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Reportagem SBSR 2010 - 17 de Julho
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Continua a música e o bom tempo no segundo dia da 16ª edição do Super Bock Super Rock, festival alojado no Meco que continua a prometer ‘sol e rock’n’roll’ aos que o frequentam. Neste segundo dia, actuaram alguns dos nomes mais esperados, como Vampire Weekend, Hot Chip ou mesmo Patrick Watson, numa edição que compensa alguns dos pontos negativos de organização com o bom cartaz.
Começamos novamente com os segundos vencedores do Super Bock Super Rock Preload, o concurso da marca para escolher as bandas portuguesas mais promissoras e levá-las ao palco do festival. Os Malcontent são do Porto e iniciaram o dia 17 com um concerto morno no palco EDP. Seguiram-se-lhes os Sweet Billy Pilgrim, músicos ingleses que misturavam sonoridades tão diferentes como o country e o rock com toques de progressivo de forma bizarra, porém, inócua. A banda de 4 membros tentou atrair as pessoas para a frente no palco secundário, no entanto, devido a uma das maiores falhas desta edição, não o conseguiram, pois o palco era destapado por trás e, logo, tocavam contra o sol que inundava a maior parte da zona da plateia, obrigando as pessoas a dispersarem pelas sombras.
Nome conhecido por terras lusas, Tiago Bettencourt, conjuntamente com Mantha, tocou o seu set num palco principal muito mais composto, como era de esperar. Este passou por algum dos temas mais conhecidos desta colaboração, que já conta com dois álbuns, como "Jardim", e até alguns temas dos Toranja, antiga banda do cantor, como "Laços". Um concerto simpático, com menos substância, que soube entreter os que esperavam pelo vocalista da banda nova-iorquina muito conhecida que se seguia.
Entretanto, Holly Miranda espantava com a força e timbre da sua voz do outro lado do recinto. Num concerto intimista e poderoso, a cantora, acompanhada pela sua contida banda, tocou alguns dos seus temas do recém-editado The Magician’s Private Library. Uma mistura de influências de Otis Redding e Nina Simone a Jeff Buckley e Radiohead que, apesar de eficaz, padeceu por ser um pouco repetitiva.

Seguiu-se a desilusão deste segundo dia, por diversas razões, algumas que escapam a nossa compreensão. Julian Casablancas, também vocalista dos nova-iorquinos The Strokes, encurtou a sua apresentação a solo em Portugal por uns bons 20 minutos, apresentando apenas uma mão cheia de temas de Phrazes for the Young e três dos esforços Strokeanos, como "Hard to Explain" e "Automatic Stop". Porém, os temas que realmente interpretou perderam a dinâmica ao vivo, talvez um pouco pela existência de problemas de som e pelo desempenho algo trapalhão de Casablancas. Não se ficou a perceber a razão da sua saída precipitada e os seus fãs ficaram a pedir mais.
Outro nome da cena alternativa portuguesa, Rita Redshoes, actuou por volta das 21:40 no palco EDP. Sem os seus sapatos vermelhos, a intérprete portuguesa ofereceu um concerto que pretendia, acima de tudo, entreter. Dançando ao longo da música, a cantora balançava o seu charme e graça natural com uma sensualidade crescente na apresentação dos novos temas de Lights & Darks, que se aproximam mais da estética de Paulo Furtado do que a de David Fonseca, o seu quase ‘mentor’ musical. A nova "Captain of My Soul" foi muito apreciada, no entanto, "Choose Love" e "Dream on Girl", temas de Golden Era, foram as mais aplaudidas do set de Rita Pereira.
A electrónica volta a marcar passo com os Hot Chip que, na opinião geral, foram uma das surpresas da noite. À primeira vista, ninguém diria que este conjunto de músicos produz pop electrónico que poderia perfeitamente ser tocado na pista de dança, no entanto, apesar da aparência séria dos artistas, estes parecem fazer bater o pé como ninguém. A banda americana apresentou no Meco vários temas do seu álbum One Life Stand e entusiasmou as hostes de tal maneira que estas se apresentavam excessivamente entusiastas, saltando, de braços no ar, aproveitando cada momento. "Over and Over", "I Feel Better" e "Ready For the Floor" foram alguns dos destaques de um concerto extremamente coeso e tecnicamente quase perfeito, que levou ao êxtase musical de muitos fãs e que até converteu quem não estaria muito impressionado, de início, com os artistas.
Os que preferiam algo mais calmo à quase histeria electrónica da banda supramencionada tinham a oportunidade de ver o intérprete canadiano Patrick Watson, na sua terceira estadia em terras lusas. Apesar de ter consideravelmente menos audiência do que Hot Chip, o artista, acompanhado pelos Wooden Arms, ofereceu um belo e único concerto aos que acompanhavam as estranhas melodias intercaladas com o moderado caos musical dos performers. De facto, é de destacar o talento e a versatilidade deste artista, que torna cada actuação numa experiência única e envolvente, deslizando pelos temas de Close to Paradise e Wooden Arms sem dificuldade e de pulmões cheios — "Fireweed" soou assombrosa e arrepiante com o fundo ardente das chamas do vídeo que passava por trás, já "Drifters" apresentou-se tocante e sentimental e "Man Like You" impressionou, enfatizada pela voz característica do artista. Watson, sempre bem-disposto, nunca deixou de agradecer aos seus fãs que o receberam sempre com tanto apreço e, em jeito de retribuição, tocou até "To Build a Home", tema que partilha com os The Cinematic Orchestra e que constitui um dos seus pedidos mais frequentes nas suas actuações.
Cabeças de cartaz algo improváveis, pode-se dizer que os Vampire Weekend excederam as expectativas gerais de uma plateia de quase 24 mil espectadores. A despreocupada banda nova-iorquina soube trazer o travo de pop afrobeat ao indie rock de marca Pitchfork, mais suavizado e maturo no seu segundo esforço, Contra, da melhor maneira, envolvendo os inúmeros espectadores com jovialidade. Os meninos bem do indie mostraram que são capazes de entusiasmar e entreter tanto com os diversos temas do primeiro lançamento homónimo, tanto com os temas do álbum que lhe seguiu. Os festivaleiros acabaram por se render a "Cape Cod Kwassa Kwassa", "A-Punk" e "Horchata", tal como a "Cousins" e a "Giving Up The Gun", esta última que conta com inúmeras celebridades no seu videoclip, como os Jonas Brothers e Jake Gyllenhaal. No entanto, o foco do set dos nova-iorquinos estava mesmo na plateia: Ezra Koenig, vocalista e líder dos artistas, demonstrou várias vezes o seu espanto pela recepção dos portugueses (“Não me quero ir embora!”), que se entretinham a mover os seus corpos aos ritmos e melodias alegres. É assim que se prova a eficácia dos Vampire Weekend, que renderam as hostes à aprimorada e simples estética musical dos artistas.
Por fim, o duo electrónico Leftfield encerrou este dia de festival, oferecendo aos resistentes um set coeso de temas dançáveis. Para os menos duros, o último dia de festival espera-os, com a actuação do lendário Prince.
Foto: Ana Limas
Reportagem SBSR 2010 - 18 de Julho
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A 16ª edição do festival Super Bock Super Rock teve o seu desfecho ontem (dia 18), totalizando, assim, três dias de concertos na Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco. Apesar das múltiplas queixas, especialmente dos que decidiram acampar, como a falta de luz, o pó, o estado do terreno e a má acessibilidade, a organização do festival soube juntar um cartaz que agradou a muitos, que, pelo amor à música, suportaram todos os malefícios. Este foi o dia de Prince, The National e John Butler Trio, entre outros, agitarem as hostes.
Foi Jorge Palma e o seu super grupo que deu uso, em primeiro lugar, ao palco principal. Tanto a sua prestação, que roçava o cómico, como os êxitos do eloquente intérprete português ("Encosta-te a Mim" sendo o mais celebrado por um público mais jovem), contribuíram para a moderada diversão de quem o assistia, a meio da tarde. Um pouco depois, os lisboetas Stereo Parks, os terceiros vencedores do Super Bock Super Rock Preload, pouco aqueceram o palco secundário com a sua música previsível e escassamente original, com as influências do costume do indie rock.
Os galeses Stereophonics, apesar de também carecerem de originalidade, fazendo lembrar Oasis e The Beatles alternadamente, mostraram uma grande qualidade técnica ao vivo, face a um público que (ainda) pouco reagia. Kelly Jones, voz e líder do conjunto, de tudo fez para aliciar o público a mexer-se, incitando palmas e berros, mas só o conseguiu a vociferar os êxitos chorudos "Maybe Tomorrow", "Have a Nice Day" e "Dakota" da banda britpop.
Pouco depois, os The Morning Benders deram um concerto bem simpático para quem os assistia no palco EDP. Apresentando o recém-editado The Big Echo, Chris Chu e a sua trupe passaram por "Excuses" e "Promises", entre outros, temas que suscitaram o carinho dos fãs atentos que os seguiam em palco. Um exemplo de uma banda indie pop bem conseguida, na onda de Local Natives e Surfer Blood.

Apesar de os Spoon terem de partilhar a atenção do público com a avioneta telecomandada que sobrevoava o palco Super Bock, estes abriram mão dos grandes temas do seu historial, marcados sempre por uma imprevisibilidade experimental e inconstância de influências musicais. "The Way We Get By", "The Underdog" e "Don’t You Evah" foram alguns dos apresentados, tal como as novas "Got Nuffin", "Is Love Forever?" e "Transference", todas capazes de fazer bater o pé aos ritmos groovy da banda texana. No entanto, o público continuava pouco entusiasmado, porventura por esperar o grande nome que se seguia.
Ficámos impossibilitados de ver Wild Beasts, que tocaram praticamente sobrepostos aos Spoon, algo que acontece com a existência de dois palcos que recebem artistas ao mesmo tempo. Porém, já era de noite quando os The National foram recebidos com o entusiasmo e o delírio que só uma banda de culto pode suscitar – fãs incondicionais dos americanos debatiam-se para chegar às filas dianteiras e bradavam o seu afecto. Sombrios e sóbrios de aparência, a banda fez-se acompanhar por dois elementos nos instrumentos de sopro que trouxeram uma maior profundidade aos temas solenes e por vezes melancólicos dos artistas. "Mistaken for Strangers", "Fake Empire", "Slow Show" foram alguns dos temas de Boxer que Matt Berninger interpretou, de punhos ao peito, com um sentimentalismo afectado, mas os "England", "Anyone’s Ghost" e "Terrible Love" de High Violet não lhes ficaram atrás. Um concerto de crescendos emotivos que culminou na belíssima "About Today", confirmando-se a inegável qualidade da banda americana que fez apaixonar os inúmeros amantes da música.
Seguiram-se duas actuações no palco secundário, que preencheram o enorme intervalo que precedia a actuação de Prince. Sharon Jones e os Dap Kings deram um concerto formidável de funk e soul, que fez inveja a muita gente. Jones, rainha do movimento revivalista destes dois géneros musicais, não parou quieta e parecia igualável a grandes senhoras como Aretha Franklin e Ella Fitzgerald. Os temas de I Learned the Hard Way foram os mais contemplados num concerto energético, que subiu a fasquia para os músicos seguintes.
Os John Butler Trio, muito conhecidos e adorados em Portugal, deram um concerto que se adequou perfeitamente à onda do festival: sol, descontracção e ‘boas vibrações’. O blues rock com travo a reggae e roots era a máxima e o trio australiano proporcionou bons momentos de qualidade ao público português, que o apreciou ao máximo. "Better Than" e "Used to Get High" foram alguns dos destaques de um concerto harmonioso.
Pouco passava da meia-noite e já o nome de Prince era entoado pelo público de quase 32 mil pessoas, que sufocou os acessos ao recinto, tal foi a sua adesão. A hora do funk começou quando o artista entrou em palco, pedindo de imediato a participação dos fãs em "Delirious". A energia e boa disposição de Prince foram norma num set que passou por alguns dos seus melhores momentos musicais, daquela que é uma das maiores estrelas dos anos 80. Este empunhava a sua guitarra em floreados poderosos que marcavam o passo, dançando com o seu coro e recusando-se a que o público português parasse – este clamando as letras de grandes êxitos, como "1999", "Let’s Go Crazy", "Cream" e "U Got The Look". Numa mútua adoração, o artista pedia e os fãs cumpriam, quer a saltar, quer a entoar as melodias conhecidas. Entre falsetes e piruetas, Prince acabou por se ausentar durante uns minutos para mudar de vestuário, seguindo-se um dos momentos mais esperados do concerto: a entrada da fadista Ana Moura em palco, a grande admirada do cantor. "A Sós com a Noite" e "A Casa da Mariquinhas" mostraram a potência vocal da cantora, visivelmente satisfeita por lá estar, e a destreza musical de Prince na guitarra. Inesquecível, tal como as duas canções mais pedidas, tocadas entre exclamações de adoração ao povo português e referências religiosas. "Kiss" levou ao delírio dos fãs e "Purple Rain" impressionou com o grande coro do artista mundial. O lendário cantor acabou por se despedir com "Dance (Disco Heat)", pondo fim a um dos melhores concertos do festival e a grande prova da imensa qualidade musical do artista. Prince Rogers Nelson, de 52 anos de idade, prova-se mais do que apto para oferecer um concerto colossal.
Por fim, o desfecho do festival ficou a cargo dos Empire of the Sun, que conjugam a música electrónica com um teatralismo cénico, provido de bailarinas, projecções e fatos excêntricos e coloridos. Apesar de uma parte visualmente mais rica do que propriamente a musical, os australianos conseguiram entreter os que restavam após o grandioso concerto de Prince.
Fica assim um balanço do evento que, apesar das péssimas condições de acampamento e algumas falhas da organização, conseguiu trazer vários nomes de interesse ao Meco. Esperemos que, na próxima edição, estas sejam repensadas e ajustadas para ajudar a aumentar o bem-estar e conforto dos festivaleiros num dos eventos de ‘peso pesado’ da música ao vivo em Portugal.
Foto: Ana Limas
Reportagem Super Bock em Stock 2010
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Festival Super Bock em Stock - Fotos
Apesar de o frio ser muito, a adesão não ficou àquem das expectativas, movendo-se as massas lisboetas para ver hoje nomes como Owen Pallett, Kele, Zola Jesus ou mesmo Wavves.
Jorge Palma é um dos artistas que iniciam a noite de espectáculos, actuando na estação de metro do Marquês de Pombal. O poeta português, de cigarro na boca, não foi recebido por uma grande audiência, talvez por ainda ser cedo, no entanto, não deixa de entretê-la com alguns dos grandes temas da sua carreira, como Lobo Malvado, Frágil e O Bairro do Amor. É um rock de intérprete simpático e eloquente, do qual ninguém se poderá queixar.
À superfície, o BES recebeu Tiago Bettencourt em Fuga pelas 21h00. O espaço enchia perante um palco onde se ouviram temas como A Chaga dos Ornatos Violeta e Sentir o que Eu Senti. O artista confessou ter esperado que o público estivesse sentado em cadeiras e por tal não se ter concretizado, os seus planos teriam de ser reajustados.
Seguiram-se temas como O Jogo e o local quase apinhado presenciava um constante “entrar e sair” de pessoas, comum a todos os concertos deste festival peculiar.
Entretanto, na sala 2 do São Jorge, os The Shoes davam início a um dos concertos com mais energia do festival. Os franceses encheram a sala com o seu humor, aliado aos seus ritmos viciantes, perante um público entusiasmado e pronto para dançar. Temas como Stay the Same fizeram o espaço tremer mas o auge da festa estava guardado para os últimos dois temas: People Movin’ e Amerloque.
A banda tem vindo a ganhar mais e mais protagonismo e ficou registada por todos como uma banda a seguir, sem dúvida alguma.
Com o cancelamento dos franceses Adam Kesher, o Maxime era todo dos Pinto Ferreira. Essa apropriação de espaço foi tomada literalmente, a dupla “Pinto” e “Ferreira” – assim indicavam as suas identificações - apresentou-se ao balcão do bar do Maxime, de guitarra e assobio em riste, rodeados por uma casa bem apresentada, à medida que se iam deslocando para o palco-estrado onde se encontrava o terceiro membro (à bateria), do trio que de nome parece ser uno. Os três, em conjunto com o público que trocou, pelo menos, o início de Owen Pallet umas salas mais acima, fizeram soar Violino no Telhado, primeiro single dos lisboetas.
Já no Tivoli, o acanhado Owen Pallett dá ares da sua graça. O espectáculo do canadiano é um autêntico one man show: é de admirar como um só homem articula o violino, o teclado e os pedais com uma perícia e cronometragem formidáveis, quase fazendo esquecer que é apenas um e não algo como um quarteto de cordas. Ao público português isto certamente não escapa, pois o canadiano é prontamente aplaudido em todos os devidos momentos, deliciando com o rodopio harmonioso dos seus instrumentos.
Abrindo com The CN Tower Belongs to the Dead, Pallett não hesita e não gasta tempo, lançando-se num coeso e variado set que incluía tanto temas de “Heartland” (2010), como Midnight Directives e Lewis Takes off His Shirt, tal como do novo EP “A Swedish Love Story”, como Don’t Stop e A Man With No Ankles. No entanto, o intérprete não esqueceu temas do projecto Final Fantasy: a fantástica This is the Dream of Win and Régine, inspirada nos músicos de Arcade Fire, e This Lamb Sells Condos, talvez um dos temas mais célebres do artista. No ambiente intimista do Tivoli, Owen Pallett soube encher tanto a sala como as expectativas, mostrando, novamente, que, acima de tudo, é um grande compositor.
Enquanto que a sedutora Adriana entretém os lisboetas com sonoridades pop, jazz e bossa nova, é o autor do ‘folque(lore)erudito’ que enche a Sala 1 do São Jorge. B (fachada), B de Bernardo, é talvez um dos intérpretes portugueses que maior ascensão tem tido nos últimos tempos, algo espelhado na aderência entusiasta do público lisboeta. O multi-instrumentalista artista é brincalhão e transborda de auto-confiança, trazendo um cunho muito próprio às suas músicas calmas, quase choradas por vezes, de letras num português pouco ortodoxo.
Apesar de acompanhado por contra-baixista e baterista, é na participação de Sérgio Godinho que o concerto de B (fachada) ficou a ganhar. O peso pesado da música nacional portuguesa empresta a voz e algumas músicas a B (fachada), como Lisboa que Amanhece e Etelvina, e é na união da dupla que ressalta a harmonia de dois talentos que não têm assim tanto de diferente. Tirando colaborações, é na apresentação de alguns dos temas do novo esforço "B Fachada é Pra Meninos" que o público pede por mais. O português atendeu a pedidos e garantiu um concerto agradável.
A subir a avenida, podíamos ouvir o autocarro onde os Kumpania Algazarra faziam jus ao seu nome enquanto faziam descer a festa.
A fechar o BES Arte para esta noite, Hollywood, Mon Amour (a julgar pelo repertório apresentado, baseados nos Duran Duran), foram os espanhóis escolhidos. As interpretações em modo mais romântico de clássicos como Cat People de David Bowie, Eye of the Tiger, When Doves Cry de Prince (que a banda esperou ouvir do lado do público), Deep Dish, e Vangelis e Ghost Busters para o encore, deixaram a avenida bem impressionada, apesar da dificuldade no sing-along. Com trajes e expressões corporais mais ou menos provocantes, demonstraram uma simpatia a que não estamos muito habituados por parte dos nossos vizinhos. As duas vocalistas vieram suportadas por uma banda bem treinada. Trancou-se assim a porta do BES até ao dia seguinte.
Quem se atrasou para o S. Jorge, já dificilmente conseguiria entrar em qualquer uma das salas. Para Lars & The Hands of Light fazia-se fila como se fosse sala principal, e ia-se sustituindo o público enquanto aqueles cuja curiosidade já estava satisfeita, iam saindo da Sala 2. A sala foi dançando por entre Keep My Feet Tagging Along, Me Me Me – sobre mim, sobre ti, sobre nós e os outros – e Three to the Floor. Os dinamarqueses souberam justificar o porquê de terem deixado pessoas à porta, e também eles fecharam a da Sala 2, enquanto os Spokes começavam a dar os primeiros acordes, uma sala acima.
No terraço do Hotel Tivoli, espera-nos uma pequena surpresa com os Spokes, banda inglesa que se dedica ao post-rock. Belas harmonias dedilhadas por guitarras eléctricas, em crescendo até finais apoteóticos e, por vezes, apesar da maior parte do seu material ser instrumental, letras meio cantadas por vozes emotivas. Com o segundo álbum quase a sair, "Everyone I Ever Met", os Spokes dão um concerto agradável, apesar de encafuados no canto da sala do terraço do hotel. É certo que pouco ou nada acrescentam a um género musical que já há muito estagnou, mas não deixam de ser algo encantadores.
Para fechar o Tivoli, o escolhido foi Kele. Apresentações dispensadas, o britânico trouxe boa-disposição e o seu primeiro álbum a solo, “The Boxer”. A sala estava apinhada e as cadeiras eram dispensadas. A festa durou o concerto todo e temas como os Everything You Wanted, On the Lam e Tenderoni (com o cantor a percorrer o corredor da sala de uma ponta à outra) foram alguns dos temas predilectos do público. Os fãs ainda tiveram direito a um medley de Bloc Party, remisturado por Kele, composto pelos temas Blue Light, The Prayer e One More Chance.
Flux, também de Bloc Party, antecedeu o encore, onde não se ouviram mais temas do artista. Tivemos antes direito a uma belíssima cover de Goodbye Horses de Q Lazzarus, que lhe valeu um elogio de Owen Pallett via twitter, artista que Kele também elogiou durante o concerto pela sua actuação. Para o fim ficou um dos temas mais marcantes da sua anterior banda, This Modern Love. Palavras não chegam para descrever o que se sentiu naquela sala durante aquele momento.
A quem não agradassem os primeiros 15 minutos da brilhante actuação do vocalista dos Bloc Party, podiam atravessar a rua até ao S. Jorge, onde Zola Jesus actuava. Praticamente sozinha no palco, para além do seu companheiro nas teclas/sintetizadores, a pequena e loira artista tem espaço para dar alma ao seu material sombrio de electropop. É realmente incrível reparar na voz imensa que Nika Roza Danilova tem, forte, poderosa e reverberante, que, acompanhada pelas batidas electrónicas dos sintetizadores, lançam um ambiente estranho na sala de espectáculos.
Normalmente associada a artistas como Fever Ray e The XX, a artista americana de apenas 21 anos veio apresentar o álbum “Stridulum II”, deste ano, e lança-se num set mais curto do que o esperado (cerca de 40 minutos, em vez da hora prevista), com destaques em Sea Talk e Night. Apesar do claro entusiasmo dos fãs nas filas dianteiras, é de notar que este projecto de Zola Jesus funciona bem melhor em disco, onde a voz de Danilova não está desprovida de efeitos sonoros e, portanto, onde a atmosfera etérea e sombria dos Zola Jesus tem mais espaço para se afirmar.
Mais um nome de electrónica no primeiro dia do Super Bock em Stock: desta vez foram os The Hundred in the Hands a inaugurar o palco do parque de estacionamento do Marquês de Pombal. Munidos de electropop contagiante, Jason Friedman, na guitarra eléctrica, e Eleanore Everdell, nas teclas, põem os que se arriscam a chegar à frente a mexer-se, num concerto que não foi memorável, mas soube antecipar bem a chegada dos Wavves. O primeiro esforço, homónimo, já serve de plataforma para esta dupla que, apesar de carismática em palco, mostra alguma falta de substância.
A terminar um grande dia, o calor tórrido da Garagem Vodafone acolhia agora Wavves. Poucos foram os que de lá saíram, até porque os californianos foram a banda escolhida para encerrar o dia. A longa fila fazia-se desaparecer no chão, enquanto se descia pelo pequeno corredor até ao piso -1.
Ainda Nathan ajustava os últimos pormenores, e já o público cantava. “Isto é apenas o soundcheck, ainda não é o concerto”, dizia ele. Pouco lhe adiantava tratar do som, porque só quem conseguiu ficar minimamente em frente ao palco conseguiu ter uma boa percepção do que se cantava, a juntar ao eco utilizado pelo vocalista, o som perdia-se a meio da garagem. Não foi impedimento para um bom espectáculo.
To the Dregs deu início à loucura, e como King of the Beach vinha no bolso das sweat pants de Nathan, foi a música homónima e Idiots deixaram o álbum recém-saído já introduzido. Post Acid era mais que pedida já a esta altura, mas ainda estava para vir. Quem os viu na Galeria Zé dos Bois mais ou menos por esta altura do ano passado gritava “Satan”, à memória de brincadeiras lançadas pelo baterista que não os acompanhou neste concerto, Jacob Cooper dos The Mae Shi. Wavves pos fim ao gozo de que até a banda se lembrava. Seguiu-se Friends Were Gone, enquanto o baixista que acompanhou Jay Reatard parecia levar socos invisíveis. No Hope Kids e Super Soaker fizeram uma boa combinação. Pelo meio, ao contrário do ano passado em que eram requisitadas substâncias ilícitas, pedia-se um cinto para o tour manager. Beach Demon e Linus Spacehead fecharam a primeira parte. Insatisfeitos pela falta de Post Acid, ninguém arredou pé, até voltarem os três em palco para um fim de noite brilhante. So Bored e Post Acid – evidentemente – foram as duas malhas escolhidas para abandonar aquele calor de verão que se sentia no subsolo. A banda que já contou com Zach Hill na bateria e cujos desentendimentos e re-formações são mais que conhecidos mostrou-se agradada com o fim da sua tour em Lisboa. Espera-se que em menos de um ano voltem a terás lusas.
Acaba em festa o primeiro dia de um dos únicos festivais de Inverno, num recinto peculiar. Cansados, os lisboetas (e tantos outros que rumaram de outras cidades) encolhiam-se perante um frio gélido.
Mais uma noite de concertos no Festival Super Bock em Stock. Neste segundo dia, os festivaleiros foram um pouco mais infelizes com o tempo, sendo confrontados com chuva, por vezes intensa, da noite de Inverno lisboeta. Porém, nada os demoveu de se deslocarem livremente para verem nomes como Junip, Linda Martini e a grande cabeça de cartaz desta noite, Janelle Monáe.
Mais uma vez, começamos a viagem na estação de Metro do Marquês de Pombal, pelas 21h, com Márcia a actuar. A cantora trouxe os seus doces temas ao subsolo e encantou com a sua voz. Uma das mais recentes revelações do panorama musical, Márcia fez valer o seu lugar na edição deste ano do festival.
Pela mesma hora, o BES acolhia Vicente Palma e todo o público que continuava a encher o espaço. Temas como “Véu” e “Névoa” foram tocados e a música nacional mostrou que ainda tem muito talento para dar.
Seguimos a ronda do festival com um fado muito especial: Lula Pena, de guitarra nos braços e copo de vinho no chão, deu uma actuação intimista e envolvente no terraço do Hotel Tivoli. Cantando maioritariamente em português (às vezes até com sotaque brasileiro), Pena embalou os muitos lisboetas sentados com canções tristes e sombrias, ‘phados’ acústicos de um cunho muito próprio. Foi, certamente, um dos destaques deste segundo dia.
Nuno Prata, ex-membro dos míticos Ornatos Violeta, tomou conta do palco do Maxime antes de o caos lá se instalar, mas lá para o fim da noite. Num concerto com músicos competentes e bem ritmados, ficou apresentado o recém-lançado “Deve Haver” a uma sala recheada de público que não os trocou por Lula Pena. As músicas quase de carrossel deixaram o glamoroso espaço de sorriso na cara.
Numa onda musical semelhante à que se sentia no Tivoli, passamos para a Sala 2 do Cinema São Jorge, onde os Domingo No Quarto actuam. Constituídos pelos multi-instrumentalistas Manuel Dordio e Mariana Ricardo, os Domingo no Quarto dedicam-se à música samba acústica e cantada de forma suave. Homenageando desde Chico Buarque até Cartola, os portugueses deram um concerto agradável aos que faziam tempo para ver Junip.
Um dos nomes mais esperados deste festival, Junip, preparava-se para actuar no São Jorge. Mais conhecidos pelo seu vocalista, José González, a banda sueca regressou em 2010 com um álbum novo, Fields, quase cinco anos depois do lançamento do primeiro EP. Este novo esforço foi tema principal de um concerto lotado, onde o folk sereno e a influência da música electrónica se juntaram para formar uma harmonia distinta e interessante, enchendo os ouvidos de um público arrebatado.
Os cinco elementos, muito aplaudidos, distribuem-se pelo palco do cinema São Jorge, mas é em González, tímido e subtil intérprete, que recai o foco das atenções. É notável a influência que o próprio artista tem sobre o trabalho da sua banda, uma vez que esta não se afasta muito da sonoridade do seu repertório a solo. No entanto, é nos seus companheiros de banda que se estabelece a profundidade de um som que, não sendo espectacular, é único. ‘Tide’, ‘Always’ e ‘Sweet and Bitter’ foram alguns dos temas que provocaram considerável entusiasmo nos portugueses, tanto que, face ao pedido, a banda volta para tocar ‘Without You’, já no encore. Para relembrar.
Ao mesmo tempo, do outro lado da estrada, a noite ia a meio, e o Tivoli encheu-se de ritmos africanos quando os Batida pisaram o palco. Poucos foram os que conseguiram resistir à boa disposição espalhada pela banda de Luanda, que teve em palco uma bailarina que mostrou a todos a alegria das danças africanas. Houve apitos em palco e por entre a multidão, que não pararam de tocar durante a actuação, a pedido da banda.
Após várias aparições em palco para fazer soundcheck, Eliot Sumner, mais conhecida como I Blame Coco, entra em palco por volta das 22h45 perante um público desde curioso a fãs devotos. O seu set não passou muito para além do normal, tocando algumas canções que muitos desejavam ouvir tais como ‘Please Rewind’ ou ‘In Spirit Golden’. “This is our last show of the year, thank you so much!”, diz num tom rouco, característico da sua voz, dando continuidade ao seu set. A cantora presenteou os lisboetas com uma cover de Fleetwood Mac, tocando ‘The Chain’, seguido do grande momento da noite, ‘Ceasar’, sem contando com a presença de Robyn. Foi, decerto, um momento bem passado, ao som de etéreos sintetizadores e guitarras que muitos não esquecerão.
Pouco depois de Jono McCleery encantar com a sua mistura de folk e soul no terraço do Hotel Tivoli, chega a altura do concerto da noite. Num Tivoli completamente lotado, com muitos festivaleiros a ocuparem todos os espaços livres, a antecipação já era muita, até que, pouco depois da meia-noite, as luzes apagam-se. Entra um porta-voz da banda, um senhor que, com discurso grandioso na ponta da língua e muita técnica de show business, afirmou que ‘Tonight, we’re going to make history!’. Podemos dizer que o que se passou nos 75 minutos seguintes certamente ficarão na memória de quem assistiu ao concerto da miss Monáe.
Entretanto, Marcos Valle deixava muitos ansiosos à porta da Sala 2 do S. Jorge, com um ligeiro atraso que não demoveu quem por amor estava à espera do brasileiro quase dono da Bossa Nova.
No autocarro, as placas que liam “É obrigatório todos os passageiros viajarem sentados” não fazia sentido. Tão pouco o fazia o sinal luminoso de STOP. Os Youthless tomaram conta de um palco que pareceu perfeito para eles. A banda dona de Good Hunters, filmada dentro de uma carrinha, revivem agora a experiência, mas desta vez com cerca de 50 pessoas dentro de um autocarro cuja suspensão deve ter gritado avenida abaixo. Incentivados por Alex, quem entrou no autocarro era obrigado a mexer-se, a saltar e a fazer inveja a quem estava lá fora ao frio. Quatro sets ao longo da noite, demasiado curtos, podíamos ter dado a volta à cidade aos saltos e seria pouco. Monsta é sem dúvida das músicas mais divertidas, e a mais requisitada (pelo menos na viagem que fizemos). A banda teve direito a Bus Surfing e a pessoas penduradas no tecto. Sem dúvida um dos melhores da noite.
Para quem apenas se lançou no mundo da música há três anos, Janelle Monáe tem o seu espectáculo ao vivo pensado até ao ínfimo pormenor, desde a indumentária aos confettis, balões e até pintura de quadros. Em ‘Overture’, passa um vídeo introdutório que explica o conceito por detrás de The ArchAndroid, o seu primeiro álbum datado do ano presente, que envolve um cenário futurista de opressão de andróides. ‘Dance or Die’ anuncia a entrada da artista e de um grande número de dançarinos, todos vestidos de preto e branco, que se bamboleiam ao ritmo da música – evocando um quase delírio do público, que é incitado prontamente a dançar e a saltar. A festa está feita: ‘Faster’ and ‘Lock Inside’, tocadas quase imediatamente a seguir, demonstram a versatilidade de Monáe e dos músicos que a acompanham, passando por energéticos temas de r&b, soul e funk, pautados pela fantástica voz da norte-americana.
Apesar de um grande leque de influências clássicas, como James Brown, Michael Jackson, David Bowie e Stevie Wonder, o repertório de Monáe é bastante coeso e actual, demarcando-se no universo do hip hop e r&b. São músicas como ‘Wondaland’, onde o pop é a força maior, e ‘Mushromm & Roses’, onde o rock psicadélico à la Beatles domina, que mostram o ecletismo de uma artista que, ao juntar uma miscelânea de estilos, constrói o dela de forma assumida e confiante. É, então, a qualidade musical aliada à forte presença em palco que tornam o espectáculo de Janelle Monáe em algo digno de ser visto e revisto.
Apesar de pouco comunicativa, a norte-americana nunca deixa de incitar o público, que prontamente atende a todos os pedidos. É em êxtase que todos ficam após a junção dos explosivos ‘Cold War’ e ‘Tightrope’, os grandes singles da carreira da artista. Quase já no fim, é com ‘Come Alive (War of the Roses)’ que Monáe se despede, irrompendo pela apertada multidão para sussurrar os seus versos. Arrebatadora e fascinante, é como se pode descrever uma artista que já tem mais do que pés para andar.
Dado o cancelamento dos britânicos Fujiya & Miyagi, para muita pena nossa, seguimos para o penúltimo concerto da noite, o dos portugueses Linda Martini. Começando fenómenos de culto, passando para um sucesso que raramente se vê em bandas portuguesas, os Linda Martini são, decerto, ídolos da juventude. Era com muita antecipação e entusiasmo que dezenas de jovens se debatiam nas filas dianteiras, à espera dos rockeiros que vêem em Sonic Youth a sua maior influência.
O início da explosão sónica deu-se com ‘Elevador’ e ‘Mulher a Dias’, temas do segundo álbum, Casa Ocupada (2010), que vê uns Linda Martini mais sombrios e etéreos. André Henriques, vocalista e front man da banda, vocifera as letras de maneira emotiva, apenas para as ter espelhadas nas bocas do público, com tamanha adoração que o ambiente da garagem do Marquês de Pombal se torna electrizante. Intercalados com os temas novidade, vêm as pérolas de Olhos de Mongol que todos conhecem de uma ponta à outra: a sequência de ‘Efémera’, ‘Dá-me a tua Melhor Faca’ e ‘Cronófago’ levam o público ao rubro, no entanto, é na choruda ‘Amor Combate’ que se ouvem os choros de um público arrebatado e apaixonado.
Saúda-se o crescimento instrumental evidenciado nas novas ‘Juventude Sónica’ e ‘Amigos Mortais’, mas ainda se lamenta algumas escolhas líricas algo duvidosas: em ‘Cem Metros Sereia’, a banda transforma ‘foder é perto de te amar, se eu não ficar perto’ em hino vociferado pelos devotos e pelos amigos da banda, como Joaquim Albergaria, colega do baterista Hélio Morais nos PAUS (que umas horas antes se juntavam aos Dead Combo num festival paralelo no Teatro S. Luiz), Braúlio dos Adorno ou Rui Mata ex-The Vicious Five, que entretanto irrompem pelo palco.
No fim, ainda há tempo para ‘Este Mar’, um dos temas mais antigos do conjunto, e é na despedida que os fãs se exaltam e pedem mais. A noite aproximava-se do fim, mas o autêntico culto que se faz de um dos maiores fenómenos musicais nacionais estará longe de acabar.
A Arthouse Big Band teve direito às honras de encerramento da Sala 1 do S. Jorge. A banda que consiste num cruzamento entre diferentes artistas da mesma agência (Arthouse), também esteve presente no Super Bock em Stock. O projecto consistiu numa interpretação de várias músicas de cada artista, por todos eles, dando ênfase à diversidade dos convidados. Alguns dos convidados eram Afonso Rodrigues (dos Sean Riley and The Slowriders), Fernando Ribeiro (dos Moonspell), Ronaldo (dos peixe:avião) e mesmo Virgul (dos Nu Soul Family e também dos Da Weasel). Uma boa iniciativa que cativou muitos curiosos e surpreendeu pela positiva todos os presentes.
A fechar o festival esteve Marina Gasolina no Maxime. A ex-vocalista dos Bonde do Rolê trouxe uma energia invejável ao local, e a banda cativou o público do princípio ao fim, com o guitarrista a passear constantemente pelo público. O espaço enchia à medida que a chuva intensificava e outros concertos terminavam. A boa disposição da pequena cantora também convidava a entrar e chegar mais à frente, naquele que seria o último concerto da edição deste ano do festival.
O balanço foi positivo, com muitas boas surpresas e acima de tudo, boa música a protagonizar o evento. Para o ano há mais!
Reportagem SWR Barroselas Metalfest XIV
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Na sua 14ª edição, o festival SWR Metalfest realizou-se novamente na pequena vila de Barroselas. A cada ano que passa, aquele que é considerado o melhor festival português dedicado ao som mais pesado, supreende sempre pela positiva todos os que por lá passam durante os três dias, seja pela melhoria de condições, som, luzes e, sobretudo, o cartaz alinhado. Cartaz esse que, nesta 14ª edição, muito provalmente, terá atingido o topo em termos de nomes conhecidos.
No primeiro dia, a nível nacional, os We Are The Damned tomaram o segundo palco com uma raiva impiedosa, apresentando temas do seu último álbum “Holy Beast” e brindando ainda os presentes com uma cover de “Into The Crypt of Rays” dos Celtic Frost, com participação especial de Noturnus Horrendus dos Corpus Christii. Ainda no campo nacional, de referir umas horas antes, a prestação dos “Três Joões”, AKA os Alchemist, com o seu Black Metal muito rock n’ rollesco. Mas já falaremos destes três rapazes mais À frente. No palco principal, os Voivod, pela primeira vez em Portugal, deram um concerto brilhante, com o seu metal espacial/progressivo muito característico, onde não faltaram clássicos como “Ripping Headaches”, “Voivod”, “Tornado”, “Tribal Convictions” e como sempre, “Astronomy Domine”, cover dos Pink Floyd, dedicada ao falecido guitarrista Piggy D’Amour.
Na primeira fila, ao meu lado, João Gordo dos Ratos de Porão, não tirava os olhos do palco durante a actuação de Voivod, sabendo que logo a seguir, seria ele que estaria nesse mesmo palco com os seus “Ratos”. Igualmente, estes viriam a dar um excelente concerto, com o seu crossover energético carregado de pérolas.Não faltaram temas como “Crucificados pelo sistema”,”Sofrer”,”Morrer”, “Beber até morrer”, “Crise Geral”, “Work for Never” dos Extreme Noise Terror, dedicada a Phil Vane,”Mad Society”,”Máquina Militar”, “Aids, Pop, Repressão” entre muitos outros. Era evidente algum cansaço em João Gordo, mas Jão, Juninho e Boka ajudavam a manter a energia em cima.
Segundo dia:
Ao segundo dia, a chuva veio trazer algum incómodo aos presentes, mas zero de desmotivação, sendo talvez o dia em que se registou maior número de público. Os veteranos Dead Meat, no palco secundário, estrearam o dia em termos de brutalidade com o seu Death Metal, que mesmo desprovido de baixo, continua a não perder um grama de peso. No campo de futebol, localizado ao lado da tenda principal, enquanto decorria uma partida, os Jesus Cröst, como fãs devotos do desporto, montaram o seu material na parte de cima das bancadas e executaram um pequeno mas furioso showcase do seu som grindcore/powerviolence, deixando praticamente toda a gente que se juntava à volta de boca aberta, ora pelo som ou simplesmente pela humildade e atitude dos checos. Já no palco principal, os nossos Raw Decimating Brutal mostravam o seu grindcore que, apesar da veia lírica, meio humorística e descomprometida, nada deve em termos musicais.
Devido a alguns cancelamentos, nomeadamente Purgatory e Sourvein (estes já a segunda vez que teriam cancelado a sua vinda ao festival!), algumas alterações tiveram de ser consideradas em termos de horários e de bandas. Já ao anoitecer, os Jesus Cröst tomavam o segundo palco. Mudou apenas o espaço onde tocavam, porque a atitude e humildade dos dois membros de JC permanecia, assim como a raiva e agressividade do seu som, um grind/powerviolence a cem à hora, que não deixava ninguem indiferente.
No palco principal, os Malevolent Creation continuavam a representação de death metal no festival mas, apesar de tocado competentemente e com garra, o som dos americados tende a ser algo sem sal. Dando uma espreitadela na tenda alternativa, os Sektor 304, surpreendem com o seu som industrial, com base em bandas como Godflesh (sobretudo a nível vocal) mas com trejeitos e experimentalismos à la "Einsturzende Neubauten", em termos de percussão e uso de instrumentos extra, no seu som. À meia noite em ponto, os pais do black metal viriam a ocupar o palco principal, e aqui o festival registaria a maior enchente de pessoas na tenda, atingindo o topo referido no início da review.
Trazer uma banda como Venom a este festival terá sido considerado um marco para toda a organização do festival. Em conversa, mais tarde, com Ricardo Veiga, o próprio viria a confirmar este facto. Os ingleses abriram o seu set com o clássico “Black Metal”, deixando todos os presentes rendidos, e assim continuaram. O som, no geral, não estaria perfeito, sobretudo a nível da guitarra, criando alguma desilusão para alguns mas, para outros, sendo a primeira vez que a banda pisava solo português, isso simplesmente não interessava. Fã devoto, por vezes, é assim.
Para finalizar a noite, no palco secundário, os Magrudergrind deram um concerto demolidor, obtendo uma das melhores reacções de todo o festival por parte do público. Um baterista extremamente rápido, um guitarrista a debitar riffs dilacerantes e um vocalista completamente endiabrado a praticar um grindcore furioso, com algumas passagens pela sua fase mais powerviolence dos álbuns anteriores, deixaram o público completamente louco, terminando assim o segundo dia do festival. Claro que a festa prosseguia, lá fora...
Terceiro dia:
No último dia e após o combo nacional de bandas como Cryptor Morbius Family, Wako,Seven Stitches e Ava Inferi, chegava a hora da actuação dos Soilent Green, uma das bandas mais aguardadas. Ben Falgoust e os seus comparsas, oriundos de Nova Orleães, viriam a deixar toda a gente surpreendida com o seu grindcore alternado com passagens arrastadas, provando que apesar de rápidos, também eles sabem fazer sludge bem feito, ou não seria o seu guitarrista, Brian Patton, um dos membros de Eyehategod. Ben revelou-se um vocalista excepcional e um autêntico animal de palco, sempre a puxar pelo público. Talvez fossem indiferentes para alguns, mas para grande maioria, os Soilent Green representaram um autêntico banho musical, tal era o talento do colectivo americano.
Mantendo a qualidade musical, seguiu-se outra grande banda aguardada por muitos, os Today is the Day, que acompanhavam os Soilent Green em tour. Basicamente, uma banda que não estaria deslocada no segundo palco, mas que no principal protagonizou uma das melhores prestações de todo o festival. O grande Steve Austin, bem mais energético e simpático, auxiliado pela secção ritmica dos Wet Nurse, arrasou com o seu noisecore metalizado e distinto. Logo a abrir, quatro temas desse clássico que é “In the Eyes of God”, passando por temas de Axis of Eden, um tema novo do álbum a sair em Julho e “Temple of the Morning Star” do álbum homónimo, com participação especial nas vozes de Ricardo “Long John Silva” Loureiro. Encostados às grades, concentravam-se os poucos mas bons fãs incondicionais da banda, completamente rendidos a uma prestação excelente, superando a actuação de há dois anos, aquando da primeira passagem da banda por Portugal.
Logo a seguir, no palco secundário, o death/grind dos Grog, foi bem-vindo, como sempre, sendo a banda já bem conhecida nos palcos, tanto dos do festival como de outros. Já a noite ia longa e após a prestação dos Alcest, os techies Atheist tomaram o palco para surpreenderem (ou talvez não!) todos com a sua destreza musical. Apesar de o som, sobretudo das guitarras, continuar um pouco alto, ao longo do set foi melhorando. Kelly Schafer lá puxava pelo público, enquanto o resto da banda debitava temas do seu último álbum, “Jupiter”, assim como clássicos antigos. Que os Atheist iam presentear todos com uma elevada técnica e qualidade musical, isso já toda a gente esperava. No final, foi anunciada a banda vencedora do Metal Battle, que irá participar na edição deste ano do festival Wacken. Parabéns aos Seven Stiches!
Após o brutal death metal dos Wormed e do Black Metal dos Satanic Warmaster, os já referidos “Três Joões” finalizaram a noite em festa. Apesar de não terem vencido o Metal Battle, João Galrito, João Seixas e João Duarte, foram definitivamente os vencedores deste festival, actuando nos três dias, em três versões distintas. Representaram com Alchemist o black n’ roll já mencionado, no primeiro dia, preencheram o cancelamento dos Purgatory, com Pestilência, mostrando o lado mais avant garde do black metal, no segundo dia e fecharam no último dia do festival com Göatfukk, desta vez, um black metal ainda mais apunkalhado e carregado de D-beat. Auxiliados por ...um quarto João(!!!), João Vasconcelos, os rapazes colmataram com um som verdadeiramente contagiante, que deixou o público, dentro e fora do palco, complemente extasiado. Invasão de palco, na última banda do festival, como manda a “tradição” e muita “festarola”, segundo Pedro Grave.
Terminados os concertos, a festa prosseguia fora do recinto com o desenrolar da noite e ainda com direito a fogo de artifício.
Mais um ano bem sucedido para os Irmãos Veiga e a sua equipa.
Estão de parabéns e cá os esperamos para o ano. Já se ouvem rumores de cinco dias de festival...
Texto: Tiago Luís
"Quem ficou por "cá", agradece à organização, por ter permitido a visualização dos concertos do festival online."