Reportagem Sudoeste TMN 2012
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1 de agosto - Receção ao Campista
Eis que o verão vai a meio, mas ainda há muito por aproveitar, exemplo disso é o Festival Sudoeste TMN, que se realizou de 1 a 5 de agosto. Nomes como Ben Harper, Martin Solveig, Jessie J, Eddie Vedder e até os portugueses Xutos & Pontapés marcaram presença na 16.ª edição deste festival que atraiu milhares até à Herdade da Casa Branca, situada perto da pacata vila da Zambujeira do Mar.
Comparativamente ao ano passado, o recinto apresentou algumas mudanças e a montanha russa, uma das grandes atrações do Festival em anos passados, já não faz parte do lote de diversões que normalmente estão disponíveis para os visitantes.
Depois das pequenas actuações no Palco Super Bock nos dias 28 a 31 de julho, a receção ao campista no dia 1 de agosto animou os poucos festivaleiros presentes no local. Pouco depois das 22h15, coube a Pete Tha Zouk a honra de inaugurar o Palco TMN. “Use Somebody” dos Kings Of Leon, “Paradise” dos Coldplay e “Somebody that I Used to Know” de Gotye foram algumas das músicas presentes no repertório do DJ, além das originais.
Já passava da meia-noite quando o cabeça de cartaz para o primeiro dia se apresentou em palco. O francês Martin Solveig deu mais de duas horas de música onde não faltou o conhecido single “Hello”. A animação pelo resto da noite foi assegurada por Afrojack, o DJ holandês que produziu “The Way We See the World”, hino oficial de outro famoso festival de verão, o Tomorrowland, que se realiza na Bélgica.
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2 de agosto
Depois de uma noite morna em termos de público, onde estiveram pouco mais de 20.000 pessoas presentes, espera-se mais afluência neste segundo dia do festival. Talvez devido à situação complicada que o país atravessa ou simplesmente por desinteresse no cartaz, a verdade é que em edições passadas estiveram presentes mais de 60.000 festivaleiros.
O britânico Ben Howard estreia-se em Portugal e foi logo notável o entusiamo geral no público, o que fez o artista ficar surpreendido, mas depressa deixou a timidez de lado e se entregou ao público numa actuação excelente. O sol ainda paira na Zambujeira e o artista desmancha-se em elogios e agradecimentos aos festivaleiros. Músicas como “Only Love”, “The Wolves” e “Keep Your Head Up” do primeiro e, até agora, único álbum de estúdio “Every Kingdom” não faltaram na setlist do artista. Fica a esperança que volte em breve. Pouco depois das 21 horas, Ramboiage apresentava-se no Palco Groovebox para um público inexistente, porque a grande maioria concentrava-se no Palco TMN à espera de Matisyahu que começou a sua actuação às 21h30. De cara lavada e novo visual, o artista americano foi identificado pelas suas músicas, uma vez que sem a barba que era característica habitual, muitos dos festivaleiros pensaram que se tratava de outro artista e chegaram mesmo a abandonar o palco.
“I’m glad to be back”: foi assim que Matthew Miller, conhecido como Matisyahu começou a interacção com o público para de seguida iniciar o concerto com “Crossrodes”. Seis anos depois da estreia em Portugal, o cantor veio apresentar o novo álbum “Spark Seeker”, marco da nova era que Matisyahu iniciou em 2011, ao causar nova polémica com a mudança radical de visual. O concerto contou com a actuação do novo single “Sunshine”, mas os mais conhecidos “Too Late”, “Shalom/Saalam e “One Day” não foram esquecidos.
Já perto das 22 horas, no palco Meo Reggae Box, Freddy Locks acabava a actuação com “Dancing & Flying”, enquanto no Palco Groovebox o duo brasileiro The Twelves animava os poucos curiosos que estavam por ali. Quase uma hora depois entram no Palco TMN os Fat Freddy’s Drop. Vindos do outro canto do mundo, o grupo com uma originalidade sonora única caracterizada pelos próprios como “hi-tek soul”, numa mistura perfeita que vai do casual jazz ao reggae, os Fat Freddy’s Drop trouxeram a animação de volta ao palco TMN, onde o popular single “Boondigga” foi um dos poucos pontos altos do concerto, apesar do constante empenho da banda.
É chegada a vez do americano Ben Harper actuar, não fosse ele cabeça de cartaz do segundo dia do Sudoeste TMN. Porém, se as expectativas estavam altas, depressa se esmoreceram. Aquela que era uma das actuações mais esperadas da noite, nem o dueto do artista com uma convidada “muito especial”, diga-se, Vanessa da Mata, salvou do tédio que caracterizou este concerto. Mal humorado ou não, a verdade é que Ben Harper recusou actuar um dos mais famosos singles, “Steal My Kisses” e nem o pedido insistente de alguns fãs o demoveu.
Segue a setlist do concerto: "Number", "Don’t Give Up", "Rock n’ Roll is Free", "Spilling Faith/ Get There", "Amen Omen", "Suzy Blue", "Atlantic City", "Diamonds", "All my Heart Can Take", "Mutt", "Lonely Day", "Wide Open Light", "Fly One Time", "Better Way", "Glory" e "Boa Sorte" (com Vanessa da Mata).
Em 2009, Marcelo D2 já tinha actuado no festival mas desta vez volta para encerrar o Palco TMN. Cerca de 26.000 pessoas, segundo números da organização, apresentaram-se hoje na Herdade da Casa Branca.
Tal como Fat Freddy’s Drop, Marcelo D2 não desistiu do público que se mostrava apático. Entre as actuações de “Eu já sabia”, música no novo trabalho do rapper, “Qual é?”, “Deixa Eu Falar (Desabafo)”, “Mantenha o Respeito”, “Vai Vendo”, até ao inteligente beatbox de Fernandinho com batidas de “Seven Nation Army” dos White Stripes, o último concerto da noite prometia acabar em grande.
Marcelo D2 ainda tinha alguns trunfos na manga e utilizou-os mesmo antes de acabar ao chamar algumas fãs ao palco para sambar. Pode-se mesmo arriscar que Marcelo D2 salvou a noite com o devido mérito. A partir das 4 horas, a festa seguia no Palco Groovebox com a dupla Rui Vargas e André Cascais.
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3 de agosto
Esta aí mais um dia de festival e com as portas a abrirem às 15 horas, já se vêem alguns fãs a correrem para as primeiras filas. Eddie Vedder é cabeça de cartaz, pelo que se espera um dia mais concorrido no Sudoeste TMN.
Hoje, no palco TMN inicia-se os concertos às 20 horas e é a Glen Hansard que cabe o privilégio de começar neste terceiro dia de festival. O músico irlandês actua sozinho, apenas na companhia da sua guitarra mas nem por isso deixa de dar um concerto espectacular. No seu folk rock, com influências de Leonard Cohen, Van Morrison e Bob Dylan, o artista vem a Portugal apresentar “Rhythm and Repose”, o seu primeiro álbum a solo, uma vez que fez parte, durante anos, do grupo irlandês The Frames e do duo The Swell Season. Num estilo bastante informal, o artista entrega-se ao público e dá os primeiros acordes na música “Say It To Me”, seguida da balada “Leave”. Enquanto está a atuar, o músico apercebe-se de um helicóptero a voar sobre os céus da Zambujeira e, em título de brincadeira, diz “Fuck off helicopter” e aponta a guitarra como se de uma espingarda se tratasse. O público entra na brincadeira e imita Glen Hansard, o que contribui para uma cumplicidade ainda maior entra o músico e os festivaleiros que assistem ao seu concerto. Segue-se “Low Rising” e um entusiasta “Obrigado”. Pode-se ver um misto de surpresa e felicidade na cara do artista quando, sensivelmente, a meio do concerto, o público vai-se compondo para assistir a um dueto entre Glen e Eddie Vedder. “In these arms” e “High Hope” foram também parte da setlist do músico que pode-se considerar uma pérola musical com pouca gente a saber apreciar esse facto. Cá esperamos Glen Hansard novamente em Portugal, num formato mais apropriado ao estilo musical do artista.
Entretanto, no Palco Groovebox, é a vez dos Best Youth. O duo português, que junta electrónica e indie rock, mostra uma óptima noção de ritmo e harmonia na EP Winterlies. Perto das 21 horas, apenas um fã os aguarda mas quando a banda começa a tocar, a música electrónica funciona como íman e o público vai-se acercando e rendendo à banda, que começou a dar os primeiros passos sendo um dos Talentos Fnac. Ouvem-se os acordes de “Wait For Me”, quando às 21h25 é hora de Richie Campbell, no Palco TMN, começar a sua actuação. Este ano tem sido recheado em concertos para o artista, que não ainda não parou neste Verão. Depois dos concertos no Sumol Summer Fest, em Junho, e na Expofacic, poucos dias antes da actuação no Sudoeste, Richie traz de novo a 911 Band e ainda uma convidada especial, Ikaya. Os dois artistas conheceram-se este ano, quando Richie Campbell estava na Jamaica em trabalho.
Com o novo álbum a sair entre Outubro/Novembro, o músico atraiu milhares de fãs ao Sudoeste e contagia todos os que ainda não conheciam o seu trabalho. Com uma entrada electrizante, o músico não pára um único segundo em palco. Termina a sua actuação com a tão famosa música “That’s How We Roll”, mas para quem ainda não teve o privilégio de assistir a Richie Campbell, pode ainda ir ao Azurara Festival, no dia 25 de agosto.
Voltando ao Palco Groovebox, Nicolas Jaar Live começou às 22 horas. Vindo de Nova Iorque, o já considerado prodígio da música eletrónica vem a Portugal promover o seu álbum de estreia "Space Is Only Noise". Cerca de 50 minutos depois, as atenções viram-se novamente para o Palco TMN. É notável a afluência de pessoas neste dia, contrariando o que se vira nos dias anteriores.
James Morrison volta a Portugal depois dos concertos nos Coliseus em março e, na bagagem, traz “The Awakening”, o novo álbum que tem conquistado milhares.
“You guys are fucking amazing” - é assim que o músico demonstra a sua felicidade perante mais de 32.000 pessoas presentes. Na setlist estavam êxitos dos três álbum do artista, tais como “Beautiful Life”, “Get To You”, “In my dreams”, “I Won't Let You Go”, “Broken Strings”, “Slave To the Music”, “Nothing Ever Hurt Like You” e “You Give Me Something”, que o público cantou em coro com Morrison. Cerca de uma hora depois, “A Wonderful World” marca o fim desta actuação espectacular e o artista despede-se com uma vénia ao público. Às 00h30, chega um dos concertos mais aguardados pelo público.
Eddie Vedder, dos Pearl Jam, apresenta-se a solo. Com o seu ukelele, chapéu de palha e blusão de ganga, Vedder parou o Festival durante a sua actuação. Em nenhum dos outros palcos estavam as bandas que deveriam estar a tocar em simultâneo, porque o músico queria que o público se concentrasse no Palco TMN. Numa actuação que teve direito a protesto contra o fecho de um Surf Camp na Ericeira, nada faltou: “I Am Mine” e “Better Man” dos Pearl Jam, um dueto com Glen Hansard, passando por “Hard Sun” até à última música “Keep on Surfing on The Free World”, que Vedder cantou com um fã, sem dúvida que os fãs não se podem queixar da dedicação do artista, depois de ter actuado mais de duas horas e meia. Até tiveram direito a ouvir Eddie Vedder a falar Português, ainda que estivesse a ler um discurso já escrito em papel.
Meia hora depois do previsto, é ao britânico Elliot John Gleave, conhecido como Example, que cabe encerrar a noite no Palco TMN.
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4 de agosto
Depois de um dia em que o recinto esteve bem composto, esperava-se que o vazio não voltasse à Herdade da Casa Branca. Quando os Calle 13 começaram às 19h45, pouco mais de uma centena de pessoas assistiam ao concerto de estreia da banda em Portugal. Os irmãos vindos de Porto Rico actuaram alguns dos maiores hits dos seus quatro álbuns: “Baile de los Pobres”, “No Hay Nadie Como Tú” e “Vamo' a Portarnos Mal”, música onde se viu Cabra, vocalista principal, a tirar a t-shirt, ficando em tronco nú, mas nem isso atraiu mais gente para o Palco TMN.
Este dia estava marcado para começar bem cedo e dez minutos depois dos Calle 13, Mary B começava no Palco Groovebox, numa actuação entediante, onde apenas cinco pessoas dançava ao ritmo das músicas que a DJ ia passando, sem nunca desviar o olhar da mesa de mistura. Já no Palco Meo Reggae Box, o projecto português Chapa Dux começava às 20h00. A banda de reggae/ska, oriunda de Sintra, teve a sua grande rampa de lançamento no Rock Rendez Worten Awards, em 2011, de onde saiu vencedora, e já actou no festival SWSX no Texas, nos Estados Unidos. A boa-disposição e o carisma musical do vocalista Di, assim como também dos restantes membros da banda, foram pontos a favor dos Chapa Dux que prometem marca posição forte no reggae português.
De volta ao palco Groovebox, perto das 21 horas, actuavam os Orelha Negra, nesta que era a segunda passagem da banda pelo Sudoeste, depois da estreia no festival em 2010. A banda composta por Sam The Kid, Fred Ferreira, João Gomes, Francisco Rebelo e DJ Cruzfader tinha um público bem numeroso a assistir ao concerto e aproveitou para apresentar os novos temas do segundo disco de estúdio, que chegou às lojas a meio do ano.
Em simultâneo, entravam os The Ting Tings no Palco TMN, depois de em 2009 já terem passado pelo festival Optimus Alive. O duo formado pela irreverente Katie White e pelo experiente Jules de Martino alcançou a fama com o álbum “We Started Nothing” e tenta conquistar com o mais recente trabalho “Sounds from Nowheresville”. Da setlist fizeram parte “Great DJ”, “Hang It Up”, “Give It Back”, “Guggenheim”, “Hit Me Down Sonny”, “We Walk”, “Fruit Machine”, “Shut Up And Let Me Go”, “Hands”, “Keep Your Head” e terminaram com o famoso single “That's Not My Name”.
O relógio marcava 22h50 quando os veteranos Xutos & Pontapés pisaram o Palco TMN. Há mais de 33 anos no activo, a banda de rock portuguesa atrai público de várias gerações e começa o concerto com os maiores êxitos do disco “Cerco”.
Durante todo o concerto, o público acompanhou em uníssono, neste que foi o concerto mais concorrido neste quarto dia de festival, seguido dos Orelha Negra. “A Casinha” foi a música que encerrou a actuação dos Xutos às 00h10.
Depois de um concerto menos bem-sucedido no Festival Paredes de Coura, no ano 2005, os The Roots eram os cabeças de cartaz neste penúltimo dia do Sudoeste TMN. Os americanos da neo soul, com mais de 25 anos de carreira, deram mais de uma hora e meia de concerto e não se esqueceram dos singles “The Next Movement”, “You Got Me” e “Proceed”, para um público não muito atento. Fica a esperança que a banda volte em nome próprio.
Num festival predominantemente marcado, este ano, pela música electrónica, a versão DJ dos Gorillaz, ou seja, os Gorillaz Sound System, no Palco TMN e Expander no palco Groovebox conduziram a festa até altas horas da madrugada.
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5 de agosto
O último dia do Festival Sudoeste TMN seria dedicado ao pop e rock, com nomes como The Vaccines, Jessie J e o DJ residente, David Guetta. Espera-se outro dia mais concorrido que ontem, pois assim que abriram as portas, às 15 horas, eram muitos os fãs que corriam na esperança de um lugar na primeira fila e, vinte minutos após as portas abrirem, perto de uma centena de fãs da britânica Jessie J estavam junto das grades, com cartazes e faixas de apoio à artista.
O palco TMN é o primeiro a dar início à última vaga de concertos, com a banda californiana Best Coast a estrear-se em Portugal. Trazem dois álbuns na bagagem, “Crazy For You” editado em 2010 e “The Only Place” lançado este ano. A vocalista ia soltando uns rápidos e tímidos “Thank you”, mas o público não estava ali para ver Best Coast. A postura apática da banda só mudou quando alguém levantou um cartaz que dizia “We love you, Best Coast”. Entre músicas dos dois álbuns, como “Last Year” ou “Summer Mood”, a sensação veranil que era esperada, estava bem apagada. Até o vestuário negro da banda dava uma impressão meio morta à actuação que durou apenas 45 minutos.
A próxima banda no Palco TMN, os The Vaccines, tinham uma dura tarefa em mãos: despertar o público que parecia adormecido. Não precisaram de fazer muito, apenas com a entrada da banda, o público reagiu e não deixou a banda ficar mal. “Teenage Icon” e “Post Break-Up Sex” foram as músicas que seguiram, depois de um sedutor “Good Evening” por parte do vocalista, sem se esquecer de agradecer por estar de volta a Portugal.
Já depois das 22 horas, o trio Two Door Cinema Club volta a Portugal, depois da estreia no Festival Paredes de Coura. Há quem estranhe o sucesso da banda, pela sonoridade parecida em várias músicas, mas continuam, cada vez mais, a marcar posição no mercado musical. Com um novo álbum quase a sair, “Beacon”, os Two Door Cinema Club começaram o concerto com os grandes singles de Tourist History, o álbum que os levou à fama. “Cigarettes in the Theatre”, “Undercover Martyn”, “This is The Life”, “Come Back Home” e “Sleep Alone”, do novo álbum, foram algumas das músicas na setlist da banda para este concerto, onde se viu toda a gente a acompanhar a banda no grande hit “I can talk”, música que fez parte dos anúncios publicitários do Sudoeste TMN, em 2011.
As espectativas estavam agora depositadas na artista britânica que era cabeça de cartaz do dia 5. Jessica Ellen Cornish, conhecida no mundo artístico como Jessie J, era a mais esperada por milhares que se deslocaram para assistir à estreia da cantora em Portugal. Muitos confundem-na com outros ícones da pop, como Katy Perry ou Lady Gaga, mas Jessie J veio mostrar o seu valor artístico. Já não tem a habitual franja que foi imagem de marca durante algum tempo, mas a essência está toda lá.
Antes mesmo da artista entrar em palco, ouviam-se os fãs a chamar pela cantora que, à hora marcada, apresenta-se palco de calção de ganga, top preto e casaco rosa, com “Do It Like a Dude”. Durante o concerto, foram várias as vezes que Jessie J brincou com público, estando estampada a felicidade pela recepção calorosa que o público fez quando entrou em palco. Sem nunca parar em palco, Jessie J quase chorou a cantar “Who You Are”, acompanhada pelos fãs. Mesmo perto do fim, a actuar “Domino”, a artista mandou a banda parar para chamar à atenção de alguns festivaleiros que se estavam a agredir, dizendo que ela não estava ali para fazer com que lutassem, mas sim para distribuir amor e sorrisos. E ainda avisou que estava de olho neles, caso voltassem a repetir. Se Jessie J já tinha levado toda a gente na Zambujeira a saltar em “Laserlight”, com a dupla actuação de “Domino”, o público estava ao rubro e queria que a actuação se prolongasse, mas fica a promessa para a próxima vez que a artista regresse a Portugal.
Segue a setlist do concerto: "Do It Like a Dude", "Who’s Laughing Now", "Rainbow", "Stand Up (Mix com One Love, One Heart)", "Climax" (do cantor Usher), "Never Too Much" (de Luther Vandcross), "Abracadabra", "Nobody’s Perfect", "Who You Are", "Price Tag", "Laserlight" e "Domino".
Já ninguém tem dúvidas do espectáculo que David Guetta proporciona, tanto a nível visual, com pirotecnia e confettis, como a nível musical. Mesmo sendo a quarta vez consecutiva que o DJ e produtor francês faz parte do cartaz do Sudoeste, sem contar as múltiplas passagens por Portugal a título próprio, ninguém fica parado quando Guetta começa a tocar. Na setlist estavam alguns dos originais como “Titanium”, “Sexy Bitch”, “Love is Gone”, “Without You” e também alguns remixes de “Fix You” dos Coldplay e “I gotta a feeling” dos Black Eyed Peas. A noite prometia, mas acabou cedo. Foi uma actuação mais curta que o ano passado, tendo em conta que este ano era Guetta que fechava os concertos no Palco TMN. Era Borgore e Andy C + MC GQ, no palco Groovebox, que estavam encarregues de animar os festivaleiros pela madrugada fora, num festival que foi marcado pela fraca afluência de pessoas.
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Reportagem Super Bock Super Rock 2012
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5 de julho
O Super Bock Super Rock deste ano decorreu sem falhas, sem pó nem filas, mas isso deveu-se mais à falta de público que propriamente às melhorias no recinto. Naquela que foi, em termos de cartaz, a pior das três edições que se realizaram no Meco, já era de esperar que a afluência de público diminuísse... mas não tanto. O que se ganhou em termos de condições e de acesso perdeu-se em espírito. Pouco trânsito, pouco pó, nenhum concerto verdadeiramente incrível.
O primeiro dia não começou, de todo da melhor forma. Os Salto, em substituição de Pete Doherty (substituição no mínimo estranha) trouxeram o seu rock genérico e orelhudo ao festival, não conseguindo entusiasmar por aí além os poucos que estavam em frente ao palco principal. Soaram um pouco melhor no Rock in Rio, onde tocaram num palco com um quinto do tamanho, mas mais uma vez mostraram que, infelizmente, não há aqui nada de novo. Muita guitarra, muito sintetizador, muitas melodias que soam iguais a tantas outras que já ouvimos antes, e muitos refrões que às tantas irritam.
Os The Happy Mess foram a seguir, no palco EDP, e assustaram, fazendo-nos pensar “São estas as bandas portuguesas que temos a tocar em festivais actualmente?”. São, tal como os Salto, muito genéricos, mas com um vocalista de má voz e uma banda numerosa que parece mais preocupada em fazer música épica que em simplesmente fazer música boa. Mais uma vez, já vimos isto milhares de vezes antes, desde as letras às melodias de sintetizadores, e sai-se do concerto sem qualquer memória do que se viu. Fast-food musical, basicamente. “Esta é a nossa subida à primeira divisão!”, diz a certa altura o vocalista. Isso mete medo.
Os Capitão Fausto, que se seguiram a seguir no palco principal, demonstraram potencial. Começam em modo instrumental, com um riff de guitarra que devia ser melhor que o que é mas que basta, e é quando entra a voz que tudo se perde um pouco (“A voz dele é mesmo assim, ou é só ele que está muito rouco?”, ouço alguém comentar). Letras iguais às que já ouvimos tantas outras vezes, em bandas da Flor Caveira e afins, e melodias que mostram alguma perícia mas não propriamente qualidade. Falta-lhes garra, talvez. Ou experiência. Ainda assim, deixam curiosidade para saber como irão evoluir no futuro: é inegável que há ali potencial. Ao segundo concerto no palco principal, ainda eram poucos os que andavam pelo recinto.
Foi com os Alabama Shakes, que tinham já algum público à sua espera, que vimos o primeiro bom concerto do festival. Meio soul, meio rock, a música do grupo americano funde muito bem uma mescla de sonoridades, sempre moldados à grande voz de Brittany Howard, vocalista com cara de poucos amigos com um talento que enche qualquer palco. Parte do público parecia conhecedor, parte parecia constituído por curiosos, mas todo ele pareceu facilmente conquistado pela dose de boa música que o grupo trouxe. O soul habita aqui, e habita muito bem. Belíssimo concerto.
De volta ao palco principal, é tempo de ver o regresso dum grupo que já antes tinha tocado neste mesmo festival, quando ainda se realizava longe das praias: os Bloc Party voltaram ao activo, e mostraram no Meco o que andam a fazer de novo. Concerto bom, provavelmente longe da forma que demonstravam antes ao vivo, onde os clássicos (Banquet foi o momento da noite) fizeram saltar os poucos devotos (sim, nem eles tiveram muita gente à sua espera), e as canções novas de Four, novo disco que irão editar em breve, despertaram alguma curiosidade pelo que se ouvirá no disco. Continuam potentes, a tocar bem o que sempre tocaram, ainda que com uma postura de “cada um toca para o seu lado e só queremos o cheque”. Nada que mine muito um concerto assim, onde se ouve boa música que (ainda) é bem tocada. Podem não ter a relevância ou a fama que tiveram antes, mas mostraram-se em boa forma. A tocarem coisas como "Helicopter" ou "This Modern Love", sair de lá sem um sorriso na cara é difícil.
Bat For Lashes já tinha começado no palco EDP, e o que se viu foi um concerto que fez pensar “sim, a noite está salva”. Canções como "Daniel" ou "Glass" soam na perfeição ao vivo, com Natasha Khan a revelar-se uma vocalista mais energética e simpática que a sua música por vezes negra poderia fazer esperar. As canções novas que apresentou soaram bem, à excepção de uma balada ao piano que soou a puro melodramatismo com direito a isqueiro, e os poucos fãs que se encontravam por perto reagiram com entusiasmo a cada pequeno acorde, cada palavra cantada, dando vontade de a ver num regresso a solo. Excelente concerto. E isto dito de alguém que não era fã.
Dá-se um salto a Incubus, que não tinham público por aí além para os ver, e que nos fizeram lembrar bem porque é já não são o nome que eram antes. Músicas como "Megalomaniac" já soaram muito melhor, quando tínhamos 16 ou 17 anos, e hoje em dia o que fazem é apenas música parada no tempo, que já não faz propriamente muito sentido. Os que lá estavam para os ver pareceram satisfeitos (faixa etária muito nova), saltando nas mais óbvias e acalmando nas novas, mas fica-se com a impressão que a banda, hoje em dia, já só significa verdadeiramente algo para um pequena parcela do público. Se estão em má forma? Não, nem por isso. Tocam bem o que sempre tocaram. O problema é que o que sempre tocaram ainda é o mesmo.
Flying Lotus começa atrasado, e desilude. No cartaz dizia Live, mas o que se viu e ouviu foi um DJ Set que não convenceu particularmente. Bons remixes, bom jogo de vídeos, mas o que se queria ver era mesmo Steven Ellison a cantar com uma banda a acompanhá-lo. Talvez da próxima.
Os Battles foram os seguintes, no palco secundário, e deram mais do mesmo para quem já os tinha visto em Paredes de Coura. Claro que, neste caso, mais do mesmo é bom. Ainda irrita a dependência que têm em samples e afins pré-gravados, que ocasionalmente deixam os membros da banda sem muito que fazer (John Stanier, baterista, é mesmo o homem que mais faz ali), mas isso acaba por não minar assim tanto um concerto sempre energético, sempre contagiante, sempre bom. Foi melhor em Paredes, mas voltaram a ser de uma competência impressionante. Só não se percebe porque é que "Ice Cream", música tão boa ao vivo, é tocada tão perto do início do set.
É muito triste ver o pouco público que os Hot Chip, às 2:40 da manhã, têm à sua espera. Com um excelente disco acabadinho de sair (In Our Heads), e com fama de incendiarem sempre as pistas de dança/palcos de festivais, não se percebe o porquê de tocarem tão tarde. Talvez tenha sido uma tentativa de after-hours... tentativa essa que, infelizmente, não correu da melhor forma. O concerto foi espectacular, claro; Over and Over foi, sem dúvida, um dos melhores momentos de todo o festival, e a energia com que tocam mesmo tão tarde é notável. Mas a energia com que tocaram nunca foi recíproca por parte de um público cansado, em pouca quantidade, que pouco mais fez além de abanar a cabeça e cantar um ou outro single. Excelente concerto, que merecia ter sido a outra hora. Mas foi mais uma prova do que já se sabe: ao vivo, os Hot Chip não falham. Os poucos que lá estavam para os ver dificilmente saíram desiludidos, tendo visto aquele que foi, talvez, o melhor concerto de todo o festival.
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6 de julho
Ao segundo dia, ainda era pouco o público que se via, mas já tudo pareciam mais composto. Culpa, claro, de Lana Del Rey, que já antes dos The Rapture tinha imensos fãs à sua espera na grade.
Os The Rapture, por seu lado, foram competentes e energéticos como sempre. Num concerto que só não foi tão com quanto o do Primavera Sound porque não foi de noite com um público bom, a banda americana deu mais uma vez perto de uma hora de pura energia, onde o ponto alto foi a óbvia "How Deep is Your Love?", de longe um dos melhores momentos de todo o festival, que demorou a arrancar devido a um problema com o teclado. Pareceram mais bem-dispostos que no Porto, provavelmente por tocarem mais cedo, e foi bom ver parte do público a render-se e a levantar os pés do chão. São, acima de tudo, uma máquina eficiente e muito bem-oleada. Já cá vinham a solo.
No palco principal, às dez da noite (com entrada pontual), seguiu-se aquela que seria a rainha da noite. Já muito, bem e mal, se disse sobre Lana Del Rey, que com um disco chegou às bocas do mundo graças à música "Videogames" (que nem é das melhores que tem). Teve actuações desastrosas aqui e ali, foi acusada de ser nada mais que uma imagem fabricada, e veio ao Meco esclarecer as dúvidas. E esclareceu-as surpreendentemente bem, dando um belíssimo concerto que só não foi memorável por estar a decorrer num festival e não numa sala fechada, durante o qual cantou quase sempre de voz afinada, por vezes com cigarro na boca (tem estilo, isso ninguém lhe tira), apoiada por um pianista e um quarteto de cordas que davam às suas músicas uma nova alma. Quer se goste quer não, há mesmo alguma coisa de especial em músicas como a óptima "Born to Die", e há realmente uma certa aura de fragilidade simpática (quem diria que iria falar tanto, e até descer ao público duas vezes, em pose de princesa do povo?) que atrai qualquer um. Se é para durar ou não, isso o tempo o dirá; mas o que se viu no Meco foi uma cantora que tem, inegavelmente, talento.
Há tempo para ver um pouco de Oh Land, e fica-se com boa impressão da cantora de Copenhaga com nome estranho. Música divertida, para dançar (como ela bem pede), e apoiada por uma banda competente. Fica-se com pena de não se ver mais. A festa estava a ser bonita.
Seguiram-se os Friendly Fires no palco principal, que mais uma vez mostraram o quão over-the-top são ao vivo. Num concerto que não diferiu muito do que apresentaram no Alive no ano passado, deu para dançar e bater o pé ao som de uma das bandas com o som mais épico e “cheio” que passaram pelo festival. Demasiado cheio até; às tantas, a fórmula começa a cansar um pouco, e as músicas soam parecidas. Divertido, sim, mas às vezes tanta diversão cansa.
Os Wraygunn começam entretanto no palco EDP, e deram mais uma belíssima de bom rock, como era de esperar. As canções do novo disco, L’art Brut, soam muito bem ao vivo, mas são clássicos como "She’s a Go Go Dancer" ou "Soul City" que fazem a festa. Às vezes esquecemo-nos de que temos bandas tão boas por cá, tão merecedoras de palcos principais em tantos festivais, e que acabam a tocar em palcos mais pequenos porque o que dita a indústria é o mediatismo e não tanto a qualidade. Mas os Wraygunn são grandes. Muito grande. Já o eram, e ainda o são. E ao vivo, isso torna-se sempre ridiculamente óbvio.
Seguiu-se M.I.A. no palco principal, com mais gente que se esperava à sua espera. À hora do concerto, entra em palco uma dj que toca um set de vinte minutos, enquanto roadies colocam palha em palco. Depois, é projectado um vídeo indiano de animação 2D que parece ter mais vinte minutos. E depois entra uma backup singer, um bailarino todo de verde que faz movimentos estranhos, e M.I.A acaba por surgir a gritar ao microfone com uma voz cheia de efeitos que torna quase impossível perceber o que diz. E o concerto foi isso: uma dj, um bailarino estranho, e duas mulheres a gritar ao microfone. Há quem goste. E é por isso que gostos não se discutem.
Os The Horrors começam a tocar no palco EDP, e dão aquele que foi, de longe um dos concertos do festival. Em modo muito mais rock do que se esperava, por vezes a lembrar uns Sonic Youth quando terem Youth no título fazia mais sentido, foi difícil manter os pés no chão e não abanar a cabeça perante o sintetizador tão perfeito, a guitarra tão bem distorcida, e o vocalista, Faris Badwan, sempre de negro que pareceu naquela noite muito mais confiante que no Coliseu, em 2010. Canções como "Sea Within a Sea" e a longa e incrível "Moving Futher Away" (em que Faris encostou o microfone ao amplificador, criando ainda mais distorção que só ajudou à festa) dão logo um concerto por ganho, e os The Horrors mostraram estar numa forma invejável, dando um concerto impressionante do início ao fim. Não tinham muita gente a vê-los, mas quem lá estava saiu certamente satisfeito. De qualquer das formas, ao segundo dia o Meco ainda estava igual ao Sahara: deserto.
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7 de julho
O último e melhor dia do festival esteve bem mais composto, graças ao cabeça-de-cartaz que, como seria de esperar, mais nome chamou: Peter Gabriel. Peter Gabriel e, claro... Skrillex.
Mas o dia começou, e muitíssimo bem, com Perfume Genius no palco EDP. Concerto minimalista, à base da voz lindíssima e do teclado de Mike Hadreas, que apoiado por um baterista (usado muito esporadicamente) e outro teclista deu um concerto que conseguiu quase conquistar o silêncio absoluto de todos os presentes. Apresentando o seu novo e enorme disco, Put Your Back N 2 It, que desde já se afirma como um dos discos do ano, Hadreas deu um concerto que só não foi memorável por não ter sido em sala fechada, mas que bem perto lá andou, com o pôr-do-sol atrás a ajudar até a criar um cenário idílico. Tímido, mas confiante, com um talento imensurável, Habreas tocou mais de 15 canções, todas elas curtas e directas, num concerto que pareceu ter a duração exacta. "All Waters", "When", e a grande "Mr. Peterson" resultam na perfeição ao vivo, com a fórmula voz-piano a ser o grande trunfo. Pelo meio ainda tocou "Helpless", de Neil Young, e "Oh Father", de Madonna, em versões despidas e emotivas. Concerto inatacável. Que venha cá a solo o mais rapidamente possível.
Aloe Blacc, por seu lado, deu o que já se esperava: uma festa. Interactivo, a obrigar as pessoas a dar abraços e a bater palmas, o vocalista mostra estar agora em topo de forma como frontman, com a voz até em melhor estado do que esteve, por exemplo, na Aula Magna, onde já tinha impressionado. Tinha poucos a vê-lo, mas foi lentamente conquistando vários que estavam de passagem, acabando com uma pequena multidão de devotos à sua frente. E confirma-se: "I Need a Dollar" é mesmo um dos melhores singles dos bons últimos tempos. É já presença assídua por cá, e que o continue a ser.
Os Little Dragon estão no extremo oposto. O concerto que deram no palco EDP, perante um pequeno grupo de curiosos, foi de experimentação, de rock com toques de psicadelismo que por vezes cansa mas nunca desanima e que é semre entregue com simpatia (a vocalista, de chapéu e óculos escuros, foi das mais adoráveis que passaram pelo festival). A meio do concerto a energia vai abaixo (no palco EDP, que irónico), e quando voltam pouco depois é como se nunca tivessem saído. Não foram o concerto do dia, nem marcaram de certeza qualquer um dos presentes, mas relembraram certamente muitos daquela que é uma das melhores razões para ir a um festival: para descobrir boa música.
E a seguir, o grande concerto da noite: Peter Gabriel. Grande em espectáculo, grande em voz, grande em termos de público para o ver (nada comparável ao que se viu antes, mas já era mais digno de um festival de Verão). Acompanhado por uma orquestra de cinquenta (!) músicos, o fundador dos Genesis deu um concerto que certamente terá ficado na memória dos devotos presentes, ainda que não tenha sido no local ideal. Pedia-se um auditório, um local fechado, para um espectáculo neste registo; ainda assim, não acabou por minar assim tanto uma actuação que cumpriu as expectativas. Gabriel continua com uma voz inigualável, teatral como sempre, e os arranjos dados às músicas ("Signal to Noise" foi incrível) não desiludem. Grande jogo de luz, ecrãs que iam projectando tanto o vocalista como membros da orquestra, um alinhamento que passou pelos temas mais óbvios (faltou "Sledgehammer", mas houve "Solsbury Hill"), e uma surpresa: um dueto magnífico com Regina Spektor, onde as duas vozes interpretaram sem falhas a belíssima "Aprés Moi". Canção, aliás, que deu azo a uma pequena falha à primeira tentativa, com Gabriel a dizer, com o estilo do costume, que este era o seu “very first fuck up”. Classe. À segunda vez correu tudo bem, e foi espectacular. Teria, ainda assim, sido de esperar mais gente para o ver, mas foi talvez o concerto em que o público se comportou melhor. Os fãs de Skrillez, felizmente, já andavam pelo outro palco.
Mais azar teve, infelizmente, St. Vincent. Belíssimo concerto o que deu, muito mais rock que há dois anos quando actuou naquele mesmo palco (e já aí tinha sido uma bela actuação), mas recebido com quase indiferença por parte de um público que já ali estava para o dubstep. Muito mais confiante, muito mais rockeira que antes, Annie foi simpática, interactiva (até fez crowd-surfing na última música), e tocou na perfeição e sempre de guitarra em riste músicas como "Cruel" ou "Actor". Poderia ter sido melhor se o som estivesse melhor (a vocalista passou metade do concerto a pedir que lhe aumentassem o som da guitarra), e se o público estivesse mais bem-comportado, mas foi uma actuação inatacável, cujas falhas vêm não da banda mas antes de circunstâncias exteriores. Mais uma que deveria cá voltar a solo. Ou num festival com um público mais bem-comportado.
E de seguida, no palco principal, aquele que era para alguns o grande nome do festival: os The Shins, que se estreavam finalmente em solo lusitano. Mais uma vez, poucos eram os que os esperavam (e havia por lá alguns fãs de Skrillex, que não sabiam que a actuação do músico tinha sido mudada para o palco secundário), mas os poucos que lá estavam eram fãs devotos, que saltaram nas músicas certas, sentiram arrepios na grande "New Slang", e que mantiveram no geral silêncio perante um concerto de rock a roçar o lindíssimo. O alinhamento podia ter sido maior, o público mesmo assim podia ter sido mais bem-comportado (felizmente os fãs de Skrillex começaram a abalar a meio da actuação), mas a banda está em excelente forma e tocou na perfeição canções que bem o mereciam. Pelo meio tocaram até a grande "Breathe", dos Pink Floyd, que pareceu não ter sido reconhecida por grande parte do público, mostrando bom gosto. São uma banda de culto, e tiveram um pequeno culto a vê-los. Culto esse que, com um concerto assim, não deverá ter saído desiludido.
O concerto acaba, e quando se chega ao palco EDP ainda toca Regina Spektor, com uma voz caída dos céus a cantar perante um público que parece saído do inferno. Poucos eram os que estavam lá por ela, todos ansiando já a entrada em palco do produtor americano. Regina foi simpática, agradeceu sempre com um sorriso aos poucos fãs que lá estavam para a ver, e é impossível não ficar com pena de não se ter visto mais daquele que pareceu ter sido, sem dúvida, um grande concerto... dado a um público que não o mereceu.
E finalmente, a terminar a noite, entra Skrillex. O rei do dubstep, o dj superstar do momento, o David Guetta em versão muito mais ruidosa e sem robôs em palco. Quem gosta, gosta. Quem não gosta, ensurdece e desespera. Um espectáculo impressionante, com luzes strobe que causariam o pânico a Ian Curtis, que começou com uma contagem decrescente de quatro minutos com música épica por trás que culminou numa das entradas mais anti-climáticas de sempre. Mas as coisas eventualmente aqueceram, como o tubarão insuflável que andava pelo público bem deve ter sentido, e foram muitos (mesmo muitos, e muito novos) os que saltaram e fizeram head-banging ao som de alguma da música mais ruidosa e agressiva alguma vez feita à face do planeta. Distorção, distorção, luzes strobe, e mais distorção. Lá está: quem gosta, gosta. Quem não gosta, foge a sete pés. De qualquer forma, o Super Bock terminou como muitos certamente o desejavam: numa rave na areia.
Correu tudo bem? Em termos de condições, sim. Em termos musicais? Nem tanto. Naquela que foi talvez a edição menos concorrida de sempre do festival, viu-se bem que o público hoje em dia é mais selectivo do que antes. Modas (Lana Del Rey) e lendas (Peter Gabriel) já não chamam tanta gente como dantes. Faltou, este ano, um cartaz conciso e certeiro como o dos anos anteriores. Espera-se mais público na edição de 2013 do Super Bock Super Rock, ainda sem data nem local divulgados.
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Reportagem Vodafone Mexefest 2011
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Este ano, o festival que conhecíamos como Super Bock em Stock voltou sob o nome de Vodafone Mexefest, resultado de alterações de patrocínios. O conceito, esse, manteve-se: 40 bandas em 2 dias, espalhadas por vários palcos. Já se conhece bem a correria pela Avenida da Liberdade, de sítio em sítio, prioridades bem definidas ou é impossível ver-se o que se quer. Para ajudar à sobreposição de bandas e diferentes localizações, o festival esgotou.
2 de Dezembro:
A fila que se viu para entrar em James Blake era, no mínimo, ridícula. Sim, há outras bandas para ver, mas é possível ver-se um pouco de todas e pagar o tal «euro por artista» em vez de se ver apenas meia dúzia. Coisas boas: a ponte pedonal sobre a Avenida da Liberdade que evitava esperas nos semáforos, castanhas de oferta em frente ao Tivoli e carrinhas de transporte de espectadores pela avenida (alguns deles com direito a concertos no Vodafone Bus), a ajudar a combater uma noite fria, que não demoveu os lisboetas de irem, neste primeiro dia de festival, ver e ouvir Handsome Furs, John T. Pearson, PAUS, Fanfarlo e S.C.U.M. entre tantos outros.
Asterisco Cardinal Bomba Caveira foram os escolhidos para abrir o cartaz e para iniciar a primeira noite de espectáculos, actuando na sala 2 do São Jorge. Não foram recebidos por uma grande audiência, talvez por ainda ser cedo, no entanto, não deixaram de entretê-la com alguns temas do EP homónimo de estreia com Salão Paroquial, Leões e Tigres e Passeio de Bicicleta. Dizem gostar de dançar e as influências tradicionais da música portuguesa são notáveis originando assim canções rápidas de adolescentes que sofreram com o amor, escola, borbulhas e salões paroquiais.
Quase ao mesmo tempo, a simpática Luísa Sobral apresentava o seu The Cherry on My Cake, na Igreja de São Luís dos Franceses.
Julie & the Carjackers foram os responsáveis pela abertura do terraço do Hotel Tivoli. A banda soube cativar o público com a sua simpatia, à-vontade e músicas que se encaixaram na perfeição para dar ainda início a um desfile de bandas. Um concerto que se esperava bom e acabou por ser óptimo. A energia dos músicos em palco era contagiosa e cada um sabia bem o que fazia, quer fosse o guitarrista que parecia estar no seu mundo de acordes ou o baixista lá atrás cujo som passava tudo menos despercebido.
Os coros femininos aquecem os temas, que remetem para influências de Bossa Nova. Apesar de cordas partidas e algum pânico por parte do vocalista a dada altura, o concerto decorreu na perfeição, com uma setlist bem pensada e cativante que incluiu Mr Williams, Chain on My Swing (também foram assoberbados pelo espírito natalício com este tema?) e a última e fabulosa Wait by the Telephone.
A Sociedade de Geografia de Lisboa serviu de pretexto para a actuação de Josh T. Pearson pelas 21h15, concerto que prometia grandes enchentes. Espaço que habitualmente não recebe concertos e que depois de três lances de escadas a subir nos levavam para uma sala centenária, com escadarias e varandins de ferro e cortinas vermelhas que dispersavam por momentos a atenção do palco da personagem barbuda e estimada de Pearson, um contador de histórias de melodias sofridas a cada nota e verso. Com um sentido de humor notório, o músico texano embalou os presentes com temas dignos de silêncio como Sweetheart I Ain’t Your Christ.
Rumamos, então, em direcção a Eleanor Friedberger, já atrasados e a falhar a actuação de Bebe, por causa da fila para os dois elevadores do Hotel (e as escadas?). Na belíssima casa do Alentejo, lá estava ela. Metade dos Fiery Furnaces, desta em nome próprio com um trio de rapazes de cabelo encaracolado. A voz é inconfundível e os temas também. Ouvia-se Heaven ainda antes de entrarmos. A sala, a transbordar (vão perceber que isto foi recorrente em todos os locais durante todo o festival), vibrava ao som dos temas de Last Summer, o primeiro álbum a solo da cantora. Estava a ser um bom concerto, mas era tempo de Handsome Furs no Tivoli. Subimos a avenida de novo e entrámos numa sala que se ia enchendo. Para ver o duo/casal de Montreal, Lisboa preferiu sentar-se, mas às primeiras notas já se encontrava de pé a dançar aos sons intensos de When I Get Back.
A pessoa mais energética da sala era, de longe, Alexei Perry, nas teclas e descalça. All We Want Baby is Everything seguiu-se e os ânimos continuaram ao rubro. O vocalista Dan Boeckner revelou estar contente por estar de volta enquanto falava sobre os temas e aquilo em que se baseavam. Serve the People, para a polícia, mas foi o What About Us o tema mais esperado.
Enquanto Capitão Fausto e You Can’t Win, Charlie Brown, dois projectos bem nacionais e em emergência neste ano, actuavam nas respectivas salas, na sala 2 do São Jorge, os londrinos S.C.U.M davam início a um concerto influente do post-punk e garage rock onde as influências de The Horrors ou Bauhaus não foram postas de parte.
Temas que oscilavam entre a voz depressiva de Thomas Cohen e um psicadelismo luminoso, com distorções de guitarras a puxar para o noise foram o suficiente para encher a sala e envolver os presentes num ambiente energético e tenebroso onde diferentes estados de espírito são impressos nas composições cavernosas. Com temas do EP Amber Hands e do álbum Again Into Eyes, S.C.U.M seduziram o público num concerto arrebatador onde ficou claro e registado o protagonismo que têm vindo a ganhar por todos como uma banda a seguir, sem dúvida.
Curiosidade pela explosão na internet da celebração universal ‘do coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe na despensa’ passamos pela ilustre sala da Casa do Alentejo para conhecermos a Oração, d’A Banda Mais Bonita da Cidade que cantou e encantou milhares de internautas. Entre a música tradicional brasileira e baladas rock, os temas tocados são feitos de histórias ternurentas capazes de esboçar sorrisos na multidão.
Fanfarlo já começava no S. Jorge. A sala encheu rapidamente para ver a banda de Londres, que chegou tímida com a sua panóplia de instrumentos. Melhor e com mais personalidade ao vivo que em estúdio (lembra Beirut demais, por vezes), a banda exibiu os seus dotes no saxofone e no trompete, entre tantos outros, em temas como Replicate ou I’m a Pilot. O público apreciou mas não saiu totalmente convencido pela tímida banda. Nem com a bela “Luna” lá foi. Mas o esforço valeu e em relação ao álbum foi uma boa surpresa.
No Tivoli de novo para uma breve passagem, assistia-se aos canadianos Junior Boys e à sua música electrónica. O público estava mais que cativado e continuava a entrar gente.
A caminho do metro dos Restauradores, e já sem tempo para nos estrearmos no Cabaret Maxime, reaberto para os Spank Rock, revelou-se uma aventura encontrar o local onde os PAUS iriam tocar. Vários grupos de pessoas estavam com o problema comum de saltar de entrada em entrada (são 5, no total) sem conseguir encontrar a correcta para o concerto. Por fim, no sítio certo, viu-se uma enchente de gente rumo à música do quarteto português. Uma vez lá em baixo, o pensamento era comum: pior sítio de sempre para um concerto. Na verdade, o pensamento mais comum deve ter sido: os Blood Red Shoes vão tocar aqui?! Mas isso era só no dia seguinte, uma preocupação de cada vez.
No meio da multidão, amaldiçoava a minha altura quando percebi que o problema de não ver o palco era partilhado por todos os presentes a partir da… bom, da terceira fila, provavelmente. O palco não podia estar mais alto de qualquer maneira ou os músicos tocavam com a cabeça no tecto. Por isso não vos posso dizer como eram as t-shirts especiais deles mencionadas pelo Hélio. Posso dizer-vos que foi um belo concerto e que até pediram às filas da frente que se sentassem um bocadinho durante Deixa-me Ser e apenas levantar quando o Hélio pedisse. Correu bem. Malhão, Mudo e Surdo e Tronco Nu («dedicada ao Malato») foram alguns dos temas que por ali passaram. O pedido foi de Hélio - «ajudem-nos esta noite» - e assim foi. Vissem o palco ou não, todos ouviam a música e foi essa que deslumbrou todos os presentes.
Finda um noite cansativa, a recuperação para o dia seguinte era mais que necessária.
3 de Dezembro:
Mais uma noite de concertos na Avenida com o Vodafone Mexefest. Neste segundo dia, assim como no anterior, nada demoveu os festivaleiros de se deslocarem livremente para verem nomes como Filho da Mãe, EMA, Oh Land, Toro y Moi, Blood Red Shoes e o sempre procurado James Blake.
Desta vez começamos a viagem na Igreja S. Luís dos Franceses, pelas 20h30 com a actuação do Coro Africano, constituído por 25 pessoas com uma extensa variedade de cânticos e dialectos aliados a ritmos tradicionais africanos. Capazes de se adaptarem ao ambiente e à acústica da Igreja, o Coro Africano foi uma surpresa agradável para os presentes que pareciam entretidos.
No segundo e último dia, Filho da Mãe fazia as honras na Sociedade Geográfica de Lisboa. A sala, já sabíamos, era linda, e digna de Palácio, o álbum de estréia de Rui Carvalho, membro dos If Lucy Fell ou I Had Plans. Tanto que uma senhora foi receber o público com um discurso de orgulho por terem recebido alguns concertos do festival naquele local e pedir para que o barulho durante o concerto fosse reduzido ao mínimo. Apesar disso, houve palmas para Rui Carvalho e a sua guitarra. Devido ao atraso no concerto, apenas vimos o primeiro tema e o segundo, Eusébio no Deserto.
Ali ao lado começava Old Jerusalem que também sofreu um pequeno atraso. A banda portuguesa mostrou-se contente por tocar na Igreja de S. Luis dos Franceses e falou sobre os temas que ia tocando, como Tyndale and Augustines, sobre William Tyndale, o primeiro homem a traduzir a Bíblia para inglês, o que lhe causou alguns “problemas”. O tema foi referido pela banda como «político». Saímos a meio do segundo tema, rumo ao Teatro Tivoli que se preparava para receber os portugueses Dead Combo.
O duo entrou num palco decorado como a banda nos tem vindo a habituar: a lâmpada solitária por cima das cabeças dos artistas balouçava amplamente depois de uma pequena ajuda por parte de Pedro Gonçalves. Ao fim dos dois temas iniciais, o contrabaixo foi trocado por uma guitarra eléctrica, tocada sublimemente nos temas Lisboa Mulata e Cachupa Man. A sala estava composta mas muitos estavam já a caminho de outras paragens.
EMA, uma das revelações da música alternativa do ano de 2011 apresentou-se na sala 2 do Cinema São Jorge num registo cativante e intenso, do ponto de vista da sala bastante satisfatório. Cria-se um duelo de guitarras e violino electrónico com sons ríspidos e crus adicionados à voz lúgubre de Erika M. Anderson que olha o amor e a vida como uma tragédia digna de uma broken heart girl com uma forte atitude e presença em palco.
Entretanto demos um salto à estação de metro dos Restauradores onde nos cruzamos com doismileoito, capazes de estimular uma enchente de pessoas à entrada e de colocar os presentes a par de uma dança com o single Quinta Feira. O quarteto apresenta-se com raízes entre o rock e o pop com umas breves passagens pelo ska. Apesar de curto foi uma experiência agradável e animada que não deixou ninguém ficar parado e onde o quarteto se desdobrou facilmente nas suas funções e instrumentos. A diversidade entre o público presente era enorme e inquietos, não chegaram a ter os Pés Frios.
Seguimos para o Terraço do Hotel Tivoli onde Warren Hildebrand ou se preferirem, Foxes in Fiction deu início à sua actuação utilizando-se apenas de uma guitarra e um teclado num registo experimental a desvanecer suavemente para o dream pop. Elogiado pela Pitchfork, Warren cria e reiventa novas técnicas de abordagem electrónica capazes de cativar os presentes. Será de referir no entanto um som de fundo anteriormente gravado e demasiado marcado que, ao vivo acaba por não resultar.
A banda dinamarquesa Oh Land chegou com algum atraso, mas rapidamente tal foi esquecido. Muitos já estavam de pé dançando ao som de Perfection, que deu início ao concerto. Com uma bandelete a lembrar um chifre de unicórnio, Nanna Øland Fabricius mostrou desde o início que a sua missão da noite era conquistar o público português. Não foi difícil. Não sei se houve alguém que saiu daquela sala sem se ter apaixonado pela cantora. O seu passado na dança é perceptível nos seus movimentos e os temas são facilmente digeridos.
O teclista e o baterista que a acompanham são bons no que fazem e ela também. Sempre a puxar pelo público, a energia e simpatia da dinamarquesa não deixaram ninguém imune e temas como Sun of a Gun, Voodoo ou mesmo Wolf & I fizeram o resto – a sala estava quase toda de pé e as primeiras filas mais que rendidas aos encantos da banda.
Nanna contou que tiveram a sorte de ter 3 dias para conhecer e passear por Lisboa, bem como comer Pastéis de Belém e invejou os portugueses por terem sol até tão tarde, ao contrário do seu país. Temas como Rainbow, Lean ou Deep-Sea (dedicado especialmente ao público português) deram a conhecer o lado mais emocional e romântico dos álbuns Fauna e Oh Land e fizeram as delícias dos espectadores.
Um dos pontos altos da noite teve lugar no Cabaret Maxime por volta das 23h quando os dinamarqueses When Saints Go Machine entraram em palco. Um pop sintético que nos traz à memória Animal Collective, com ritmos orientais e viagens sonoras diversificadas acompanhadas por luzes avermelhadas que aqueciam o espaço e que fazem a sala encher aos poucos. São as composições clássicas do sintetizador a intersectarem a voz mística do vocalista pausadamente que nos fazem arregalar os olhos e que nos hipnotizam criando ritmos envolventes que nos obrigam a ficar. Poderia muito bem ter sido a revelação da noite se não soubessemos o que viria a seguir.
De volta ao Terraço do Hotel Tivoli, desta vez para ouvir Beat Connection, que tocavam ao mesmo tempo que os Aquaparque. Podemos considerar, sem margens para dúvidas, que a banda de Seattle é uma das pérolas do lo-fi e chillwave da nossa geração. Escutamos In The Water e tornou-se visivél uma nostalgia presente em todos os cantos da sala, saudades do Verão ou de qualquer recordação aprazível. Por momentos podemos parece que nos encontramos numa discoteca ou num bar frequentado pela malta indie que de vez em quando gosta de fugir ao habitual apesar do teclado e da bateria que definem o ritmo apresentarem bases tipicamente pop. Os presentes das mais variadas faixas etárias dançaram eufóricos e pediram por mais à medida que viajavam entre os beats à anos 80 ou por sons mais minimalistas edificados por uma guitarra e um excelente kit de sintetizadores.
Era altura de James Blake. Pelo menos para alguns. Porque muitos ficaram na rua, numa fila que chegou ao Marquês (eu disse que tinha sido ridícula). O cantor inglês, que já tinha estado no festival Optimus Alive! em Julho levou ao teatro uma autêntica maré de fãs, curiosos e – infelizmente – simples admiradores da sua aparência. O recinto continuava a encher quando o músico entrou em palco. Unluck fez as honras e foi bem escolhida. Tep and the Logic seguiu-se-lhe e I Never Learnt To Share deixou-nos perplexos: como era possível estar quase toda a gente ainda sentada?
É inegável que o contraste entre os temas em estúdio e ao vivo é muito grande. As músicas ganham força, mais ritmo e uma energia que parece puxar por nós e não nos larga enquanto não nos deixarmos levar. CMYK foi uma das favoritas (mas também não houve propriamente nenhuma que não fosse) e o festival de gritinhos e “chiuuuu” que durava desde a primeira música continuou. Se alguém ganhou, foram os gritinhos. Infelizmente. Limit To Your Love provocou algum histerismo, bem como Wilhelms Scream e o encore com A Case of You.
Corremos para a sala principal do S. Jorge onde conseguimos ouvir Toro y Moi, ainda dentro da onda chillwave e dream pop a derrapar pelo rock a que tão bem nos habituou. Não podemos infelizmente considerar Toro y Moi como um concerto capaz de marcar a noite sendo a setlist espectável, não criando assim qualquer surpresa com os temas tocados. No entanto, o público chegou-se à frente para ouvir os temas do novo álbum Underneath The Pine e ficou hipnotizado por tais temas capazes de ganharem uma nova dimensão ao vivo.
No Cabaret Maxime, Lindstrøm enchia o local com a sua música electrónica. A fila para entrar era enorme, preenchida por aqueles que ainda iam a meio de uma noite de música e divertimento. Lá dentro, o clima era de dança.
Finalmente, rumamos pela última vez para a estação de metro dos Restauradores, pelo menos no contexto do festival, para ouvirmos os tão aguardados e célebres Blood Red Shoes que ainda não se cansaram de meter os sapatos por cá. Fãs de Fred Asteire ou apenas curiosos, como seria de esperar conseguiram transformar os pares de sapatos brancos que se encontravam na sala vermelhos de dançar frenéticamente ,saltar ou simplesmente sacudir a cabeça e bater o pé aos ritmos acelarados e imparáveis de Steven Ansell. Bandas influentes como Nirvana ou Pixies são reconhecidas nos acordes de Laura- Mary Carter que em Light It Up incendiou o pavimento e os presentes a começar nas filas da frente que gritavam em plenos pulmões as letras mais que decoradas da banda britânica.
Decerto que a estação nunca esteve tão abafada como na noite de hoje onde os já experientes Blood Red Shoes divagavam entre o primeiro e o segundo álbum tocando temas como Heartsink, It’s Getting Boring by the Sea, I Wish I was Someone Better, Keeping it Close e Say Something Say Anything que levou desde início a uma espécie de riot na multidão, algo comum nas actuações da banda. Um concerto impetuoso e arrebatador que só ficou a perder pelo espaço em questão, a pior aposta da organização em termos de localização mas que nem por isso impediu o público de apreciar o que terá sido o encerramento da primeira edição do Vodafone Mexefest.
O Porto, sabe agora com o que contar. Preparem os vossos melhores sapatos e em Março, não deixem de visitar a edição nortenha do festival possivelmente mais cansativo do país. Cansa, mas sabe bem.
O movimento no Porto vai-se centrar, pelo Coliseu, Maus Hábitos, Passos Manuel e outra série de salas onde, com certeza, passará boa música.
Reportagem 25 e 26 de Maio Rock In Rio Lisboa
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25 de maio
Maré negra no primeiro dia do Rock in Rio, no já tradicional dia dedicado ao metal que trouxe os nomes do costume, mas que mais uma vez voltou a atrair famílias inteiras à Bela Vista. Visão interessante, ver quarentonas com meias de rede nos braços e miúdos de quinze anos de preto a fazer pseudo-mosh no lado esquerdo da grade. Para o bem e para o mal, relembra-nos que o Rock in Rio é, efectivamente, um festival para a família toda.
O dia começa com os Mão Morta no palco Sunset, dando arranque da melhor forma possível ao festival. Adolfo Luxúria Canibal possuído, como sempre, acompanhado por uma banda com a energia do costume (divertem-se imenso, e não o escondem) e muitos curiosos e uns quantos devotos em frente ao palco. Palco esse demasiado pequeno para um concerto tão grande, tão exemplar, onde canções como “Barcelona” ou “Anarquista Duval” foram entregues com uma perfeição arrebatadora. A certa altura, os Mundo Cão juntam-se ao grupo, complementando Pedro Laginha com a sua voz as já grandes canções daquela que há-de ser considerada por muitos a melhor banda da nossa história. E soube a bónus ouvir ainda duas músicas dos Mundo Cão: os singles “Morfina” (espectacular, como sempre) e a boa “Ordena que te Ame”, cantadas de forma sempre impressionante por Laginha (“Tem uma voz do caraças, para conseguir manter estes tons”, dizia um amigo meu ao meu lado), e com Adolfo a acrescentar gritos intimidantes (“intimidante” é, aliás, a palavra certa ao falar deste vocalista). Terminam em apoteose, com a inevitável “E Se Depois”, que tem de ser das melhores músicas punk-qualquer-coisa alguma vez feitas por cá, e é impossível não pensar que, aconteça o que acontecer, o dia já está feito. Mais uma vez digo, demasiado grandes para um palco tão pequeno.
Seguiram-se os Ramp naquele palco, com os Teratron, e tudo correu bem… até os Teratron entrarem. Há misturas que resultam bem (vénias, Throes + The Shine) e há outras que apenas soam estranhas. Mal os Teratron entraram em palco viu-se uma enorme debandada dos fãs de uma das maiores bandas de metal do nosso país. A intenção de certeza que foi boa, a execução nem tanto.
No palco principal, os Sepultura foram os primeiros, e deram um concerto que impressionou, acima de tudo, pela participação dos Tambours du Bronx, grupo de percussionistas franceses constituído por umas mãos cheias de tambores. Canções como “Requiem”, “Fever” ou a grande “Roots Bloody Roots”, que encerrou o concerto, cresceram imenso, sendo bem recebidas por uma plateia ainda não muito numerosa, mas que sabia ao que vinha.
No final, há tempo para ter uma epifania ao ver O Bisonte, banda portuguesa, no palco Vodafone (dedicado a bandas portuguesas) onde iam decorrendo showcases entre cada actuação no palco principal. Mais vale ser directo: os O Bisonte são grandes. O vocalista tem carisma do tipo sou-simpático-mas-tenho-um-bocado-a-mania-e-não-te-metas-muito-comigo, tocam todos de forma francamente impressionante para a idade que têm, e fica-se rapidamente com a certeza de que, mais ano menos ano, rebentam e tomam a música nacional de assalto. Excelente concerto que deram, revelador de uma óptima banda que pode vir a ser verdadeiramente grande. Gente nova a fazer coisas assim tão boas por cá não há muita. Vénias.
De volta ao palco principal, era a vez dos Mastodon, que actuaram perante uma plateia que ia crescendo lentamente. “Poderoso” é o adjectivo perfeito para o concerto do grupo de rock de barba rija, que com riffs de fazer estremecer o chão e aproveitando a passadeira que entrava pelo público dentro (parte do palco que os Metallica têm usado nesta digressão), incendiaram o parque da Bela Vista. Notava-se que bastante do público era fã, mas acima de tudo que mesmo os que não eram ficaram convertidos. Abandonando os discos mais antigos e concentrando-se maioritariamente no recente The Hunter (do qual tocaram nada mais nada menos que dez músicas), mostrando o quanto crescem ao vivo canções como “Black Tongue”, que teve honra de abertura, ou “Blasteroid”. Viu-se mosh e “mosh” (aspas para quando putos se tentam armar em rebeldes e andam aos encontrõezinhos… há sempre muito disto neste festival), mas viu-se acima de tudo uma plateia que foi aumentando ao longo da actuação, cada vez mais conquistada pelos barbudos que fazem magia com as guitarras (e que tocam, diga-se, com uma energia espectacular). Um amigo meu dizia-me, no final, que “estes gajos são do melhor que se vê no rock actualmente”. Com concertos assim, afirmações destas não hão-de estar longe da verdade.
E depois de um belíssimo concerto… os Evanescence, para apaziguar a juventude dos anos 2000 que comprou e devorou Fallen aquando a sua saída, sabendo mesmo hoje em dia de cor a letra de músicas como “My Immortal” (que não tocaram) e “Going Under”. Muito mudou a banda desde essa altura, nomeadamente no alinhamento, adaptando uma postura mais electrónica no mais recente (e péssimo) disco homónimo. Banalizaram-se por completo. Num concerto que nunca arrancou verdadeiramente, os Evanescence mostraram-se um cliché andante, onde até a voz de Amy Lee falhou diversas vezes. As canções novas são péssimas, as antigas são tocadas sem grande alma, e o público lá vai reagindo quando os singles vão aparecendo. Não existiu nenhum momento memorável, nada que eleve o concerto acima da banalidade. Terminaram com uma versão ao vivo tremida de “Bring me to Life”, realmente, depois de um concerto assim é difícil não o interpretar como um pedido de ajuda.
Hora para a chegada dos mestres. A banda pela qual cerca de 40 000 se deslocaram a Chelas, que já tem casa em Portugal (ainda que não literalmente), mas que mesmo assim, arrasta sempre uma multidão de milhares e milhares para fora de casa: os Metallica. Pouco antes do concerto, já o recinto estava muito bem composto, numa multidão de preto sem fim, 70% dela com t-shirts da banda que estavam prestes a ver (a sério, nunca tinha visto tanta gente com t-shirts da mesma banda em toda a minha vida). Famílias inteiras, quarentões amigos há décadas, gente que nem costuma ir a concertos mas que, neste caso, pagou mais de 50€ para o fazer. E quanto “Ecstasy of Gold” começa e os Metallica entram em palco, percebe-se porquê. Podemos não gostar dos Metallica. Podemos dizer que são chatos ou repetitivos; irritantes ou banais; um cliché ou uma banda que já deu o que tinha a dar. Mas não podemos, no entanto, dizer que ao vivo não são eficientes, poderosos, e impressionantes. James Heftfield e companhia tocam com uma pica que faz falta a muitas bandas com metade da sua idade, trazem um espectáculo digno da grandeza do seu nome, e tocam com uma perícia e uma energia que dificilmente não contagiam qualquer um, quer se goste quer não. E depois há, claro, toda a experiência de comunhão imediata que é ver um concerto de Metallica: 40 000 pessoas ali para o mesmo, sabendo a maior parte das canções de cor e reagindo com entusiasmo mesmo quando não as sabem (“Beyond Magnetic”, música nova, foi recebida de braços abertos pelo público), vivendo o concerto como se em palco estivessem seus familiares ou amigos de longa data (e, ao fim de contas, é mesmo um bocado isso). E os Metallica sabem isso: sabem que significam algo, que têm famílias inteiras a comprar bilhete, e é por isso mesmo que Heftfield a certa altura diz que ali está “a família dos Metallica”. Porque é mesmo isso. Tocaram o Black Album (aquele que os pôs a tocar em estádios e afins) do início ao fim, sendo este o tema da digressão actual, passando também por temas mais antigos/clássicos como, claro, “Master of Puppets”, tocada perto do início e recebida como o hino que é, ou “Fuel”, que nunca perde impacto. Aquela não era provavelmente a primeira vez que a maior parte daqueles 40 000 os viam ao vivo, mas era como se que fosse, tanto pela recepção, como pela actuação. A banda passeia-se pelo palco, debruça-se frequentemente à beira do pit no meio da passadeira que trespassa o público para interagir com ele, e tudo é dinâmico e nunca aborrecido (e, sim, têm lasers, pirotecnia, e etc). Eis uma banda gigante que, realmente, ainda gosta do que faz, fá-lo com um sorriso nos lábios ao longo de mais de duas horas, e com uma eficiência notável. O público acende isqueiros e telemóveis na “Nothing Else Matters”, faz mosh na “Fuel”, e salta e grita como se fosse a última noite da sua vida em “Enter Sandman” (o momento da noite).
A devoção aos Metallica está viva e recomenda-se: afinal de contas, com concertos assim eles bem a merecem. Se cá voltarem para o ano (até é provável que tal aconteça), terão mais milhares à sua espera. E, ao contrário do que muitos dizem por aí (o ódio está na moda), não há mal nenhum nisso. Teriam feito valer, por si só, um dia inteiro de festival.
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26 de maio
Depois da maré negra, altura da maré adolescente. O nu metal voltou à Bela Vista, e trouxe com ele uma geração dos anos 90 bem sedenta dos singles que passavam na MTV como se não houvesse amanhã. Era a noite da geração que cresceu a ouvir Limp Bizkit, Linkin Park… e, ao fim da noite, o passado espreitava com o regresso dos Smashing Pumpkins aos palcos lusitanos.
Antes de tudo, o dia começou com os Larkin no palco Vodafone. Bom grupo, com bons músicos, onde só a voz destoa por ser do género hate it or love it. Quem gostar, gosta mesmo… quem não gostar, não. Ainda assim, estão longe de ser maus, e são mais um sinal de que por cá há malta nova a fazer boa música (claro que isto já não é novidade nenhuma, mas é sempre bom confirmar).
No palco principal, foi mesmo o nu metal que abriu as hostilidades: senhoras e senhoras, Fred Durst pode estar gordo e quarentão, mas os Limp Bizkit estão de volta. E, quem diria, estão em boa forma. Depois de um concerto bastante fraco num Pavilhão Atlântico a meio gás, a banda redimiu-se com um espectáculo feito para incendiar o público do início ao fim, graças a um alinhamento composto de singles e um vocalista que interagiu com os milhares que o viam. Nove músicas apenas e cerca de quarenta minutos serviram para fazer suar os presentes, com uma onda de nostalgia onde se reviveram canções como “My Generation”, logo a abrir, “My Way”, “Take a Look Around”, a desnecessária “Behind Blue Eyes” (era para acender os isqueiros, Fred? É que ainda nem era de noite), ou a inevitável “Rollin’” (aquele mosh parecia perigoso). Musicalmente continuam iguais, e o único crescimento que houve foi na barriga de Durst mas há que lhe dar crédito: não é qualquer um que sabe jogar tão bem com um público tão grande. É bom ver que, desta vez, estavam em boa forma.
De volta ao palco Vodafone, é hora de ouvir os blues electrificados dos Murdering Tripping Blues. Precisavam de mais de vinte minutos para que o concerto aquecesse verdadeiramente, mas bastou aquela pequena amostra para ter a certeza de que, de facto, ali há talento. Têm já o respeito de quem se tem mantido atento à cena underground portuguesa, e bem o merecem.
No palco principal, os The Offspring eram os próximos. E mostraram-se competentes, incendiando q.b. uma plateia que era agora o dobro da noite anterior, e que reconheceu mais umas canções que outras (“Pretty Fly (For a White Guy)” continua com o estilo de sempre, enquanto que “Americana” foi recebida com alguma apatia, tocando bem um conjunto de canções estável e forte. Estão velhos, sim, mas ainda estão aí para as curvas, e foi realmente um daqueles concertos que valeu pelo êxitos do passado e pela forma como os defendem bem em palco. Não houve ali grande alma, mas também não tinha de haver: tocam bem, têm boas canções, e isso basta. O público sabia ao que ia, e teve o que bem queria: um agradável regresso ao passado. Quando a banda volta ao palco para terminar com “Self Esteem”, o concerto já está ganho.
E lá estamos nós no palco Vodafone novamente, para testemunhar a energia e o sentido de humor (“It’s our first time in Rio de Janeiro, it’s great to be here!”) dos Youthless. Curiosamente, quem já os tinha visto antes e que sabia a reputação que tinham talvez esperasse mais, mesmo tendo a banda pouco mais de vinte minutos para tocar. O duo (bateria e baixo) teve, desta vez, a estreia dum teclista, que acrescentou em algumas músicas ainda mais energia; notou-se que tinha ensaiado pouco, mas resta agora esperar que o novo membro seja melhor integrado. Concerto divertido e agradável, mas quem gostou, que os vá rapidamente ver a outro sítio. Eles são capazes de muito melhor.
No palco principal sentia-se a ansiedade, o quase desespero pelo grande, enorme nome da noite: mais uma vez, os Linkin Park encheram a Bela Vista, como já o tinham feito em 2008 e, mais uma vez, foram mais que competentes. Reis do nu metal, com dois primeiros álbuns bastante bons e… sete ou oito bastante maus, a banda de Chester e companhia sacou de duas coisas, e fê-lo muito bem: a) dos singles e b) de canções mais obscuras, mas que qualquer fã da velha guarda conhece.
Parece que o grupo percebeu que é em "Meteora" e "Hybrid Theory", dois primeiros álbuns da sua carreira, que está o que realmente vale a pena, tocando nada mais nada menos que oito músicas do seu primeiro disco (palmas pela atitude). “Crawling”, “In the End”, “A Place For My Head”… canções do passado da banda, antes desta se ter perdido nos meandros do rap e produção exagerados. E o resultado foi um concerto consistente, nunca aborrecido (ainda que as duas músicas que tocaram do novo disco, ainda a ser editado… Deus do céu, que raio era aquilo?), e que contou com uma banda que soube interagir bem com um público adolescente, que o que quer é ver os ídolos a usar cachecóis, a ter bandeiras do país em palco e a atirar palhetas. Os grandes êxitos estiveram todos presentes, todos eles cantados com imensa alma por uma multidão gigantesta (meu Deus, mais de 80 000 pessoas…) que mostrou que, quer se goste quer não, o nu metal ainda não está morto… nem que tenha de viver do passado. Terminam com um trio inspirado que, por si só, teria ganho o concerto: “Bleed it Out”, “Papercut“ e “One Step Closer”. De destacar um momento em particular de todo o concerto: a inserção de um excerto de “Sabotage” (surpreendentemente bem tocada), dos Beastie Boys, em “Bleed It Out”. Claro que aquele público maioritariamente abaixo dos 20 não reconheceu aquela canção monumental, mas terá sido difícil para quem não o fez esconder um sorriso lacrimejado perante a atitude dos Linkin Park. Foi bonito.
E foi no concerto seguinte, em mais um regresso ao passado (desta vez mais distante, mesmo dos anos 90), que se viveu o grande momento da noite; aliás, diga-se que foi, até agora, o grande momento do Rock in Rio. Os Smashing Pumpkins vieram ao palco e ao longo de duas horas desfilaram êxitos a roçar a perfeição em todos os aspectos, entregando um concerto que certamente ficará na memória (mesmo naquela memória a longo prazo) dos fãs presentes. Sim, a formação não é a original… mas que interessa isso, até certo ponto? O grande líder da banda está lá, acompanhado por um trio de músicos espectaculares, e continua tão genial como sempre. Que falhas podem ser apontadas contra aquele trio poderosíssimo de canções que abriu o concerto, onde “Zero”, “Bullet With Butterfly Wings” e “Today” fizeram cair o queixo a qualquer um? Que dizer daquele solo incrível de “Starla”, onde um Corgan sorridente mostrou o porquê de ser um dos grandes mestres da guitarra da música actual? E, meu Deus, aquela cover absolutamente arrepiante de “Space Oddity”? E o alinhamento, a roçar a perfeição (tocaram duas novas, do disco a editar em setembro, e soaram muitíssimo bem), onde nem a absolutamente incrível “The Begining Is the End is the Begining” (talvez a sua melhor música, quem sabe), muito raramente tocada ao vivo, faltou? “1979”, “Cherub Rock” (provavelmente das maiores canções de rock de sempre), “Ava Adore”…Até Corgan, que no Campo Pequeno foi frio e distante (mas genial, claro), pareceu mais simpático que o normal, tocando frequentemente com um sorriso no rosto, e interagindo com o público mais que o normal (aka muito esporadicamente ao longo de duas horas). Foi um conjunto de canções incríveis, tocadas na perfeição absoluta; “Tonight, Tonight” e “Disarm” foram inesquecíveis, por exemplo… tal como a épica (e quem diria que Corgan teria a inteligência de ir buscar esta ao baú?) “X.Y.U”. Por vezes quase de ir às lágrimas, por vezes de fazer saltar os chãos e atirar os pés ao ar, mas sempre genial, foi um concerto inesquecível para quem estava verdadeiramente de olhos postos no palco.
O público, que lá estava maioritariamente pelos Linkin Park, e confrontado com um vocalista que não tem bandeiras em palco e pouco faz além de tocar e cantar como Deus, reagiu com pouco mais que apatia (aliás, muito dele abandonou o recinto logo depois da banda de nu metal). Era de esperar; não era o dia certo para eles. Mas quem lhes deu verdadeiramente uma hipótese, quem lá foi por eles (aqueles fãs que me rodeavam, na quinta fila, que o digam), dificilmente não terá saído de lá com um sorriso do tamanho do mundo e com uma recordação para todo o sempre. Concertos assim são raros. É pena que, dos poucos mais de 80 000 presentes, muitos não o tenham visto com olhos de ver. Quem o fez, no entando, certamente nunca há-de esquecer.
E será ainda com esse concerto em mente que alguns voltarão lá esta semana, para continuar o primeiro festival de Verão do país. Festival esse que, para o bem e para o mal, traz cá nomes que outros poucos trariam (sim, Bruce Springsteen pode bem vir a ser o concerto do ano). Afinal de contas, como bem disse uma amiga minha, não vai ser interessante poder dizer que vimos o Stevie Wonder na Bela Vista?
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Reportagem Festival Ecos do Sado 2011
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O Festival Ecos do Sado teve no passado fim de semana a sua segunda edição, dois anos após a edição de estreia.
O evento espalhou-se pelo que se pode considerar que sejam as três principais salas de concertos do underground setubalense neste momento. A Ecos tem sido uma das principais forças de organização de concertos em Setúbal, liderada pelo incansável João Miguel Fernandes, responsável também pelo recém estreado documentário "Setúbal Tem Alma Musical". Numa altura em que a afluência aos concertos na cidade tem ficado um pouco aquém da ambição, o momento de abertura deste festival passou o teste: Os Surveillance, duo composto por Tiago Martins (ex-Porn Sheep Hospital, Ella Palmer) e Inês Lobo, contaram com uma casa bem composta no bar ADN. O que se ouviu durante os 20 minutos do concerto foi um rock experimental maioritariamente conduzido pelo baixo – naturalmente simples e directo, apesar das referências noise e math. O verdadeiro descolar do concerto esteve no último tema, com o convidado Gonçalo Duarte dos Lydia's Sleep a acrescentar uma muito bem vinda camada de ruído de guitarra.
Aos Gato Por Lebre e aos Common Fluid, relativamente desconhecidos por estas bandas, coube a ingrata tarefa de evitar a debandada de um público desinteressado, lutando contra os problemas técnicos que foram surgindo. Os primeiros conseguiram entreter uma pequena parte do público com o seu indie-rock-tradicional-português (ver Diabo Na Cruz, Os Pontos Negros), ao passo que os segundos debitaram um rock alternativo à moda de Seattle.
Por último, e para uma plateia mais reduzida do que aquela que iniciou a noite, estiveram os Lydia's Sleep, uma banda que sofreu algumas metamorfoses ao longo do último ano. Os intercâmbios saudáveis com os portuenses Equations e os lisboetas I Had Plans trouxeram os setubalenses para longe do pós-rock melancólico da sua encarnação anterior, e para as praias do pós-hardcore e math-rock. Não é de admirar portanto que o reportório até agora conhecido, que os consagrou vencedores de ambos os prémios do Concurso de Bandas de Setúbal no princípio deste ano, tenha ficado de lado para este concerto.
Embora a duração do concerto tenha sido curta, por culpa de alguns atrasos, os rapazes mostraram que os novos temas estão sérios e vão dar que falar quando forem gravados.
Nota: A ausência da crítica ao concerto de Ella Palmer deve-se ao facto de o repórter ser elemento da banda.
A abrir as hostes do segundo dia, na Capricho Setubalense, estiveram os Wind Koala. Esta é uma das novidades no panorama setubalense, composta por membros dos defuntos Red Smoking Indians. Num concerto de apenas 15 minutos, os jovens apresentaram três temas de um indie pop barulhento e acelerado, actual e fresco, repleto de sintetizadores e ritmos dançáveis. Os Wind Koala tiveram a sua estreia ao vivo apenas uma semana antes deste concerto e contam com apenas 3 meses de existência, pelo que o caminho até agora se avizinha promissor.
Para os Deception Point, também de fora de Setúbal, temia-se uma debandada semelhante à do dia anterior, mas conseguiram combater a predisposição do público para a apatia. Apesar de alguns problemas com o som, entregaram de forma bastante sólida o seu rock duro com toques de prog.
Os Blame The Skies são uma das principais novas esperanças da cidade de Setúbal, e também os sucessores mais directos da escola dos More Than a Thousand e Hills Have Eyes. O que os destaca destes dois colossos do peso nacional são as guitarras virtuosas e um jogo de vozes mais elaborado – há duas variedades bastante distintas de grito e ainda os refrões melódicos do baterista Diogo Miguel a fazer lembrar Aaron Gillespie dos Underoath. Este é um dos pontos em que os Blame The Skies se destacam de outras bandas do género: a distribuição do trabalho vocal por três vocalistas (dois deles dedicados) faz com que nunca percam o fôlego. Os temas do EP "Home For Courage", produzido por Vasco Ramos (More Than A Thousand), podem ainda não ter uma diversidade à altura das capacidades da banda, mas as novas músicas apresentadas alargam o espectro estilístico dos Blame The Skies para extremos mais pesados e também mais leves. Haja dinheiro para gravar álbum.
Seguem-se os Moe's Implosion do Montijo, à beira do lançamento do primeiro álbum de originais, "Light Pollution" (a ser editado pela Raging Planet ainda este ano). Ao funk-metal de antigamente, os Moe's Implosion apuraram as sensibilidades melódicas e juntaram uma injecção de prog espacial, como o que se ouve na abertura do concerto com "Space Fado", mas também de riffs mais pesados a roçar o nu-metal (é bom ver que ainda existe quem apoie a causa). Num concerto que consistiu principalmente em músicas do álbum de estreia, ainda houve tempo para relembrar "Fat Phony Chicks" do EP Morning Wood, seguida de uma versão de "Feel Good Hit Of The Summer" dos Queens of the Stone Age. A energia em palco continua explosiva como sempre, e a interpretação das músicas foi a de uma banda muito coesa e segura. A fechar esteve o novo single "Tip Of The Tongue", com uma força superior à da gravação.
O último dia da segunda edição do Festival Ecos do Sado realizou-se à tarde no salão nobre do Club Setubalense e foi a derradeira surpresa do fim de semana, com uma casa muito bem composta. No início da tarde tocou Diogo Marrafa, um jovem habitué dos concertos da cidade por mão de várias bandas rock, mas desta vez em nome próprio. Apesar de alguma insegurança inicial terá conseguido estabelecer a empatia necessária com a sala para dar vida às canções acústicas que até agora eram um talento desconhecido do rapaz.
Por alteração de horários, Azevedo Silva, um dos dois nomes grandes do dia, actuou em segundo lugar, acompanhado de outro guitarrista e uma violinista. Directamente da linha de Sintra, a sua postura relaxada de comediante stand-up contrastou com o desfile de canções urbano-depressivas. O alinhamento, composto por temas fortíssimos dos três albuns a solo, não deixa margem para dúvidas: este é um artista cuja (injusta) ausência de apelo mainstream se deve apenas à negritude das canções. Como ele próprio comenta ao olhar para a setlist, o único título que evoca alguma pálida sugestão de alegria é "carrossel". Nem todas as pessoas que se deslocaram ao Club Setubalense nesta tarde de domingo esperavam ouvir refrões amargos como "sabe a pouco o que a vida nos reservou", de "A Morte", mas poucos terão ficado indiferentes. Os ânimos subiram com "Manel Cruz e a Canção da Canção Triste", perto do final, muito por culpa dos ritmos digitais acrescentados. Talvez seja esse o segredo para o eventual sucesso comercial do cantautor – uma secção rítmica para disfarçar um bocadinho a tristeza.
Em seguida actuaram os Kalafate, um projecto jovem de Setúbal que estava inicialmente programado para dar início ao espectáculo. Os temas envolviam experiências entre o blues e a música tradicional portuguesa, com uma interpretação simples e nem sempre certa. No final, o concerto incluiu ainda uma colaboração com o Charroco da Profundura (uma espécie de Zé Povinho de Setúbal, sustentado pelo Facebook), com gravações vocais que acompanhavam um instrumental da banda. Sendo um projecto tão verde, o concerto pecou pelo enquadramento entre dois artistas de nível – talvez a abrir o dia pudessem ter sido uma surpresa mais agradável.
Por fim, aquela que foi provavelmente a jóia da coroa do Festival Ecos do Sado, Rui Carvalho, também conhecido por Filho da Mãe. O guitarrista dos If Lucy Fell que em nome próprio se faz acompanhar apenas por uma guitarra clássica é neste momento um dos maiores virtuosos do país. Como é que um concerto em que a única voz é uma guitarra clássica é suficiente para prender a atenção de um salão nobre repleto de jovens e velhos nos dias que correm? Com um álbum verdadeiramente genial como é o "Palácio" (Rastilho, 2011), recheado de músicas épicas, que cruzam o clássico com o novo. No final do concerto, após um aplauso que parecia nunca mais acabar, o Filho da Mãe disse não ter mais músicas para tocar, e ameaçou "vocês não sabem onde é que se meteram", antes de se lançar num improviso noise carregado de loops e reverberação, para trazer o punk de volta à guitarra.
O aplauso voltou e o festival terminou em beleza, marcando pontos pelo ecleticismo que foi, em boa parte, recebido de braços abertos pelo público.
É de altos e baixos que se fazem as experiências culturais para remar contra a crise neste sector.
Fica a organização de parabéns, Setúbal vive.