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Reportagem Band of Horses - Lisboa
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O primeiro concerto dos Band of Horses em Portugal não podia ter corrido melhor, tanto pela adesão do público como pela dedicação dos músicos, claramente apaixonados pela capital lisboeta. O local escolhido foi a Aula Magna, que, a rebentar pelas costuras, serviu de palco ao concerto de apresentação do recente Infinite Arms (2010), um terceiro esforço menos inspirado, mas que consolida a banda do romantismo melancólico como um dos nomes de referência do indie rock.
Antes da onda country dos refrões chorudos e chorados, coube a Mike Noga (and the Gentlemen of Fortune) abrir a primeira parte do evento. Espirituoso, encantador e afável, o músico australiano, fazendo-se acompanhar por um baixista e baterista, desde cedo se fez sentir em casa, pontuando pausas musicais com um humor seco que cativou a plateia recheada da sala de espetáculos lisboeta. “Aplaudam para eu me sentir o Bruce Springsteen”, brincava Noga, mas decerto que não há assim tantas diferenças entre este e o Boss – de guitarra em punho, o australiano dava voz a um folk rock calmo que, apesar de não brilhar pela inovação, não servia de intruso musical aos tímpanos de quem o ouvia. Destaque para as entusiasmadas covers de Bob Dylan com a ajuda do teclista dos Horses, Ryan Monroe.
Pézinhos de lã ou não, os Band of Horses fizeram uma entrada modesta no palco da Reitoria, abrindo com ‘Evening Kitchen’, de Infinite Arms. Oscilando entre os três álbuns da sua bagagem musical, o quinteto, oriundo de Seattle, abriu desde logo com um rock expansivo e emocional – ‘The Snow Fall’, ‘Weed Party’ e ‘Older’ foram alguns dos temas que, apesar de belos (com a ajuda dos fundos cénicos da natureza), aborreceram com a sua constância temática e sonora. Não se pode culpar a dedicação de uma banda tecnicamente capaz e equilibrada, cuja performance se manteve focada nos floreados à la americana da sua estética musical, mas talvez a escolha de um alinhamento que se desfez dos seus trunfos mais para o fim.
Não obstante, é em Ben Bridwell, front man e o único membro que permanece desde o lançamento do aclamado ‘Everything All The Time’ (2006), que se vê o guia para uma catarse emocional que apenas tomou relevo no segundo tomo do concerto – se é em ‘Compliments’ que é marcado o ponto de viragem, é em ‘No One’s Gonna Love You’, perante um fundo estrelado, que o público acorda verdadeiramente da hipnose. Seguidamente, a belíssima e arrasadora ‘The Funeral’ já flui com uma naturalidade quase orgânica e, apesar de Bridwell romper uma corda da guitarra a meio, isso não impede o enorme aplauso de um público sedento de ouvir o que os Band of Horses fazem de melhor – agitar e emocionar, quase sempre em união.
Após uma pequena pausa, o conjunto volta para o inegável momento da noite: ‘Is There A Ghost’ enche e preenche todos os presentes com uma explosão de emoção arrebatadora que a todos faz levantar das cadeiras e que marca o colossal contraste com o início e ‘The Great Salt Lake’ arremata um concerto longo, mas cativante.
Missão cumprida para os americanos na sua primeira aparição em terras nacionais. Esperemos que voltem depressa.
Reportagem Skunk Anansie - Lisboa
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O recinto – mais que esgotado - rapidamente pareceu pequeno demais para albergar todos os que iam entrando enquanto os britânicos The Virginmarys já tocavam. A banda, que ganhou o título de “Best New Rock Artist” do iTunes, apresentou o seu rock cativante que abriu o apetite. Temas como “Bang Bang Bang” e “Just Arrived” aqueceram uma multidão já de si irrequieta.
Assim que a banda terminou e saiu, um pano tapou o palco, deixando todos curiosos. Quando finalmente as luzes se apagaram, foi projectada uma imagem da capa do novo álbum dos Skunk Anansie, “Wonderlustre”, editado quase 12 anos após o seu antecessor “Post Orgasmic Chill”.
Quando a intro começou, luzes vermelhas projectaram as silhuetas de Skin, do baixista Cass e do guitarrista Ace. A loucura estava prestes a começar. Sempre de fatos extravagantes, desta feita eram ombreiras ornadas com penas que emolduravam o rosto de Skin. “Yes, It’s Fucking Political”, retirada de “Stoosh”, fez as honras. De microfone apontado ao público, Skin deixou desde o início bem claro que para o concerto contava com a participação de todos. A audiência não desiludiu e a voz possante e inconfundível da cantora britânica também não. Riffs de guitarra deliciaram os fãs e após um entusiástico “Hello!” por parte da vocalista, uma favorita do público entra em cena: “Charlie Big Potatoe”, do penúltimo álbum de estúdio da banda, serviu de novo para mostrar os dotes da multidão enquanto coro perfeitamente sintonizado.
Skin dançava e fazia seu um palco que a recebeu de braços abertos. Temas do novo álbum, como “God Loves Only You” provou ter já conquistado os fãs. Apesar disso, ninguém resistia a temas mais antigos, tais como “100 Ways to Be a Good Girl” ou “Secretly”, de longe uma das mais esperadas e acarinhadas pelo público, que lhe valeu um sentido «Obrigado» de Skin.
“Over the Love”, “The Sweetest Thing” e “My Love Will Fall”, todas retiradas de “Wonderlustre”, revelaram algumas diferenças no som habitual da banda, mas nem por isso foram menos bem recebidas. Ainda que temas como “Because of You” ou “I Can Dream” tenham mostrado estar bem presentes na memória de todos, pôde perceber-se que o mais recente trabalho da banda agrada a muitos seguidores, dos mais velhos aos mais novos.
A vocalista fez questão de visitar o público várias vezes durante o concerto, “andando” inclusive sobre a multidão, com a ajuda de fãs. Por isso mesmo, “Brazen (Weep)” foi dedicada a um desses fãs em especial. Aquele que foi o tema que mais sucesso teve para a banda foi outro dos momentos da noite, onde se contou ainda com um riff da “Intellectualise My Blackness”, do albúm “Paranoid & Sunburnt”.
Antes da esperada “Twisted (Everyday Hurts)”, o pedido da vocalista foi simples: “Jump!”. E assim obedeceu quase a totalidade do recinto, bancadas e camarotes incluídos. “Feeling the Itch” e “My Ugly Boy” fazem lembrar uns Skunk Anansie ainda nos anos 90, agradando a fãs mais antigos. Por seu lado, “Tear the Place Up”, já de 2009 (tirada de “Smashes & Trashes”, o álbum de greatest hits da banda) conseguiu de facto quase trazer o Coliseu abaixo. “Skank Heads” antecedeu o encore, que durou o suficiente para uma multidão ávida mostrar a força dos seus pulmões.
A banda voltou a entrar em palco e foi com outra das preferidas do público que o fim do concerto teve início – “Hedonism (Just Because You Feel Good)” não falhou a ninguém, entoada com distinção. A vocalista agradeceu a todos os presentes, a todos os que apoiam a banda e os «faziam sentir bem» neste país. Seguiu-se o que será o próximo single da banda, “You Saved Me”.
Foi então tempo de apresentar a banda, membro a membro, com uma Skin sempre bem-humorada e a espalhar a sua boa-disposição, como já havia feito no Optimus Alive!. “Querem mais?” – a resposta é óbvia; por muitos, aquilo durava a noite toda. “Little Baby Swastikkka”, o primeiríssimo single da banda irrompeu pelas colunas e alimentou-se da energia que pairava na atmosfera e teimava em perder forças. Era hora da despedida e a banda abandonou o palco, assim como muitos dos espectadores. No entanto, as luzes permaneceram apagadas e o público não cessou em chamar pela banda… que voltou!
De novo desmanchada em agradecimentos a um público carinhoso que «estabeleceu expectativas muito altas para os próximos espectáculos da tour», Skin expressou a sua gratidão com um último tema. “You’ll Follow Me Down”, bem conhecida de todos, fez as delícias e foi uma despedida perfeita. Uma vénia final e eis que o fim chegava mesmo.
Após quase 17 anos, é de notar a empatia e cumplicidade que existe numa banda que, apesar do “intervalo” de 10 anos, se mantém unida e a tocar gerações distintas que se juntam em prol da boa música e de espectáculos que ficam gravados na memória para sempre.
Reportagem Sum 41 - Lisboa
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Após oito anos desde a primeira atuação em terras lusas, os Sum 41 voltam em nome próprio para um concerto explosivo num quase lotado Coliseu dos Recreios. Nostalgia é a palavra de ordem para os eternos adolescentes, que aproveitam para apresentar o seu novo esforço musical, Screaming Bloody Murder, com data de lançamento para este ano, aos fãs devotos do punk rock açucarado.
Porém, antes de isso coube aos Fitacola abrir a noite do espetáculo. Oriundos de Coimbra, os portugueses souberam entreter um público sedento de música, apesar das claras deficiências tanto da composição das suas criações, como da execução das mesmas. Os Fitacola são constituídos por 4 elementos, presos no género há mais que estagnado do pop punk com “ambições” – e se à plateia recheada de jovens tudo lhes agrada, para os mais graúdos fica clara a falta de originalidade da bagagem musical destes artistas. Estes não apresentam nada que não se tenha ouvido vezes sem conta, nem compensam, infelizmente, com o brio técnico do manuseamento dos instrumentos, falhando várias vezes nos solos de guitarra emotivos de uma juventude perdida. “Nós só queremos tocar”, afirmava o vocalista - fica para uma próxima oportunidade.
Entre os clássicos do hard rock, como os de AC/DC, e os gritos apaixonados dos fãs entusiastas, dá-se a entrada dramática da banda canadiana. Liderados pelo pequeno em estatura, mas grande em chefia da hoste, Deryck Whibley, os Sum 41 não hesitaram em abrir um concerto impetuoso com poucas pausas para respirar. A divertida ‘My Direction’ foi a escolhida para começar, seguindo-se de um tema novo, intitulado de ‘Skumfuk’, e a agressiva ‘We’re All To Blame’, temas que agitaram prontamente os inúmeros jovens que se faziam apertar nas filas dianteiras. Tamanha é a sede de tudo o que tenha a ver com os seus ‘heróis’ que os fãs não são capazes de conter o seu entusiasmo quando Whibley escolhe alguns sortudos para assistirem ao concerto no palco.
Porém, um defeito que podemos apontar à música dos canadianos é a inconsistência na abordagem da sua sonoridade. Aparecendo no panorama musical comercial americano no início dos anos 0, os Sum 41 destacavam-se de uns Green Day ou uns Blink 182 por um charme característico de serem incapazes de se levarem a sério, o charme de quatro miúdos patetas que adoravam a música metal. A partir do momento em que largaram esta abordagem e decidiram enveredar pelos caminhos sinuosos de um pop punk mais agressivo, acompanhados por uma ‘integridade’ musical, o conjunto deixou à vista as carências musicais de um género que se tornou célebre não pela competência e qualidade musical, mas sim pela possibilidade de identificação com a imagem de jovens incompreendidos e rebeldes. Ora, despidos de carisma, é possível ver que os Sum 41 são pouco memoráveis, apesar de eficazes a animar e entreter. ‘Walking Disaster’, ‘Over My Head’ e a recente ‘Screaming Bloody Murder’ são alguns exemplos de temas explosivos e bem executados tecnicamente, mas que não têm muita substância.
Apesar de alguns clichés na performance dos artistas, nomeadamente nos pedidos de um entusiasmo ainda maior dos fãs, e do pequeno interregno metal (‘Metal Mayhem’) que viu o mostruário das habilidades do guitarrista Tom Thacker na interpretação de temas de Metallica e Iron Maiden, o concerto decorreu com fluidez, passando por vários dos maiores hits da banda, como ‘Underclass Hero’ e ‘Still Waiting’. No entanto, é em ‘In Too Deep’ que os portugueses se agitam de forma notória, saltando, esbracejando e vociferando em plenos pulmões as letras de um tema com quem todos se identificam, certamente.
Não é de estranhar, então, que quando se dá a pausa do encore, os admiradores portugueses entoem o nome da banda, com uma ansiedade contagiante pelo retorno dos artistas. Whibley volta, então, pouco depois, para interpretar a emocional ‘Pieces’ – talvez o tema mais Coldplay do seu repertório. O momento alto da noite ficou-se por ‘Fat Lip’, um dos hinos mais ouvidos do pop punk do início do século, que mostrou sobreviver ao teste do tempo pela adesão com todo o coração de quem a ouvia. Por último, os Sum 41 ficaram-se por ‘Pain for Pleasure’, um tema que serve de paródia aos temas clássicos de metal dos anos 80, cantado pelo baterista Steve ‘Stevo32’ Jocz.
Foi, então, um concerto animado dos canadianos que, apesar de já estarem quase na casa dos trinta, se mostram tão jovens como os adolescentes que ainda os idolatram.
Reportagem Monotonix - Hard Club
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A noite de 26 de Fevereiro era bastante concorrida na cidade do Porto: para além do habitual Clubbing na Casa da Música, com a presença de Peter Hook (baixista de Joy Division); e da actuação dos norte-americanos Tyvek no Armazém do Chá; havia ainda um concerto por cima do público, no Hard Club. Sim, não é engano: ao contrário de outras bandas, que dão concertos em cima do palco, os Monotonix preferem tocar (literalmente) em cima do público. E é, provávelmente, mais o espectáculo que estes israelitas proporcionam, do que a própria música que tocam, que levou nesta noite muita gente a preferir o Hard Club a outras salas de espectáculos no Porto. Muitos devem lá ter ido matar, na medida do possível, as saudades do Milhões de Festa – lembre-se que as três bandas presentes neste evento fizeram parte do cartaz do festival Milhões de Festa 2010, sendo a actuação dos Monotonix unânimemente considerada uma das melhores de todo o festival. Outros vieram vê-los, com certeza, porque já ouviram por aí falar daquilo que estes loucos são capazes!
Os primeiros a subir ao palco foram os Larkin. Este quinteto de hardcore do extremo norte do país aproveitou para vir mostrar o seu mais recente trabalho de estúdio, aquecendo o público para o que viria mais tarde. O público mostrava-se ainda pouco ou nada efusivo, apesar do esforço e da boa actuação destes cinco rapazes de Viana do Castelo.
Os The Glockenwise, que se seguiram, lá conseguiram mais alguma empatia com o público do Hard Club. Nuno, Fiusa, Rafa e Cris vieram de Barcelos cheios de atitude e energia, trazendo para mostrar “Building Waves”, primeiro álbum destes quatro rapazes, recentemente editado pela Lovers & Lollypops.
Após a actuação das duas bandas portuguesas, era tempo para um pequeno intervalo, a fim de preparar a sala para o arraial de garage rock israelita que se adivinhava. Enquanto que do lado de fora se dava dois dedos de conversa e se fumava o cigarrinho, lá dentro preparava-se o concerto dos Monotonix que, de monótono, só têm a semelhança de nome. Amplificadores em cima do palco, bateria e guitarra no chão: a ideia é a de tocar no meio do público. Não faltou muito até que alguns curiosos se fossem aproximando, sentando-se a observar a montagem antes do início da actuação. E eis que surgem Ami Shalev, Yonatan Gat e Haggai Fershtman, o trio de Telavive que compõe a banda mais esperada da noite.
Ami Shalev, vocalista, dá início ao concerto mais caótico que consigam imaginar, começando por atirar água para cima do público. Os três senhores peludos do país mais judeu do mundo foram-se passeando pelo meio e por cima do público, enquanto tocavam temas de “Body Language”, “Where Were You When It Happened?” e o novíssimo “Not Yet”. O público, esse, esforçava-se por vê-los mais de perto, andando durante todo o concerto de um lado para o outro, numa tentativa de acompanhar uma “fila da frente” que muda permanentemente de sítio. Alguns tinham mesmo de pegar, ora nos membros da banda, ora na tarola da bateria que, nas actuações dos Monotonix é elevada acima das cabeças da assistência e tocada por Ami Shalev.
Depois de experimentar uma peruca rosa-choque de um membro do público e de uma breve passagem pelo balcão do bar do Hard Club, coberto de álcool e cascas de laranja, Shalev dá por terminado o espectáculo com uma pequena demostração de empilhamento de peças de bateria e posterior desempilhamento por arremeso de banco.
Esta terá sido, infelizmente, uma das derradeiras e últimas oportunidades de ver Monotonix ao vivo. Diz-se por aí que os membros da banda pretendem dar mais atenção à família, em detrimento de prestações incríveis e suadas como a que se pôde assistir (e sentir) nesta noite.