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Reportagem The Get Up Kids em Lisboa
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O concerto dos The Get Up Kids foi o primeiro – pelo sim, pelo não – grande concerto a acontecer depois do anúncio do aumento do IVA no sector da Cultura. Pelos vistos, os portugueses começam já a fazer os seus próprios cortes e poupanças para o próximo ano, e deixaram a República da Música quase a um quarto da lotação para receber os americanos. Há escolhas e escolhas.
Para a primeira parte, os Moe’s Implosion mostraram que a música da margem sul vai além de Setúbal, vai pelo menos até ao Montijo. Apesar do público tímido, o quinteto não se deixou amansar. De forma bastante energética e com uma cumplicidade bastante particular daquele – claro – grupo de amigos, apresentaram “Light Pollution” o primeiro de longa duração que sucede o EP “Morning Wood”, ainda a estrear, mostrando-se bastante entusiasmados e divertidos em palco. Não podia faltar a única música até agora conhecida, Tip of the Tongue, e Doctor, dedicada com a maior sinceridade às pequenas organizadoras e pessoas que se esforçam por trazer música em que os grandes não pegam – por maior que essa música seja, como foi o caso dos The Get Up Kids.
À entrada, Matthew Pryor pediu desculpas pelo atraso de 16 anos em pisarem terras lusas, como se a culpa fosse deles.
Apesar dos anos de casa, os The Get Up Kids não têm uma discografia exorbitante, pelo que lhes foi bastante simples mostrar um pouco de tudo, não se focando unicamente à mostra do mais recente “There Are Rules”.
Começou-se um concertos que se sabia de antemão que seria nostálgico para muitos, reconfortante para outros, com Holiday e I’m a Loner Dottie, a Rebel de “Something to Write Home About”. Regent’s Court dá a conhecer os americanos de agora, e surpreendentemente ou não, parece que os fãs deixam o sing-along para o som mais antigo, não se mostrando totalmente a par das últimas novidades. A situação altera-se em No Love, do primeiro “Four Minute Mile”. Continuamos tímidos no entanto, muito levados pelo vazio da sala, pelo cansaço de uma quinta-feira à noite, ou demasiado focados nos anos 90 da banda e contentes por finalmente terem chegado até nós.
Por entre Red Letter Day e Woodson, o single Shatter Your Lungs, usado até à exaustão pelas rádios, volta a trazer uma acalmia. O crowdsurf foi deixado mais para o final, pela altura de um encore pouco esperado. Estávamos absolutamente rendidos à simpatia dos The Get Up Kids, que agradeciam constantemente. Shorty, Pararelevant e Holy Roman fizeram parte da lista das escolhidas, antes de Jim Suptic, o Mr. Kansas como Pryor o cognomeou, dar início à acústica Campfire Kansas, levando os irmãos Pope (Rob no baixo, e Ryan na bateria) a trocarem os seus instrumentos, um pela bateria e outro, a par de Pryor, pela pandeireta. James Dewees, teclista, ficou-se pelo seu canto.
Um momento bonito, ajudado pelo público quase emocionado. Para o final, Rememorable, Oh Amy e Walking on a Wire fizeram as despedidas, os votos de um regresso em menos de 16 anos, e as palmas para um encore não planeado.
De volta ao palco, os cinco reservaram-nos I’ll Catch You, Coming Clean e Ten Minutes dos dois primeiros álbuns. Mas a noite não ficava por aqui.
Prometida que estava a dança, voltam ao palco para um segundo encore, mais inesperado a outro nível. Quando Rob começa a dedilhar o baixo, em toda a sala se esboçaram sorrisos, com os acordes de Boys & Girls, dos Blur. Um fim de noite bastante animado, assim como tinha começado, com um público certeiro a acompanhar a voz de Suptic.
Agrada ver gente com vontade. Como disse João Sancho dos Moe’s Implosion, este concerto foi um risco que nem todos estão dispostos a correr.
Apesar da sala meia, os The Get Up Kids pareceram satisfeitos com o pequeno público que os acompanha, puxaram pessoas para o palco e nunca deixaram cair o seu concerto.
Esperamos que não falte outra década.
Reportagem Tom Vek e Old Jerusalem - Jameson Urban Routes 2011
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No quarto e penúltimo dia do destacado Jameson Urban Routes, festival com um cartaz ambicioso, a decorrer no Musicbox que inclui alguns dos mais importantes nomes da nova música de fusão/ urbana e por onde já passaram artistas como Jacques Green, Michachu e Health, foi dia 28 de Outubro, a vez de Thomas Timothy Vernon-Kell ou se preferirem Tom Vek dar vida ao Cais do Sodré com a apresentação do seu último álbum "Leisure Seizure", sucessor de "We Have Sound" do ano de 2005.
Já a primeira parte ficou nas mãos Old Jerusalem, projecto a solo de Francisco Silva que ao longo de 50 minutos deambulou pela sua curta mas aprazível discografia. One man band com uma guitarra acústica foram o suficiente para criar um ambiente modesto e inocente sem ornatos nem enfeites. Um contador de histórias, diz Francisco Silva que fez questão de indicar o príncipio e a matriz de todas as suas canções onde salientou o sexo e frades como é o caso de "Tyndale and Augustines". Old Jerusalem optou por finalizar o seu set com uma composição não da sua autoria mas sim de Francisca Cortesão (Minta) intitulada de "From the Ground".
É, infelizmente de referir que espaço foi tomado por uma sala de convívio por parte do público que não permitiu a apreciação total de um concerto que poderia ter sido tomado em maior consideração.
Seguiu-se Tom Vek fortemente aplaudido pelo público que mostrou o devido reconhecimento da discografia do londrino que pisou pela primeira vez os palcos portugueses. "C-C (You Set Me on Fire)", um dos singles do "We Have Sound" foi a escolhida para abrir um concerto repleto de energia tanto pela parte do público como do palco.
Vek focou o alinhamento no novo album, "Leisure Seizure" revendo algumas do anterior como é o caso da "If You Want" e "I Ain't Saying my Goodbyes" ao apresentar-se num registo impetuoso e dançável que atingiu o seu auge na "Someone Loves You". O ponto alto da noite foi já na expectável "Nothing But Green Lights" que provocou o arrebatamento e extâse pela parte do público.
A interacção na pequena sala do Cais do Sodré entre o artista e o público tornou-se óbvia sempre que Vek gesticulava de uma forma compulsiva e desordenada ao ritmo das suas próprias composições sem esquecer o sorriso na cara.
Para o encerramento de um notável concerto de uma hora, Tom Vek decidiu despedir-se português com "Aroused", num concerto que não deixou ninguém parado.
Ainda a noite não tinha terminado quando Joakim, Dj eclético oriundo de França e Rui Murka, Dj Residente, estimularam a sala para o fim de mais uma noite do Jameson Urban Routes.
Reportagem Yes no Coliseu dos Recreios
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Casa praticamente lotada a 3 de Novembro no Coliseu dos Recreios em Lisboa, para o primeiro espectáculo da tour europeia dos britânicos Yes. Pela segunda vez na história da banda sem Jon Anderson, Chris Squire conseguiu encontrar um substituto à altura em Benoît David, através de vídeos da sua banda de tributo aos Yes, Close To The Edge.
Início de luxo com "Yours Is No Disgrace", "Tempus Fugit", e "I've Seen All Good People", com o veterano Steve Howe a mostrar o seu virtuosismo na guitarra. Seguiu-se "Life On A Film Set", naquela que foi a primeira incursão pelo recentíssimo Fly From Here, para logo depois se regressar a um passado longínquo com "And You And I" da obra Close To The Edge, um dos álbuns mais marcantes da banda.
Mas nem todos os temas podem ser retirados da nostalgia do século XX. Como tal, após um belíssimo interlúdio com solo acústico de Steve Howe, altura de mergulhar profundamente no novo álbum com o tema que lhe dá nome, "Fly From Here". O concerto viria a terminar com "Owner Of A Lonely Heart",
"Machine Messiah" e "Starship Trooper", mas não sem que o quinteto regressasse ao palco para presentear a plateia lusa com "Roundabout", para fechar uma actuação de duas horas e meia.
Depois de mais de quarenta anos a fazer música, os Yes acumularam experiência, e sabem como ninguém organizar um alinhamento inteligente, que nos leva numa viagem interminável pelo rock sinfónico.
Foi um concerto para assistir sentado e aplaudir de pé.
Reportagem The Antlers em Lisboa
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O Festivais de Verão assistiu, na passada quinta-feira (3 de Novembro), a uma noite estreante de sucesso para os The Antlers, que, na sua primeira atuação em Portugal, produziram um concerto coerente, envolvente e de enorme qualidade. Uma Lisboa assolada por condições climatéricas menos favoráveis não conseguiu forçar a mão da grande fila que esperava ansiosamente à porta do Lux pelos fantásticos nova-iorquinos, que acabaram por retribuir a boa fé portuguesa com boa música.
Sem banda de abertura, e apesar de um atraso considerável, Peter Silberman e companhia deram uma entrada silenciosa no palco do Lux, rodeado por uma sala cheia. "Parentheses" foi o tema escolhido de abertura, escolhido a dedo do mais recente Burst Apart, e assim começa a melancólica, mas reconfortante viagem musical, marcada por uma crescente influência electrónica do recente material dos artistas. Burst Apart demarca-se do aclamado Hospice (2009) não por ser menos deprimente (oxalá o fosse), mas sim por ser mais expansivo e harmonioso.
"No Widows" e "I Don't Want Love" são excelentes exemplos disto: é uma vertente pop que se associa ao indie rock intimista e sorumbático dos nova-iorquinos e que não deixa indiferente um público mais velho contidamente entusiástico. De facto, as letras e melodias do recente esforço, parte considerável da setlist do concerto, já pareciam estar na ponta da língua dos portugueses – o que é de louvar, visto sofrer um pouco do síndrome segundo álbum, especialmente por suceder a um álbum tão acalmado como Hospice.
Se a recepção agradou à banda nova-iorquina, esta pouco o demonstrou, mantendo a comunicação com o público num mínimo. Silberman, o porta-voz e alma torturada de excelência dos The Antlers, encantou com o seu falsetto emocional, ganhando toda uma nova presença em palco que não possui em disco – o que contribuiu para o impacto emocional da guitarrada quer metódica, quer assoladora, e para a construção de um ambiente íntimo que embalou e abarcou o público português. Os temas de Hospice não falharam: "Kettering" e a aplaudida "Bear" são suaves e imensamente tristes e aliadas à simbólica "Every Night My Teeth are Falling Out" fazem os momentos da noite.
"Queremos agradecer à British Airways por terem reavido metade do nosso material quinze minutos antes de vocês chegarem", brinca Darby Cicci, o multi-instrumentalista encarregue das teclas. Foi, de facto, um percalço que podia ter impedido esta fantástica noite de música de ter acontecido, mas ainda bem que não o fez, uma vez que fomos presenciados com momentos cada vez melhores à medida que esta terminava. "Putting the Dog to Sleep" é interrompida por um Silberman emocionado e espantado com a adesão dos seus fãs, "Corsicana" é devastadoramente bela, como um murro no estômago e "Sylvia" acaba por fechar a noite numa nota alta, que serve um testemunho à qualidade musical dos The Antlers.
Podem não ser os músicos mais criativos do panorama musical, mas o que fazem é honesto e vem de dentro – atributo que nunca passa despercebido. Daí que esta primeira experiência em Portugal tenha sido um absoluto sucesso... e esperemos que voltem em breve.