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Reportagem Best Coast no Lux Frágil
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A banda portuguesa soube como cativar o público e os seus traços de pós-rock encheram os ouvidos de todos os presentes. Temas como Speedway revelaram ter potencial e a energia dos membros passava para lá do palco.
Durante o intervalo entre bandas, notaram-se algumas dificuldades na configuração do som dos instrumentos de Best Coast que provocaram um ligeiro atraso no horário do espectáculo. Problemas à parte, a banda entrou e logo a vocalista Bethany Cosentino cumprimentou todos e agradeceu por terem vindo. Bratty B deu início a um concerto que seria marcado, mais que qualquer outra coisa, pela péssima qualidade de som advinda de um mau arranjo prévio.
A vocalista repetiu a música após ter dado algumas indicações que melhoraram ligeiramente o som. Apesar disso, o mesmo continuava longe de aceitável. Wish He Was You seguiu-se, antes de Crazy For You, uma das preferidas dos fãs que encheram o local. Bethany fez questão de frisar como era a primeira vez que os Best Coast tocavam num sítio só para si, mencionando o concerto dado no ano passado em Paredes de Coura, no palco secundário. Os seguidores da banda estavam recordados e mostraram o seu apreço durante todo o concerto, através de gritos e palmas efusivas.
Com sons que lembram os anos 90, a música dos californianos enreda por vários caminhos diferentes; as letras simples e a voz pop da vocalista contrapõem-se ao som da guitarra, criando temas interessantes que cativam o público com uma simbiose energética.
Os espectadores tiveram direito a uma música fresquinha, Gone Again, entre outras mais conhecidas cuja letra não falhava aos fãs, tais como Summer Mood ou Boyfriend, tendo esta última sido dedicada pela vocalista a todos os presentes. Houve também tempo para momentos mais calmos, providenciados por temas como Our Deal e ainda uma cover da That’s the Way Boys Are, de Loretta Lynn.
Conforme o concerto decorria, o som permanecia bastante mau e as músicas começaram a soar todas ao mesmo, mas Something In the Way veio trazer novo fôlego, antes de um breve encore.
De volta ao palco, Each and Every Day foi a escolhida para finalizar o espectáculo. Com direito a uns minutos de puro instrumental, o tema acabou com palmas e um coro entre os fãs e Bethany, que se despediu com emoção dos presentes.
Como nota final, não posso deixar de reiterar que o som teve grande peso na avaliação de um concerto que poderia ter sido muito melhor caso os problemas técnicos não tivessem existido. Valeu o esforço da banda em tentar ultrapassar isso e presentear os fãs com a sua boa-disposição, energia e humor.
Reportagem Isto Não é uma Festa Indie - (Abe Vigoda e Evols)
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A oferta para a noite de 4 de Maio certamente terá deixado alguns indecisos: havia para ver e ouvir, no Queimódromo, uma festa indie (com os nova-iorquinos MGMT e os portuenses X-Wife) e, no Plano B, em plena Baixa da cidade do Porto, uma festa não-indie (com os californianos Abe Vigoda e os vilacondenses Evols).
É certo que (já se sabia) a maioria se decidiu pelos senhores da costa este (os MGMT), mas também é certo que os que se decidiram pelos da costa oeste (os Abe Vigoda) não ficaram mal servidos.
Para aqueles que escolheram o Queimódromo como plano A, nós contamos como foi no Plano B:
Esta edição do evento Isto não é uma festa indie, da Lovers & Lollypops, teve início com o trio de guitarras de Vila do Conde que dá pelo nome de Evols. Infelizmente, chegámos atrasados, mas consta que Carlos Lobo, França Gomes e Nuno Santos se deslocaram até ao Plano B para apresentar o longa-duração homónimo, tendo tocado Winter, Nova, Galaxie, Sea of Stars, I'm Too Young, Here Come the Waves e Walk to the Fire.
Depois, foi a vez de Abe Vigoda. Não do Abe Vigoda d'O Padrinho, mas dos Abe Vigoda da Califórnia (oriundos de Chino e a viver actualmente em Los Angeles) subirem ao palco e estrearem-se em palcos nacionais para mostrar a renovada sonoridade do seu quarto e mais recente trabalho de estúdio: "Crush", editado no ano passado pela Post Present Medium (E.U.A.) e pela Bella Union (Reino Unido). Com influências dos anos 80 e uma presença bastante mais óbvia dos sintetizadores (em relação a trabalhos anteriores), "Crush" foi considerado um dos 50 melhores álbuns de 2010, pela conceituada Pitchfork.
Michael Vidal, Juan Velazquez, David Reichardt e Dane Chadwick são os Abe Vigoda, uma das muitas bandas que frequentam o mítico The Smell, em Los Angeles, espaço de onde saíram nomes conhecidos do público portuense, como HEALTH (que tocaram na Casa da Música) ou No Age (que actuaram também no Plano B).
A setlist contou em grande parte com temas de "Crush" (2010), como: Dream of My Love (Chasing After You), Throwing Shade, November, Repeating Angel, To Tears, Pure Violence, Beverly Slope, We Have to Mask e Sequins; mas sem, no entanto, se esquecerem do anterior e muito diferente trabalho "Skeleton" (2008), tendo deste tocado dois temas: Bear Face e Skeleton.
Reportagem Norberto Lobo - Teatro da Trindade
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"Viajando com o Lobo"
Norberto Lobo é um mestre. Pata Lenta foi um disco magnífico, dono de uma capacidade de transportar o ouvinte pelos mais diversos ambientes e sentimentos, e o seu novo disco, Fala Mansa, consegue pelo menos ao ao vivo manter essa capacidade, mostrando ao mesmo tempo um músico que além de cada vez mais magistral no que faz, não tem problemas em experimentar e quebrar barreiras com (e no) seu instrumento.
Foi um Teatro da Trindade composto, mas longe de encher, o que recebeu o músico no concerto de apresentação deste novo disco. Na plateia, nomes da música nacional como Tiago Sousa ou Sérgio Hydalgo (programador da ZDB, e um dos maiores responsáveis pela descoberta nacional que tivemos com Norberto), todos esperando para ver novamente o guitarrista entrar em palco com o seu leme pelo qual iria conduzir a viagem.
Passam dez minutos das dez quando o músico entra em palco, com um sorriso sorriso e nenhuma palavra (pouco falaria, ao longo de toda a noite) e rapidamente se senta na cadeira que o espera, já com guitarra na mão. O que se viveu a seguir foi pouco mais de uma hora de uma pura viagem sonora, com Lobo a encantar e impressionar na forma como consegue, com aquele único instrumento, criar canções instrumentais tão arrebatadoras.
Vê-lo a dedilhar com a rapidez com que o faz é surreal, sendo por vezes impossível acreditar que estamos a ouvir apenas uma única e guitarra, e não várias, em constante hamonia. A forma como usa o instrumento mostra anos e anos de prática: conhece bem o som que cada cora, cada dedo faz. Não toca guitarran apenas, explora-a: não teme deslizar com os dedos pelas cordas deforma a criar um som que assenta na canção, nem de bater uma ou outra vez com o punho na madeira para criar um som ideal (uma técnica que Tó Trips, seu conterrâneo, usa muito mais). Camadas e camadas de sons, ou apenas o parecem ser. Norberto Lobo é apenas um homem com uma guitarra, mas o som que sai do palco parece digno de uma orquestra.
A impressão com que se fica é, desde já, da beleza enorme deste novo disco (que o músico tocou na íntegra). Há canções que nos transportam, efectivamente, para o campo (o disco foi gravado numa casa no Alentejo), e o ritmo de algumas é por vezes alegre, por vezes melancólico. Acima da criação de paisagens, Lobo cria sentimentos fortes e envolventes. É o mais belo da música instrumental: não há a voz para nos guiar, apenas o som e a forma como o interpretamos. Apesar de, desta vez, a voz do músico também ter sido ouvida, nos poucos momentos em que se dirigiu ao teclado; momentos menores que os restantes, que felizmente terminaram rapidamente.
É inexplicável a forma como toca, tão tecnicamente irrepreensível quanto artisticamente impressionante (estas são, afinal de contas, canções tão belas quanto tecnicamente impressionantes). Vê-lo sentado, de guitarra ao colo, é uma visão que ficará certamente marcada na memória dos presentes. Fala pouco, mas quando o faz transpira satisfação e timidez. “Obrigado por terem vindo ver-me em vez dos Tindersticks”, diz. “Também estive hesitante”. Quando alguém grita “Tu és melhor!”, os plausos enchem o Teatro.
Além das magníficas novas canções, passou ainda por uma ou outra do disco anterior. Ayrton Senna, claro, foi um dos momentos mais altos. Arrebatadora no seu ritmo energético e sensível, naquele dedilhar constante que encanta qualquer um. O novo disco foi rei e senhor, mas as passagens pelo disco anterior foram bem pensadas, relembrando o quão coerentes e igualmente bons são estes dois trabalhos.
No fim do corpo principal, viu-se o músico a sair do palco após uma estrondosa onda de aplausos, que colocou um sorriso na cara do guitarrista enquanto acenava ao público, colocando a mão sobre a testa para poder vislumbrar bem todos os presentes. Os aplausos continuaram até ao seu regresso, onde se ouviu apenas uma única música, terminada com o músico já de pé, a acenar com a cabeça, saindo do palco. As luzes acendem-se logo de seguida, oermitindo ver bem todos os presentes, de pé, aplaudindo o belíssimo concerto que se viu e, acima de tudo, sentiu. Afinal de contas, com Norberto Lobo não se ouve e vê apenas: viaja-se.
Com viagens sempre assim tão magníficas, o seu nome será certamente relembrado por muito, muito tempo, inscrito, como o de outro guitarrista ficou uma vez, nas paredes da nossa história...
Reportagem Josh Rouse - Santiago Alquimista
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Mais uma noite de concertos no Santiago Alquimista, palco que recebeu o intérprete americano Josh Rouse, músico que já conta com oito álbuns na sua carreira e que aproveitou a oportunidade para apresentar o seu mais recente esforço musical, ‘El Turista’, de 2010, tal como novos temas. A sonoridade despreocupada e solarenga do seu material serviu de um excelente pretexto para os lisboetas saírem de casa numa noite quente de Domingo e, apesar de não ter enchido a sala de espetáculos, Rouse acabou por dar um concerto intimista a um público que já o conhecia e que o recebeu de braços abertos.
A viver em terras espanholas desde 2005, não foi de espantar que Josh Rouse se fizesse acompanhar por três talentosos músicos espanhóis, que ocuparam prontamente os lugares da bateria, baixo e guitarra acústica. Porém, o foco da atenção do público foi sempre o americano, que encantou com o seu humor seco e boa-disposição – “Ainda bem que vieram hoje, bem sei que ao Domingo há muitos programas bons na televisão” – ao longo de um concerto agradável, se bem que um pouco curto.
Abrindo com ‘I will Live on Islands’, as melodias pop/folk com influências variadíssimas, como bossa nova, jazz e o ‘sabor’ latino que facilmente se detecta, dos trabalhos do artista desde logo envolveram o público num ambiente tão quente como os melhores dias de Verão. Este tema veranil é, de facto, proeminente na maior parte do trabalho de Rouse, tanto em ‘Sunshine’ e ‘Summertime’, de Subtitulo e 1972, respectivamente, como na nova ‘Oh, Look What The Sun Did’ – tanto que não é difícil imaginar o compositor e intérprete americano a tocar guitarra, com uma bebida gelada por perto, ao pé da piscina, em Valência.
E foi mesmo com ‘Valência’ que o público se começou verdadeiramente a manifestar, dançando despreocupadamente ao som da canção suave e aprazível. Rouse, soando a uma mistura de Jeff Tweedy e Paul Simon, foi entretendo a hoste, pedindo que esta cantasse e se aproximasse do palco e no geral, é difícil de dissocia-lo de uns Wilco solarengos do Mediterrâneo ou mesmo de um Devendra Banhart muito mais folk e muito menos freak. De qualquer maneira, é com gosto que se ouve o material de cunho próprio do americano, que cada vez se liberta mais na sua própria pele.
Por volta do primeiro encore, com ‘Summertime’ e ‘Love Vibration’ já todos se levantavam para pedir mais – no entanto, o concerto foi um pouco curto, contando apenas com a doce e calma ‘Life’, no final.
Não é estranho em terras lusas, no entanto, é sempre um prazer tê-lo de volta...
...e esperemos que volte depressa.
- I will live on Islands
- Lemon Tree
- Sweet Elaine
- Las Voces
- Lazy Days
- Sunshine
- Hollywood Bass Player
- His Majesty Rides
- Flight Attendant
- Winter in the Hamptons
- Oh Look What The Sun Did
- Valencia
- Comeback
- It’s the night time
- – 1972
- Summertime
- Love Vibration
- – Life