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Reportagem The Legendary Tigerman - Lisboa
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Lendário, sem dúvida
Deus nos valha Paulo Furtado. Deus nos valham os Wraygunn, Deus nos valha Legendary Tigerman, Deus nos valham todas aquelas colaborações em que se meteu, todas as bandas-sonoras que já fez (fabuloso, o cine-concerto que deu com Rita Redshoes no MOTELx há dois ou três anos) e tudo o que da sua carreira saiu. Deus nos valha este músico que influenciou toda uma nova geração de música Portuguesa deixando-se influenciar pela geração que lhe precedeu e até pela que viveu. O concerto que se viu no Coliseu foi o reflexo perfeito da impressionante carreira de Paulo Furtado: grandioso e inesquecível. Puxou de todos os cordelinhos, foi a toda a sua carreira a solo ou em grupo e pôs em palco todo o seu percurso musical num espectáculo cuidado e pensado, que foi basicamente mais de duas horas de uma sucessão constante de grandes momentos.
Uma lista de excelentes convidados, alguma grandes surpresas e o grande músico com as grandes canções do costume. Num óptimo e longo alinhamento, Tigerman percorreu todos os seus álbuns a solo (dando, claro, destaque a Femina), na pose e estilo já conhecidos de um público fiel que esgotou o Coliseu de Lisboa. Sempre informal, sempre espontâneo, sempre a incentivar à festa (pediu ao público para se pôr de pé e ele acedeu, brincando com as queixas no livro de reclamações que tal pedido gerou na noite anterior, no Coliseu do Porto) e com um palco cuidado onde as projecções de vídeo tão adoradas pelo músico foram uma constante, Paulo Furtado deu um concerto memorável, naquela que custa a chamar de noite de consagração apenas porque, com tanto talento e uma carreira que não é curta, uma noite que merecesse tal designação já devia ter chegado antes. Quem já antes o tinha visto ao vivo já sabia, afinal de contas, o que esperar no Coliseu: um grande concerto.
Antes do espectáculo propriamente dito, há que mencionar a primeira parte de Rita Braga. Voz cativante ainda que imperfeita, que canta versões de bom gosto de tais clássicos como Under the Moon ou Dream a Little Dream of Me. Competente, sem dúvida e acima de tudo com fortes pontos de contacto com o músico que se seguiria. Percebe-se o porquê da escolha de Paulo Furtado e foi sem dúvida uma primeira parte que criou bem o tom para o que viria a seguir.
E depois duma agradável primeira parte, lá entrou Tigerman em cena, perante uma chuva de aplausos. Guitarra em riste, ecrã gigante por trás numa cortina que iria subindo e descendo ao longo da noite, onde rapidamente surge Asia Argento projectada. My Stomach is the Most Violent of all of Italy abre na perfeição as hostes, com a voz de Argento a ecoar em conjunto com a de Tigerman numa bela canção saída de Femina. Ao final da canção, que proporcionou um belo início, sobe a cortina e surge a bateria já tão conhecida dos fiéis e que em todos coloca um sorriso. Tigerman é one-man-show, é homem a tocar guitarra e bateria ao mesmo tempo, de óculos escuros e voz sussurrante, com aquele som directo e simultaneamente melódico, é ver em palco um homem como não há igual. O Homem Tigre senta-se e surge o primeiro clássico da noite: Walkin’ Downtown.
Grande momento, numa canção que ganha sempre com uma interpretação ao vivo exemplar, que joga tão bem com aquela hesitação no refrão da música. Não tardou muito a chegar Naked Blues, outro clássico, que mais uma vez nos relembrou das belas canções e discos que Furtado já nos dá há uns bons anos. Das grandes canções da sua carreira, faltou apenas Route 66. De resto, estiveram lá todas, interpretadas com a alma de sempre (espectacular, o momento em que dedicou Radio & TV Blues à “merda de rádio e televisão que temos”).
O concerto foi alternando entre momentos a solo e claro, momentos com os convidados, ao longo de mais de duas horas sempre bem ritmados (impressionante, tendo em conta o número de convidados). A primeira a entrar foi logo Lisa Kekaula, que tem talvez a voz mais impressionante de todas as convidadas do disco, sempre com energia e estilo… e aquela voz, meu Deus, aquela voz. Não tardou a entrar Cláudia Efe, com um vestido esvoaçante e (claro) sensual, que com Honey, You’re Too Much proporcionou um dos melhores momentos da noite. Rita Redshoes entraria em palco para mostrar ser a que tem a maior cumplicidade com o músico; aqueles olhares durante Sister Ray, por exemplo, deram uma tensão enorme à interpretação de uma excelente música. E que surpresa que foi quando mais tarde surgiu à bateria, para ajudar Tigerman e Kekaula a tocar Jockey Full of Bourbon, grande canção de Tom Waits que aqui ganhou nova alma com esta baterista, a guitarra de Furtado e a voz de Kekaula.
A participação de Jim Diamond (guitarra) e Mick Collins (bateria) proporcionaram talvez o momento mais rock da noite, com o Homem Tigre a ir buscar Girlse Big Black Rusty Pussyboard (um dos seus melhores temas) ao baú. Duas pérolas para os devotos, que foram banhadas a ouro com aquele belo solo de guitarra de Diamond e as batidas que tão bem assentaram de Collins. Big Black Rusty Pussyboard, em particular, é simplesmente uma canção obrigatória em qualquer concerto de Legendary Tigerman, verdadeiramente espectacular.
E o que dizer da participação dos Dead Combo, que teve o ponto alto em Lusitânia Playboys, música do duo que Tigerman fez questão de levar ao Coliseu? Instrumentalmente perfeito, com a guitarra de Tó Trips e a guitarra de Furtado em diálogo absoluto. Foi um daqueles momentos em que se pensou “Que sorte tenho eu em estar a ver isto”, dada a oportunidade única que é a de ver estes nomes pesados a actuar em conjunto. Já se esperava que fosse tão bom, claro: os Dead Combo são dos projectos musicais de maior valor e qualidade dentro das nossas fronteiras (que concerto arrebatador, o que deram com a orquestra no São Jorge há uns meses) e Tigerman é Tigerman. Foi uma oportunidade única que valeria por si só a noite, a de os podermos ver a tocar juntos. Oportunidade que não desperdiçaram para criar um momento que nos ficará na memória. “O melhor duo de Lisboa”, bem disse Furtado. “E os mais bem-vestidos!”, acrescentou.
Antes do encore (que foi a grande surpresa da noite, mas já lá vamos), foi a vez de JD Nelassassin e DJ Ride entrarem em palco, juntamente com João Doce, dos Wraygunn. Furtado brincou dizendo que chamaria àquele grupo de Quatro e que gravariam quatro canções em quatro dias e que dariam quatro concertos, acabando de seguida. Com aquele resultado, até se espera que não seja a brincar. Quem diria que resultaria tão bem, aquela fusão dos DJs com aquela guitarra ríspida do protagonista da noite? Foi uma verdadeira frente sonora, energia pura e rítmica, que acabou em alta o set principal com Say Hey Hey.
E foi depois, no regresso ao palco, que viria a grande surpresa do espectáculo. O encore começou com o regresso de Argento ao ecrã gigante, para interpretar com Tigerman a lindíssima Life Ain’t Enough For You, single de apresentação de Femina que na altura tanto passou (merecidamente) pelas rádios. E no final deste bonito momento, Furtado apresentou, um a um, os membros dos Wraygunn, que foram entrando em palco para a grande surpresa da noite. Já nos esquecíamos da falta que fazem, da onda de energia que são, das saudades que tínhamos de os ver. Tocam a inevitável She’s a Go Go Dancerque incendiou, como esperado, o Coliseu e de seguida uma canção nova que estará no novo álbum. Mostraram estar na boa forma de sempre e a música nova que se ouviu deixou no ar a promessa de um belo novo álbum. Que voltem o mais depressa possível.
Tigerman e Wraygunn saem e só Tigerman volta a entrar, para um segundo encore com a música que pôe um ponto final na noite da mesma forma que o faz em Femina: com perfeição absoluta. True Love Will Find You In The Endde Daniel Johnston é, diga-se, muito provavelmente das mais bonitas canções alguma vez escritas e a voz de Furtado dá-lhe um sussurro com alma inesperado para quem antes não a tinha ouvido ao vivo. Canta-a na perfeição, após mais de duas horas de um concerto grandioso, com a cortina a levantar-se e as luzes lentamente a serem acesas em todo o Coliseu. Momento indescritivelmente poético e memorável, que acabou por ser o reflexo do próprio Tigerman que é, diga-se, duro por fora mas mole por dentro.
“Muito obrigado por me terem dado uma das melhores noites da minha vida”, diz perante uma ovação feita por um público que se menteve sempre de pé, chamando de seguida todos os convidados para a ele se juntarem numa vénia final. Com um Coliseu esgotado a seus pés, tornou-se óbvia a marca que Furtado já deixou (felizmente!) na nossa música. Sai do palco com um sorriso no rosto e o público abandona o Coliseu da mesma forma.
Grande concerto que foi o puro reflexo de um grande músico. Por mais de duas horas estivemos dentro do universo de Legendary Tigerman; ouvimos a sua música e a música que o influenciou (desde Tom Waits àquela excelente versão de These Boots Are Made For Walking, de Nancy Sinatra), tocada por si e pelos amigos de que tanto gosta e tanto admira. Noite de consagração? Não, noite de mera confirmação. Com os discos que já editou, com os concertos que já deu, o valor de Paulo Furtado já era inegável e a noite vivida foi apenas todo o seu talento em todo o seu esplendor.
O Coliseu esgotado foi um mero sinal de que, felizmente, ainda há muita gente a reconhecer e a gostar de um grande músico quando o ouve. Legendary Tigerman foi ao Coliseu, deu um concerto magnífico, ambicioso como só ele pode dar (tão bem pensado e executado como só Furtado se lembraria de fazer) e arrebatou enquanto deu a constatar um mero facto: a palavra Lendário não está ali só pelo estilo. É já uma mera característica. Dele e desta noite com que nos brindou.
Reportagem Joanna Newsom - Porto
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Joanna Caroline Newsom – cantora, harpista, pianista e compositora da folk norte-americana – volta em 2011 a Portugal, depois de actuações anteriores no Lux, Aula Magna (Lisboa) e Theatro Circo (Braga), em 2007. Quatro anos depois, volta ao nosso país para uma mini-digressão de três concertos: na Casa da Música (Porto), no Teatro Aveirense (Aveiro) e no Centro Cultural de Belém (Lisboa), a 24, 25 e 26 de Janeiro, respectivamente. Desta feita, traz consigo o terceiro e novo disco de originais “Have One on Me”, editado em Fevereiro do ano passado, pela Drag City.
Para além do mais recente trabalho de estúdio e excelentes surpresas musicais, Joanna trouxe consigo, para as honras de abertura do espectáculo na Casa da Música, Alasdair Roberts, músico escocês que acompanha a decorrente digressão da artista norte-americana. Tendo passado anteriormente por Portugal com Newsom na digressão de 2007, Alasdair Roberts passara já também pelo palco secundário da edição de 2005 do Festival Paredes de Coura.
Sozinho no palco com a sua guitarra acústica, sob a iluminação de um rasgo de luz, Alasdair Roberts soube criar na sala Suggia um ambiente acolhedor, enquadrando-se com o que viria a seguir. Apresentando ao público portuense alguns temas novos, o cantor embalou todos os presentes com as suas canções que sabem ter em si, simultâneamente, a tradição e a contemporaneidade, abrindo caminho à tão esperada música mágica de Joanna Newsom.
Joanna Newsom, de vestido galáctico-vermelho, surge em palco e pisa-o como se de uma princesa se tratasse. Mostrando a todos os presentes um sorriso rasgado e uma simpatia transbordante, inicia a actuação com The Book of Right-On, do álbum “The Milk-Eyed Mender” (2004). Sem demoras, apresenta os músicos que a acompanham e que, entretanto, surgiram em palco. Pela frente, puderam ouvir-se Have One on Me, Easy , Good Intentions Paving Company e Soft as Chalk, do seu mais recente trabalho “Have One on Me” (2010); passando ainda por “Ys” (2006) com: Cosmia; e novamente por “The Milk-Eyed Mender” (2004), terminando o espectáculo com Peach, Plum, Pear. Aplaudidos frevorosamente pela audiência, que entretanto se levantou, pedindo um encore, Joanna e companhia voltariam ao palco para a despedida, com On a Good Day e Baby Birch.
Entre a harpa e o piano, Joanna, dona de uma deliciosa e inconfundível voz, encantou aqueles que reservaram a sua noite para a ouvir. Elogiando Portugal, agradecendo aos presentes pela gastronomia portuguesa (“thank you for your food!”) e a magnífica Sala Suggia da Casa da Música, desfez-se em “mui obrigadas” aos presentes. Desenganem-se aqueles que esperavam ouvir uma Joanna num registo mais agudo. Esta menina soube demonstrar o poder da sua voz num registo diferente daquele que se pode ouvir nos álbuns de estúdio, porém, ainda assim, foi capaz de surpreender os espectadores que, deliciados e atentos, se deixaram envolver na fantasia das suas músicas.
Para quem teve o privilégio de estar presente, assistiu-se a uma óptima surpresa, onde sonho e imaginação foram bem-vindos à banda-sonora criada na Sala Suggia. Para aqueles que não tiveram tal privilégio, resta-lhes, se quiserem aceitar a sugestão, assistir a um dos outros espectáculos agendados para Portugal, no Teatro Aveirense e no CCB.
Reportagem The National - Campo Pequeno
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De volta a Portugal, os The National foram desta vez recebidos por um Campo Pequeno a abarrotar. Após a última vez em Portugal, no Super Bock Super Rock, não havia ninguém por se render aos encantos da banda norte-americana. Assim sendo, não foi de admirar que o concerto esgotasse e que as expectativas fossem elevadas para um dos concertos mais aguardados do ano.
A abrir, estiveram em palco os Dark Dark Dark, banda oriunda de Minneapolis cujo som fez as delícias do público ansioso. Foram temas como “Something for Myself”, “Make Time” e “Trouble No More” que mostraram porque é que os próprios The National são seus fãs. Os instrumentos eram rodados pelos membros da banda, tanto como a voz principal das músicas. Para fechar 40 minutos de música com influências maioritariamente folk, “Daydreaming” revelou-se deliciosa para o efeito.
Entretanto, já o recinto ia encolhendo e as pessoas lá se chegavam cada vez mais perto. Vinte minutos passavam das 22h quando por fim as luzes se apagaram e tudo naquela sala se centrou no palco. Escusado será mencionar os gritos, as palmas, as mãos no ar. De copo de vinho na mão, Matt Berninger, centro do palco, microfone a postos. Aqui vamos nós.
E fomos. Primeiro embalados por uma melódica “Start a War” e logo de seguida com “Anyone’s Ghost”, já menina para arrancar um par de gritos ao vocalista. E apesar de “High Violet” ser considerado a consagração plena da banda, não escapa a ninguém que é “Alligator” que recebe mais pedidos de músicas para serem tocadas. Avistava-se um cartaz em particular com duas palavras apenas: “Lit Up”. Apesar desse desejo não ter sido concedido, “Secret Meeting” veio agitar os fãs, que entoavam a letra a plenos pulmões.
No ecrã de fundo, passavam imagens em directo da banda sobrepostas umas nas outras, provocando efeitos fantasmagóricos. Mas nada causa mais arrepios que ouvir um recinto a gritar “I'm on a bloodbuzz, yes I am, I'm on a blood buzz” em sintonia. A multidão jubilava com os instrumentais a que temos sido habituados pela banda. Baterias disciplinadas até ao osso, trompetes que enchiam a sala e guitarras com uma energia admirável.
Após tamanha demonstração de afeição por parte do público, Matt não resistiu a avançar no palco e olhar para a sala em jeito de retribuição. Um olhar sincero de quem nunca deixa de ser surpreendido pelo carinho dos fãs portugueses. Logo de seguida entra em cena “Slow Show”, antes de “Squalor Victoria” e “Afraid of Everyone”. Durante a última, o ecrã encheu-se de olhos gigantes, uma imagem intimidadora que complementa uma letra recheada de medo e desconfiança.
Mas os momentos altos da noite estariam guardados para temas mais antigos como “Abel” – provavelmente o momento mais alto (e por alto, refiro-me a barulho) da noite – ou “All the Wine”. Aaron Dessner, claramente assoberbado, perdeu-se em agradecimentos ao público e fascínio com o recinto escolhido. A cúpula aberta do Campo Pequeno enriqueceu o ambiente e tornou o concerto num autêntico espectáculo sob as estrelas.
Houve várias surpresas no concerto e uma delas foi a banda tocar “Lucky You”, retirada do álbum “Sad Songs for Dirty Lovers”. Não, não é uma canção esperançosa, é «provavelmente o tema mais triste que temos», garantiu Matt Berninger. Antes do encore, ouviu-se uma soberba “Fake Empire”. E se “Terrible Love” era vista como a equivalente deste tema para “High Violet”, o resultado não é, de todo, semelhante. Um instrumental de encher ouvidos – e alma – ficou no ar enquanto a banda abandonava o palco para o primeiro encore.
De volta, uma surpresa para os fãs portugueses: “Friend of Mine”, tocada ao vivo pela segunda vez na vida da banda (tendo a primeira sido há cerca de sete anos). «Não chegámos bem lá, faltou um bocadinho», brincaram, no final. Mas ficou clara a emoção que tocar aquele tema para o público lisboeta lhes trouxe. A anunciar “Mr November”, Aaron garantiu que essa sabiam como tocar. A multidão delirava, braços no ar e a letra entoada aos gritos.
No seguimento da energia que os dois temas haviam trazido, eis que chega “Terrible Love”. Matt desceu ao público, entrou pela plateia adentro, enquanto alguns fãs seguravam o fio do microfone e outros corriam para se aproximar do cantor. A custo, conseguiu voltar ao palco, de onde saiu em seguida, seguido por todos menos pelo baterista Bryan Devendorf. Outro encore?
Sim, outro encore. Depois do Super Bock Super Rock, talvez fossem mais a pensar que não do que os que pensavam que sim, que talvez eles voltassem a cantar a “About Today”. E voltaram. Se no festival de Verão foi a cereja em cima de um bolo delicioso, no Campo Pequeno foi um revivalismo dessa mesma noite mágica. Para o final, microfones desligados. Os músicos à beira do palco, de instrumentos em riste. Pediram ajuda para cantar a última música do concerto. E tiveram-na. Pulmões cheios e vozes mais ou menos afinadas foram ingredientes para uma “Vanderlyle Crybaby Geeks” crua e nua como só esta banda conseguiria arrancar a uma audiência.
Como já vem a ser hábito, outro concerto grandioso dos The National terminara.
Emoções ao rubro, melodias comoventes e letras sinceras – os ingredientes perfeitos para este amor terrível.
Reportagem Band of Horses - Lisboa
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O primeiro concerto dos Band of Horses em Portugal não podia ter corrido melhor, tanto pela adesão do público como pela dedicação dos músicos, claramente apaixonados pela capital lisboeta. O local escolhido foi a Aula Magna, que, a rebentar pelas costuras, serviu de palco ao concerto de apresentação do recente Infinite Arms (2010), um terceiro esforço menos inspirado, mas que consolida a banda do romantismo melancólico como um dos nomes de referência do indie rock.
Antes da onda country dos refrões chorudos e chorados, coube a Mike Noga (and the Gentlemen of Fortune) abrir a primeira parte do evento. Espirituoso, encantador e afável, o músico australiano, fazendo-se acompanhar por um baixista e baterista, desde cedo se fez sentir em casa, pontuando pausas musicais com um humor seco que cativou a plateia recheada da sala de espetáculos lisboeta. “Aplaudam para eu me sentir o Bruce Springsteen”, brincava Noga, mas decerto que não há assim tantas diferenças entre este e o Boss – de guitarra em punho, o australiano dava voz a um folk rock calmo que, apesar de não brilhar pela inovação, não servia de intruso musical aos tímpanos de quem o ouvia. Destaque para as entusiasmadas covers de Bob Dylan com a ajuda do teclista dos Horses, Ryan Monroe.
Pézinhos de lã ou não, os Band of Horses fizeram uma entrada modesta no palco da Reitoria, abrindo com ‘Evening Kitchen’, de Infinite Arms. Oscilando entre os três álbuns da sua bagagem musical, o quinteto, oriundo de Seattle, abriu desde logo com um rock expansivo e emocional – ‘The Snow Fall’, ‘Weed Party’ e ‘Older’ foram alguns dos temas que, apesar de belos (com a ajuda dos fundos cénicos da natureza), aborreceram com a sua constância temática e sonora. Não se pode culpar a dedicação de uma banda tecnicamente capaz e equilibrada, cuja performance se manteve focada nos floreados à la americana da sua estética musical, mas talvez a escolha de um alinhamento que se desfez dos seus trunfos mais para o fim.
Não obstante, é em Ben Bridwell, front man e o único membro que permanece desde o lançamento do aclamado ‘Everything All The Time’ (2006), que se vê o guia para uma catarse emocional que apenas tomou relevo no segundo tomo do concerto – se é em ‘Compliments’ que é marcado o ponto de viragem, é em ‘No One’s Gonna Love You’, perante um fundo estrelado, que o público acorda verdadeiramente da hipnose. Seguidamente, a belíssima e arrasadora ‘The Funeral’ já flui com uma naturalidade quase orgânica e, apesar de Bridwell romper uma corda da guitarra a meio, isso não impede o enorme aplauso de um público sedento de ouvir o que os Band of Horses fazem de melhor – agitar e emocionar, quase sempre em união.
Após uma pequena pausa, o conjunto volta para o inegável momento da noite: ‘Is There A Ghost’ enche e preenche todos os presentes com uma explosão de emoção arrebatadora que a todos faz levantar das cadeiras e que marca o colossal contraste com o início e ‘The Great Salt Lake’ arremata um concerto longo, mas cativante.
Missão cumprida para os americanos na sua primeira aparição em terras nacionais. Esperemos que voltem depressa.



















