A R A S, trabalho a solo do artista que diz ser mais que um EP como explica na sua página de Facebook, "é um presente para alguém". Temas que diz serem resultado de semanas de isolamento sobre a sua persona e por reflexo desta, sobre alguém. São temas como "Near", "Better, In Two Says"," I Just Love You" e "ARAS" que nos transportam com intensidade para uma impenetrável neblina na qual ficamos imersos, como que as luzes psicadélicas e decandentes nos cegassem permitindo-nos apenas a audição.
A verdade é que pouco se sabe sobre Ivvvo, apenas que se move livremente sem barreiras por caminhos tenebrosos das cinzas do dubstep, criando propostas sobrecarregadas de sensações, a representação de uma consciência íntima que afirma previamente um conhecimento talentoso de sistemas digitais como o Fruityloops, uma capacidade notável de embrenhar uma sala nas suas melodias transcendentes frequentemente associadas a sonoriades saídas das caves de clubes berlinenses, aparentando ter fortes influências do post dubstep experimental e mais que soberbo de Burial, Ivvvo relembra-nos também as noites londrinas do dubstep old school, mais precisamente do evento FWD» (Foward), que veio a desenvolver e a alastrar as bases do dubstep.
É díficil dizer se a sala estaria de facto cheia para Suuns se para Ivvvo, foi no entanto com os primeiros acordes de "Red Song" que o público se chegou à frente para o que viria a ser um concerto notável. Cada vez com mais gente e a sala claramente abafada com um ambiente típico de aquário a que o Musicbox já nos habituou, Suuns foram fortemente aplaudidos e lá se foram ouvindo temas que não poderiam faltar como "Arena", "PVC", "Armed for Peace" e "Gaze".
Sons eufóricos com batidas minimalistas e guitarras psicadélicas que prolongam as músicas até à exaustão são a especialidade desta tão aclamada banda canadiana capaz de construir um concerto sem falhas onde as músicas se interligavam e onde Zeroes QC foi tocado do ínicio ao fim, impressionando o público que por sua vez se mostrava mais que conhecedor das letras, que dançava e oscilava ao som electrónico e mutável da banda em slow motion ou em ritmos dignos de um ataque epiléptico. Música atrás de música e sempre inovadoras foi em "Pie IX" que se tornou claro a preferência de quem enchia a sala quando ao som do teclado e sintetizador a multidão foi puxada para a frente para o que viria a ser o ponto alto da noite pelas constantes explosões de sons e pelo carisma de Ben Shemie, guitarrista e vocalista de Suuns que fazia questão de beijar o microfone e esmagar a guitarra sempre que tinha oportunidade.
O concerto tornou-se uma viagem para os inquilinos da sala, com ritmos crescentes e canções que se foram construíndo lentamente que não nos permitiram imaginar a explosão que se seguiria em "Up Past the Nursery" com distorções de guitarras como plano de fundo que surgem do nada, bateria acelarada e movimentos desconcertantes tanto no palco como na plateia.
Suuns criam com este primeiro álbum um estilo experimental com tendências nitidamente psicadélicas e electrónicas, com sonoridades a passarem levemente por ritmos mais agressivos associados ao Trance, e que apesar das diferentes influências musicais edificaram um concerto coeso com um público devoto que viaja entre os diferentes sons de uma forma confortável. "Mundslinger" foi a escolhida para o encerramento de um concerto negro e denso, sem falhas a apontar e com momentos de cortar a respiração.
Para o encerramento de mais uma noite da Heineken Series seguiu-se Señor Pelota em DJ Set e JPG From Daltonic Brothers em VJ Set para o final de mais uma noite da Heineken Series que promete voltar para o mês.
Foi um concerto agressivo, tanto pela sua sonoridade como a nível visual pelo jogo de luzes que nos transportava de música em música sempre acompanhados pela voz hipnotizante de Ben usada maioritariamente como uma secção rítmica e como se de um instrumento se tratasse.