Festival Bons Sons com periodicidade anual
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O Festival de Música Portuguesa - Bons Sons regressa em 2015 para assumir uma periodicidade anual, depois de um ciclo de 5 edições bienais. Desde a primeira edição em 2006, decorridas 5 edições de sucesso, passaram pelo festival 138 mil visitantes em busca das diversas experiências musicais presentes nos 121 concertos.
Em Julho do ano passado, aquando da nossa entrevista ao director artistico do festival, Luís Ferreira, o mesmo revelava que: "... sentimos que no actual contexto temos que repensar a forma para cumprirmos melhor os objectivos iniciais do BONS SONS" - parte dessa nova estratégia foi agora revelada:
Em 2015, o Bons Sons promete um cartaz sem repetições, exclusivo ao que de melhor se faz no panorama nacional, novas parcerias e momentos únicos e inesquecíveis aos visitantes que se deslocarem de 13 a 16 de Agosto à aldeia de Cem Soldos em Tomar.
Para conheceres melhor o festival sugerimos a leitura integral da entrevista que pode ser lida aqui!
Reportagem Deafheaven no Porto
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Os Deafheaven são, sem dúvida alguma, um dos casos mais fascinantes no actual panorama da música pesada. Ao longo dos últimos anos, o grupo de São Francisco tem dado muito que falar com o ecletismo da sua sonoridade, onde a agressividade e frieza do black metal convive harmoniosamente com a candura do shoegaze e a beleza etérea do post-rock. Essa viagem por diversos mundos musicais já lhes valeu rasgados elogios por parte daqueles que entendem esta exploração estilística e duras críticas por parte dos adeptos do tradicionalismo dentro do metal. Seja como for, uma coisa é certa: poucos serão aqueles que se mantêm indiferentes quando o nome da banda é mencionado, o que fez com que o seu regresso a Portugal para duas datas – uma em Lisboa e outra no Porto- suscitasse imenso interesse.
Foi ao som de “Brought to the Water” que os Deafheaven iniciaram uma memorável e intensa actuação - talvez a mais inspirada das suas visitas ao nosso país. Em fase de promoção ao mais recente “New Bermuda”, optaram por tocar o álbum todo, o que até acaba por ser compreensível se tivermos em conta que a maior parte das bandas se sente mais próxima da sua mais recente criação artística. Além disso, os temas do novo disco resultam extremamente bem ao vivo, não perdendo a força e emoção que têm em estúdio. Ao escutar composições como “Luna”, “Come Back” ou “Baby Blue” apercebemo-nos igualmente que “New Bermuda” é uma proposta extremamente equilibrada: apesar de se tratar possivelmente da obra mais abrasiva e pesada que os Deafheaven gravaram até agora, conserva toda a melodia e delicadeza sonora que também caracteriza o colectivo. Aliás, é precisamente essa dualidade, o confronto entre escuridão e luz, que os torna tão especiais e origina músicas ruidosas mas poéticas e sublimes, numa eterna dança entre fúria e graciosidade. Essa capacidade de derrubar barreiras e albergar uma panóplia de emoções explica igualmente o porquê de a plateia ser tão diversa – não havia somente fãs de metal na audiência mas também membros de outras “tribos”.
No entanto, todos tinham a intenção de apreciar a magnífica experiência sonora que o grupo proporciona, intensificada pelo registo apaixonado e explosivo do carismático vocalista George Clarke - detentor de arrepiantes berros ensurdecedores, que contrastam muito bem com os ocasionais momentos suaves da parte instrumental. Num concerto verdadeiramente arrebatador e que tem tudo para figurar em listas de melhores do ano, o final deu-se com “Sunbather” e “Dream House”. Quando saímos do Hard Club, sentimos que vimos uma grande banda no seu período áureo. Detractores à parte, os Deafheaven estão aqui para ficar.
Antes, Amalie Bruun - a líder do projecto Myrkur, aqui com banda - foi responsável pela primeira parte deste evento. Contudo, por muito interessante que a música desta senhora dinamarquesa seja em disco, ao vivo faltou ambiente e magia. Demasiado tímida e com claras dificuldades em tocar guitarra (compensando um pouco nos teclados), Amalie mostrou necessitar de mais experiência de palco. A mistura que faz de black metal com folk escandinavo resulta muito bem em estúdio, mas o concerto foi demasiado morno. Talvez no futuro a possamos ver com mais poder.
Reportagem Super Bock Super Rock 2015
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Novo ano, novo Super Bock Super Rock. É verdade. Depois de algumas edições no Meco, o SBSR resolveu mostrar, mais uma vez, a sua capacidade camaleónica, mudando-se com conta, peso e medida para o Parque das Nações. Perdeu-se algum orçamento, perdeu-se em público, mas ganhou-se em termos de conforto e de facilidade de acessos. O som é que precisa de ser melhorado. Mas já lá vamos.
Descemos até ao Parque das Nações para levantarmos a nossa acreditação, e qual não é o espanto quando vemos uma enorme fila para trocar os passes pelas pulseiras. A confusão instalou-se e as pessoas iam perdendo a paciência. Normal para um primeiro dia. Adiante.
Lá dentro, tudo parece bem organizado e arrumado. Alguns brindes, barracas de comes e bebes espalhadas um pouco por todo o recinto e uma boa delineação dos palcos. E, imagine-se: uma facilidade enorme em circular pelo recinto. Estava pouca gente – aliás, ao final do dia, a organização adiantou que passaram pelo recinto 18 mil pessoas. Poucos milhares para um festival como o SBSR.
E quanto à musica? Bem, começámos a aventura com King Gizzard And The Lizard Wizard, banda essa que já tinha passado por outro festival português em finais de novembro do ano passado. Garage rock psicadélico e krautrock – com a força de duas baterias – são os estilos que podemos definir para a banda australiana. Com seis álbuns e dois EP’S lançados, o coletivo australiano deu um concerto em velocidade de cruzeiro, praticamente baseado nos últimos álbuns I’m In Your Mind Fuzz e Quarters!. Temas como “I’m In Your Mind Fuzz”, “I’m Not In Your Mind”, “Cellophane” e “The River” foram alguns do que o pouco público presente pôde presenciar. Poucos, mas bons, já que já viam algumas cabeças a abanar. Bom começo.
Passámos diretamente para a MEO Arena, o maior palco deste festival, para assistirmos à atuação do duo alemão Milky Chance, que tem visto o single “Stolen Dance” rodar com insistência nas rádios. Mas a coisa não correu por aí além; além de não ser o estilo de música apropriado para as 19h da tarde, é sempre ingrato abrir o certame no palco maior. Conclusão, os Milky Chance tocaram para muito poucas pessoas, e isso, num pavilhão de grandes dimensões, nunca é bom sinal.
Do pouco que vimos, saltámos diretamente para Perfume Genius no palco EDP (situado ao lado do Pavilhão de Portugal). Novamente, pouca gente a assistir e, novamente, outro problema: o estilo de música que não se adequava nem às horas, nem ao próprio espaço. Ainda por cima começou mal; logo na primeira música o sistema de som falhou, pelo que o concerto ficou interrompido durante alguns minutos. Mas Mike Hadreas, que dá voz ao projeto Perfume Genius, aproveitou para saltar para a plateia e dar abraços a alguns fãs sortudos. Quando os problemas se resolveram, deu-se início a uma atuação bonita e intensa, mas que não chegou ao nível do anterior concerto no nosso país. Não obstante, é sempre um prazer ver este pequeno génio a atuar. Sempre muito teatral e expressivo no que faz, a humildade das suas canções deixam-nos deliciados, casos de “Grid”, “Sister Song” ou a inevitável “Queen”. Sem ser culpa da banda, já se notava aqui graves problemas a nível de som, já que o espaço não era o mais indicado. Era urgente uma mudança.
Voltámos a MEO Arena para The Vaccines e, após tantos concertos em Portugal, já não são o que eram. Ou melhor, não conseguem ser melhores que isto. A reação da plateia foi sempre algo mista, apenas exaltando-se em singles como “Teenage Icon” e “Wreckin’ Bar (Ra Ra Ra)”. Infelizmente faltou a “Post-Break-Up Sex”, mas o concerto também não valeria muito mais com essa edição. Atenção, não estamos a dizer que o concerto foi mau ou que a banda de Justin Young não vale nada, apesar de produzirem melodias próprias para adolescentes. Não. O som por eles debitado é que soa a muito mais do mesmo e, apesar de, por vezes, este indie rock soar algo frenético e colocar a plateia a dançar, não foram assim tantos os milhares a prestar atenção ao concerto. Todavia, as filas da frente pareciam muito exaltadas. E saber isso já é motivo de orgulho para uma banda.
Não ficámos para os últimos acordes porque Little Dragon já atuava no palco EDP. A banda sueca já tinha à sua frente uma boa mancha de público, que não tirava os olhos da excêntrica vocalista Yukini Nagano. Os Little Dragon já tinham estado no Meco, pelo que resolveram experimentar ir até ao Parque das Nações. E correu bem, apesar dos problemas com o som. Concerto hipnotizante e cheio de energia, em que ninguém mais se lembrava que um ex-Oasis estava prestes a tocar. Exceto nós, é claro. Seguimos caminho.
O cenário não era muito animador: MEO Arena a meio gás para receber Noel Gallagher e os seus High Flying Birds. Felizmente, a plateia foi-se compondo razoavelmente, pelo que Noel pode contar com um bom número de assistência. Foi com os singles do mais recente disco, Chasing Yesterday, mas principalmente com temas dos Oasis, que ocorreram os pontos altos do concerto. Afinal, estávamos perante a metade mais criativa de uma das grandes bandas dos anos 90 e da britpop. Sim, Noel tem bons temas, caso de “Everybody’s On The Run” ou “Lock All The Doors”, mas não fazem frente a temas como “Champagne Supernova”, além da inevitável “Don’t Look Back in Anger”, guardada para o fim do concerto e cantada em uníssono pelos presentes. Foi um bom concerto e bastou um punhado de bons temas para agarrar os festivaleiros. Sim, Noel jogou pelo seguro, mas uma coisa é certa: tem mais sucesso que o seu irmão.
Já a atuação de SBTRKT decorria há alguns minutos quando chegámos ao palco EDP. Mais uma vez, o som fraco tentava manchar mais um concerto, que acabou por ser o melhor do dia neste palco secundário. Com Sampha em palco, a atuação correu melhor que em anteriores passagens por Portugal. Estava muita gente a ver, muita gente a saltar e a dançar, muita gente a vibrar com temas de SBTRKT e Wonder Where We Land, ou seja, não podiam faltar as faixas “Wildfire”, “New Dorp, New York”, “Pharaohs” e até o remix de “Lotus Flower”, dos Radiohead. Não terá sido uma das surpresas da noite, mas foi, com toda a certeza, um dos melhores concertos deste primeiro dia de SBSR. E que tal um concerto em nome próprio?
Por último, Sting, o cabeça de cartaz de quinta-feira. Naturalmente, a casa estava cheia, mas não a transbordar. Uma MEO Arena muito bem composta para receber a atuação do ex-Police. Na maioria, casais de 40, 50 e 60 anos de idade assistiam, juntos, a um concerto que foi mais uma espécie de best of da carreira, tanto a solo como enquanto membro da banda britânica.
Admitimos: fomos com algum receio para o concerto do músico inglês, mas rapidamente as dúvidas ficaram dissipadas. Sting sabe o que deve fazer em palco, e quando fazer, tendo conquistado o público com relativa facilidade. Está em forma, este gentleman de barba por fazer – houve quem dissesse que parecia um hipster. Não somos dos anos 80, mas rapidamente fomos transportados até lá – “De Do Do Do De Da Da Da”, “Roxanne” (com cover de Bill Withers pelo meio), “Message In a Bottle”, “Englishman In New York” e “Every Breath You Take”, guardada para os instantes finais. Houve até boa qualidade de som, coisa que parece quase impensável hoje em dia na MEO Arena. Houve também boa disposição e, principalmente, um espetáculo de alto gabarito.
De notar que muita gente foi de propósito ao SBSR para ver e ouvir o músico britânico. No final da atuação, muitos foram os que voltaram para casa. Nem parecia que estávamos num festival de verão.
Chegámos ao Segundo dia. A organização revelou que passaram pelo recinto as mesmas pessoas do primeiro dia, ou seja, 18 mil pessoas. No entanto, notamos maior movimento na rua, o que não deixa de ser curioso.
Já não chegámos a tempo da atuação da nossa Isaura, mas estávamos prontos para receber Sinkane, sudanês que nos tinha visitado em finais de novembro do ano passado. Depois de nos ter agradado nesse festival de outono, o músico, que bem podia fazer parte de um festival de músicas do mundo, soube conquistar o público presente, que escutou as suas influência soul e jazz.
Seguia-se Benjamin Clementine, quiçá a maior revelação deste festival. Era a estreia do inglês em Portugal, pelo que a expetativa era elevada. E foi praticamente impossível ficar indiferente a este homem.
Sentado ao piano e acompanhado por um trio, Benjamin mostrou tudo aquilo que sente com as canções de At Least For Now. Muito melodrama, muito sentimento, muita entrega e muita, muita solidão. Aquela voz (e que voz!) deixou-nos de boca aberta com a sua qualidade e dor. Sim, porque em Benjamin há tanta coisa misturada que, ao vivo, tudo se torna mágico. Escutamos ecos de Nick Cave, Tom Waits, monstros da música. Percebemos que estamos perante algo diferente e incrível. Quem não viu bem pode arrepender-se. Pede-se um concerto em nome próprio com urgência.
Continuámos pelo palco EDP para receber, uma vez mais no nosso país, o projeto Kindness, orientado pelo vocalista Adam Bainbridge. Mas o concerto não correu lá muito bem, pelo menos nos minutos iniciais. Mais uma vez, foram os problemas de som que mancharam a atuação, nomeadamente instrumentos e vozes fora de volume. Claro que a acústica difícil também não ajudou. Não houve falta de coesão, até porque, ao vivo, é tudo muito mais orgânico, tanto que existe sempre muita interação com o público. E os presentes dançaram ao som de “With You”, “World Restart” e “If Your Girl Only Knew”. Seguimos viagem, até porque iam começar as atuações no palco Super Bock.
Chegámos a MEO Arena mesmo a tempo do início da atuação dos The Drums, mas o rock que trouxeram de Brooklyn já cheira a datado. Apesar de terem lançado recentemente o álbum Encyclopedia, são mesmo temas como “Let’s Go Surfing”, “Best Friend”, “Money” ou “Down By The Water” que arrancam algumas reações da (ainda) reduzida plateia. O problema dos The Drums é que soam muito a mais do mesmo, o que lhes coloca um selo de banda que não consegue muito mais que isto. Foi um concerto morno e, por vezes, enfadonho. Siga para Savages.
Agora sim, rock a sério! As Savages, banda constituída apenas por mulheres, já têm uma série de seguidores em Portugal. O post-punk faz sucesso por cá, e a vocalista Jehnny Beth é uma fera de palco. Não, não estamos perante uma cópia de Ian Curtis, mas a sua figura e forma de estar em palco é claramente inspirada neste último. Ao contrário dos The Drums, as Savages até podem apresentar o mesmo registo em temas novos, mas pelo menos entusiasmam. Caramba! Intensas e sombrias q.b., o coletivo feminino deu um grande concerto que, como seria de esperar, também foi baseado em Silence Yourself, álbum de estreia lançado em 2013. “She Will” (dedicada às senhoras), “City’s Full” (logo a abrir) e “Husbands” foram apenas alguns dos temas muito celebrados. “Fuckers”, o tema final do alinhamento, deixou o público em apoteose. Que voltem rapidamente.
Esquecemos o concerto em conjunto de Jorge Palma e Sérgio Godinho porque resolvemos ficar no palco EDP. Afinal, ainda iriam tocar os Bombay Bicycle Club.
Muito mais enérgicos que na última vez que pisaram solo luso, os Bombay acabaram por funcionar como uma espécie de excelente prelúdio para os Blur. Temas do primeiro disco I Had The Blues But I Shooked Them Loose, como “Always Like This”, “Evening/Morning” e “What If” puderam ser escutados, mas outro inscríveis como “Your Eyes”, “How Can You Swallow So Much Sleep” e, a fechar o alinhamento, “Carry Me”, provam que os BBC estão aí para durar. O seu rock pop facilmente é transportado para temas que acabam por se tornar em verdadeiros hinos. A festa foi rija, o jogo de luzes também ajudou. Todos estavam contentes. Siga para a MEO Arena, de onde não iríamos mais sair.
Já a atuação dos belgas dEUS ia a mais do meio quando chegámos, e conseguimos constatar que o pavilhão já começava a ficar mais composto. Quanto ao concerto, bem… já vimos melhor. Uma banda com este estilo de música é mais apropriada para um São Jorge ou Aula Magna, mas bem, os dEUS já são veteranos por cá. Não terá sido o pior concertos dos belgas por cá, é certo, mas também não foi a atuação desejada para conquistar novos admiradores.
E isso começou logo pela MEO Arena, mais uma vez. O som dos dEUS não funciona naquele espaço, não é grande o suficiente para preencher o vazio. Sim, sabemos que o vocalista Tom Barman adora o nosso país e a língua portuguesa, e que nunca é demais ouvir temas como “Instant Street” ou “Bad Timing”, mas não era o momento de consagração da banda. Grande parte do público nem sequer prestou atenção ao concerto; aliás, muitos só faziam tempo para conseguirem um bom lugar para ver Blur. Portanto, apesar do concerto razoável dos dEUS, e de serem uma banda de rock sólida e consistente com excelentes álbuns de estúdio, o público não se deixou seduzir. É pena.
Chegava o momento mais esperado do dia, os Blur de Damon Albarn iam finalmente entrar em palco. No entanto, apesar de alguns terem considerado este o melhor concerto do festival, para a equipa do Festivais de Verão acabou por ser um bom e não excelente concerto, até porque tínhamos visto melhor quando a banda britânica se apresentou no Porto para outro conhecido festival.
Nas primeiras músicas, achámos um concerto um bocado morno, mortiço e sem grande chama. Não havia uma reação assim tão grande por parte do público que preenchia a MEO Arena (não esgotou) e só passado metade do concerto é que as coisas começaram a aquecer. Mas o alinhamento foi bem feito – conjugar cantigas do novo álbum The Magic Whip com os temas conhecidos de todos os outros sete álbuns conhecidos da discografia do grupo.
É importante realçar que, à exceção de outras bandas dos anos 90, os Blur souberam amadurecer. A prova está no álbum novo, que não destoa dos restantes, soando a mais um bom disco. Tudo começou com “Go Out”, numa espécie de festa que se prolongou com uma setlist com mais de 20 músicas. Houve até um fã que teve o privilégio de subir a palco para cantar e saltar com Damon na incrível “Parklife”.
Portanto, como disseram, os ânimos só aqueceram em temas como “There’s No Other Way”, “Coffee & TV”, “Beetlebum”, “Song 2”, “Girls & Boys” e “The Universal”. E aí, qualquer tema tocado, era motivo de celebração. Portanto, foi só dar tempo ao tempo para conquistar uma difícil plateia. O concerto acabou, mas ninguém queria que ficasse por ali. “Porque não 5 horas de concerto como na outra vez em que o gajo foi expulso pelos seguranças?”, diziam ao nosso lado. Bem, a verdade é que, apesar de, para nós, não ter sido o melhor concerto dos Blur em Portugal, foi o espetáculo de uma vida para os milhares que foram à MEO Arena.
Último de Super Bock Super Rock. Estava quase na altura de fazer um rescaldo, mas ainda havia muitos concertos para ver. Chegámos cedo ao recinto para ver os Modernos a deixarem a “Casa a Arder”, ou sseja, desde logo começaram a aquecer as máquinas para mais um dia em cheio de boa música. O trio, que transita dos Capitão Fausto, ganhou pontos ao mostrar o seu rock jovem e de garagem, com umas pitadas de psicadelismo. Claro que não podiam faltar temas como “Só Se Te Parecer Bem”. Começou mexido este último dia.
Logo de seguida, a também portuguesa Márcia veio acalmar as hostes, mas isso não significa um concerto pior. Muito pelo contrário. Márcia é mestre em palco, e a sua voz doce, simples e sincera transmitem tranquilidade e boas energias. A cantautora encantou não só com os temas do mais recente Quarto Crescente, como fez questão de relembrar músicas que a deram a conhecer ao público em geral. Contou com a ajuda de Criolo no tema “Linha de Ferro” e do seu grande amigo Samuel Úria em “Menina”. Também não faltaram outros temas populares como “Cabra-Cega” e “Pra Quem Quer”. É sempre um prazer ouvir a nossa Márcia. Para o final, qual mais, “A Pele Que Há Em Mim”, a fechar um belo alinhamento. Estávamos embalados.
Continuámos pelo palco EDP, até porque a seguir iam tocar os Palma Violets. Vimos cerca de 30 minutos de atuação, até porque depois iríamos passar para a MEO Arena, mas do que vimos, gostámos. É um rock aguerrido e animado que, apesar de não ter assim tantos fãs por cá, servem para entreter. Vieram com álbum fresco na bagagem, Danger in the Club, lançado em maio passado, mas foram mesmo temas antigos que mais reação registaram. Seguimos viagem.
Rodrigo Amarante já cá tinha estado noutro festival, mas o seu tipo de música também não é adequado a uma MEO Arena, principalmente quando se pede intimidade e o público conversa como se estivesse na rua. O multifacetado cantor brasileiro, que ficou conhecido como um dos fundadores de Los Hermanos, teve sozinho em palco juntamente com o seu Cavalo, álbum recebido da melhor forma pela crítica especializada. Com o violão na mão, Rodrigo foi quebrando os corações do reduzido público que se apresentava na sala. Foi bom ouvir temas como “Nada em Vão”, “Irene” e “Mana”.
Aguardávamos com expetativa o concerto dos Unknown Mortal Orchestra, banda que deu um concerto inesquecível no ano passado num festival concorrente do SBSR. Na altura ficámos deliciados e, hoje, o coletivo voltou a encher-nos o coração.
Com Multi-Love praticamente acabado de chegar para o mercado, muitos eram aqueles que queriam perceber como é que as novas canções funcionavam ao vivo. E é ainda melhor escutar estes sons à frente dos nossos olhos. Ouvir Unknown Mortal Orchestra faz-nos lembrar MGMT, Temples ou até Tame Impala. Ou seja, apesarem de soarem a banda de rock, conseguem ser muito mais que isso.
Foi dos melhores concertos do palco EDP. Apesar de, neste Multi-Love, as guitarras não terem tanta importância em detrimento do uso de teclados, as novas músicas foram tão bem recebidas como as antigas. Infelizmente, a voz do vocalista Ruban Nielson mal se ouviu nos dois primeiros temas, “Like Acid Rain” e “From The Sun”. O público lá ajudou e, na terceira música, “How Can U Love Me”, os problemas estavam finalmente resolvidos. A partir daí foi uma festa intensa e sentida. É um pop-rock psicadélico muito relaxante, tendo o seu auge em “So Good at Being in Trouble”. Depois de um concerto destes, não admira que já tenham dois espetáculos marcados (Lisboa e Porto) para o próximo mês de novembro.
Ficámos até ao fim, pelo que vimos muito pouco da atuação dos Crystal Fighters, mas valeu a pena. O pavilhão já estava bem composto e a mistura de folk, psicadelismo, eletrónica da banda não conseguem deixar ninguém indiferente. Sim, pode-se estranhar a música, mas facilmente se entranha. Fortes em palco, os Crystal Fighters provaram que mereceram pisar o palco da MEO Arena.
Continuámos pelo pavilhão, até porque o projeto FFS, ou seja, Franz Ferdinand + Sparks, ia entrar em palco. E rapidamente nos apercebemos que as músicas escritas em conjunto não causam tanta euforia como os temas de cada banda. Sim, estava muita gente no pavilhão, mas apostamos que a grande maioria apenas queria guardar lugar para Florence and the Machine. É claro que, no mundo da música, já ocorreram junções felizes e outras menos felizes. No caso dos FFS, podemos dizer que andam algures pelo meio, já que, apesar do álbum não entusiasmar, ao vivo, as músicas acabam por ganhar outra vida. Ganham brilho, força, poder. E isso nota-se até nas performances dos coletivos – Alex Kapranos e Russell Mael dançavam desenfreadamente durante todos os temas apresentados.
Do álbum FFS, ouvimos “Collaborations Don’t Work”, “Johnny Delusional”, “Call Girl” e “Dictator’s Son”. Dos Sparks, canções magníficas como “This Town Ain’t Big Enough For The Both Of Us”, “Achoo”, “When Do I Get To Sing My Way” ou “The Number One Song In Heaven”. Dos Franz Ferdinand, sem surpresa os que tiveram mais aplausos, ouvimos “Do You Want To”, “Walk Away”, “Michael” e, claro, “Take Me Out”. Incrivelmente, o som estava bom na MEO Arena, o que por si só é um motivo de celebração. Ou muito enganados estamos ou este supergrupo que destila art rock dos anos 60 veio para ficar.
A MEO Arena estava praticamente lotada. Florence Welch e os seus The Machine estavam prestes a fazer as delícias dos fãs. Afinal, era a primeira vez neste festival que as bancadas estavam praticamente lotadas, assim como a plateia em pé. Parecendo que não, Florence and The Machine era o nome mais esperado desta edição do SBSR.
E a diva de branco nem queria acreditar na receção. Uma MEO Arena quase esgotada, desejosa de ouvir aqueles hits que nos soam tão bem. Afinal, a anterior atuação de Florence em Portugal havia sido cancelada, ou seja, não vinha a Portugal desde 2010. Muita coisa mudou, mas o interesse pelo projeto não murchou; pelo contrário, está mais forte que nunca. De realçar que Florence & The Machine acabaram mesmo por ser cabeças de cartaz no mítico Glastonbury.
Uma coisa garantimos aos nossos leitores: Florence Welch é um animal de palco. Corre desenfreadamente de um lado para o outro, dança, e tudo isto sem nunca perder a qualidade vocal. Incrível. Temos a certeza que muitos ficaram espantados por tamanha energia demonstrada.
Algumas canções até podem soar demasiado semelhantes entre si, mas a máquina está tão bem oleada que esta foi uma atuação sem máculas. Sempre com uma voz angelical e cristalina, Florence Welch, no alto dos seus 28 anos, vem acompanhada por vários elementos que dão ainda mais fulgor ao espetáculo: instrumentos de sopro, uma harpa, um coro, etc. Tudo o que a jovem faz em palco é genuíno – apela à harmonia e ao amor, dirige-se às grades diversas vezes, distribui abraços e deixa-se ser adorada.
Tudo começou com “What the Water Gave Me”, do álbum Cerimonials, e logo aí previa-se um setlist recheada de êxitos. O primeiro surgiu com “Shake It Out”, terceiro tema a ser interpretado. Em “Rabbit Heart (Raise It Up)”, Florence corre descalça pelo fosso junto do público, empoleira-se juntos dos fãs e, no regresso, ao palco, leva uma bandeira de Portugal. Tão fácil!
Foram 17 canções, entre as quais “Cosmic Love”, “Sweet Nothing”, “What Kind Of Man”, “Dog Days Are Over” e, claro, “You’ve Got the Love”. Para o encore, “Third Eye” e uma música antiga, “Kiss With a Fist”.
Foram cerca de duas horas de concerto, tempo em que Florence dominou o público como há muito não se via. Um verdadeiro espetáculo, carregado de grandiosidade e que assentou que nem uma luva na MEO Arena. Grande concerto, grande entrega. Um dos melhores concertos que já passou por aquela sala. A melhor forma de fechar o festival. Desta vez, palma para vós, Música no Coração.
No final de tudo, há que ver o que correu bem e o que correu mal. Se por um lado a transição do Meco para o Parque das Nações correu sem problemas, perdeu-se a essência de ser um festival. O conforto aumentou, é verdade, mas perdeu-se em público e ganhou-se má qualidade de som, o que nunca convém. É preciso também um cartaz mais chamativo. No próximo ano, o Super Bock Super Rock 2016 decorre de 14 a 16 de julho no mesmo local. Veremos o que o futuro nos reserva.
Reportagem Paredes de Coura 2015
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2015 revelou-se um ano histórico para Paredes de Coura, tendo o festival esgotado pela primeira vez. Quando pensamos nas razões que possam ter levado a uma elevada procura de bilhetes, apercebemo-nos que o cartaz forte e coerente não foi o único factor - Paredes de Coura é simplesmente especial. A vila, pacata e acolhedora, é o local perfeito para relaxar e abstrair-nos do stress diário dos grandes centros urbanos; além disso, o recinto, caracterizado por uma encantadora paisagem bucólica, faz com que assistir a qualquer concerto neste espaço tão belo e carismático seja uma experiência memorável.
No dia 19, que assinalou o começo oficial do evento depois de algumas actuações pela vila nos dias anteriores, o palco Vodafone começou por acolher a actuação bastante agradável dos lisboetas Gala Drop, autores de uma sonoridade verdadeiramente ecléctica, onde o dub, o afrobeat ou o rock psicadélico são apenas alguns dos ingredientes usados numa explosiva receita musical.
Seguiram-se os norte-americanos Ceremony, que protagonizaram uma actuação competente onde o post-punk da actual encarnação da banda (não nos esqueçamos que o nome do grupo é inspirado num tema de Joy Division) misturou-se com a fúria punk/hardcore dos primeiros trabalhos. A mudança radical de som pode ter sido um choque para muitos, mas a verdade é que eles continuam cheios de energia, interpretando com o mesmo sentimento um tema melancólico como “Your Life in France” e um hino de irreverência punk como “Sick”. Depois desta boa primeira impressão, esperamos voltar a revê-los brevemente.
Os Blood Red Shoes estrearam-se em Paredes de Coura no já longínquo ano de 2009, tendo gostado tanto da experiência que decidiram expressar, na sua página de Facebook, a vontade de regressar ao festival. A felicidade que a dupla de Brighton sentia por estar novamente em Coura era bem visível, o que certamente contribuiu para que o rock musculado do grupo de Laura-Mary Carter e Steven Ansell, por vezes próximo do punk mas capaz de viajar para ambientes mais melódicos, fosse tocado com imensa garra e paixão.
Quanto ao setlist, temas antigos como “I Wish I Was Someone Better” (retirado da estreia “ Box of Secrets”),“Don't Ask” ou “Colours Fade” foram intercalados com outros mais recentes, entre os quais “Speech Coma” ou “Far Away”. No final, a audiência aplaudiu o retorno triunfal do duo britânico.
Também oriundos de Inglaterra, os Slowdive, heróis do movimento shoegaze, regressaram ao nosso país depois de nos terem visitado na edição de 2014 do Primavera Sound. Tal como aconteceu na estreia em Portugal, levaram-nos novamente numa sublime viagem por um delicado universo musical. A música do quinteto de Reading reveste-se de uma intensa beleza etérea – é magnífica, poética e emocionalmente poderosa. Com um setlist maioritariamente baseado no clássico “Souvlaki”, ouvimos e deliciamo-nos com temas como “Machine Gun”, “When the Sun Hits” ou “Alison”. Para o final, ficou guardada a já habitual cover de “Golden Hair”, de Syd Barrett. Magistrais, fizeram-nos sonhar de forma apaixonada, num dos momentos mais bonitos desta edição.
A encerrar as actuações no palco principal, os norte-americanos TV on the Radio, muito aguardados pelo público português, mostraram estar em excelente forma. Em digressão de promoção ao mais recente “Seeds” – o primeiro álbum gravado após o falecimento do baixista e amigo de longa data Gerard Smith - optaram por apresentar algumas novidades, como “Could You” e “Happy Idiot”, sem esquecerem clássicos como “Wolf Like Me” ou “Staring at the Sun”. Acima de tudo, esta prestação confirmou a diversidade sonora da banda de Brooklyn, frequentemente colocada no género do art rock, e serviu para testemunharmos a preocupação dos elementos do grupo para com a audiência - alguns espectadores acenderam uma tocha e outros aderiram ao crowdsurfing – o que levou os TV on the Radio a pedirem para que tivessem cuidado. Prudentes, mas ainda assim rockeiros.
20 De Agosto
O segundo dia de Paredes de Coura foi o primeiro a ter os bilhetes diários esgotados, e sentia-se bem a dificuldade em circular pelo recinto. Ainda assim, a boa disposição manteve-se e fomos brindados com algumas actuações históricas.
Num final de tarde onde o sol ainda nos fazia companhia, o palco Vodafone FM recebeu a actuação enérgica das madrilenas Hinds, anteriormente conhecidas pelo nome Deers. Já o palco Vodafone abriu com os bracarenses peixe: avião, que acabaram por proporcionar uma actuação algo morna, ainda que não haja dúvidas em relação à qualidade das suas composições.
De volta ao palco Vodafone FM, os australianos Pond, banda onde figuram elementos dos Tame Impala, mostraram ser um dos nomes mais entusiasmantes e refrescantes do revivalismo psicadélico. Músicas como “Giant Tortoise” (que possui um riff extremamente dançável) ou “Elvis Flaming Star” são deliciosamente orelhudas, ficando imediatamente no ouvido. Ao longo dos restantes dias, diversos membros do público comentavam animadamente este concerto, o que prova que os Pond têm tudo para conquistar uma vasta legião de seguidores no nosso país… resta agora colocá-los num palco maior.
Depois de ter marcado presença numa das várias Vodafone Music Sessions, o norte-americano Steve Gunn visitou a Praia fluvial do Taboão para a decorar com o seu folk sereno e de tons psicadélicos, num concerto belo e relaxante.
Quanto aos norte-americanos White Fence, foram outra das apostas da organização no prolífero movimento psicadélico, aqui numa vertente folk. Nesta ocasião, o grupo de Tim Presley apresentou os temas de “For the Recently Found Innocent”.
A fechar o palco Vodafone FM, os dinamarqueses Iceage voltaram ao mesmo local onde tinham estado em 2013. No entanto, apesar de, em disco, construírem impressionantes esculturas punk, ao qual adicionam uma forte influência de Joy Division e uma soturna atmosfera gótica inspirada pelo legado dos Bauhaus, ao vivo não conseguem recriar esse ambiente mágico, adoptando uma postura distante e deixando muito a desejar a nível de execução. Verdade seja dita, temas como “Morals” ou “Forever” não soaram tão bem ao vivo como em estúdio. Não restam dúvidas quanto ao talento deste colectivo de Copenhaga, mas em palco continua a faltar algo.
Quem não desapontou foi Joshua Tillman, mais conhecido por Father John Misty. Autor de alguma da mais emotiva folk feita nos últimos anos e uma figura mordaz em palco, Father John Misty é muito mais do que um mero artista, revelando-se um imprevisível mas divertido homem do espectáculo – por outras palavras, um verdadeiro entertainer. Basta observarmos a maneira como se comporta para chegarmos a esta conclusão – o homem usa o smartphone de alguém para se filmar a si próprio, coloca a bandeira portuguesa ao pescoço e, resumindo, cria um teatro onde é o constante protagonista. Contudo, por trás da pele de showman provocador esconde-se uma alma criativa que nos abençoa com hinos como “I love you, Honeybear”, “Strange Encounter”, “Bored in the USA” (aquela música que Tillman diz que devemos estar sempre a ouvir na rádio, tendo sido também o momento onde a plateia acendeu os isqueiros) ou “This is Sally Hatchet”. Um dos melhores concertos do festival, protagonizado por um indivíduo excêntrico mas criativo – uma personagem dotada de um carisma peculiar.
Já todos sabemos o que esperar de um concerto de The Legendary Tigerman – Paulo Furtado a ser o animal de palco e o frontman nato do costume. Todavia, essa familiaridade é desejada, queremos que aquilo que esperamos ver realmente se concretize. Felizmente, Tigerman nunca desilude e podemos sempre contar com uma sessão divertida do blues selvagem e desenfreado que o músico aperfeiçoou ao longo da sua carreira. No decorrer desta incrível prestação, escutamos temas como “Wild Beast”, “Storm Over Paradise”, “21st Century Rock 'n'Roll” ou “These Boots Are Made For Walking” e vimos um músico veterano no seu habitat natural - o palco. È preciso dizer mais?
Por fim, o momento mais esperado para grande parte dos espectadores: o regresso dos Tame Impala. A banda de Kevin Parker encontra-se numa fase curiosa da sua carreira - estão no auge da popularidade e , ao mesmo tempo, numa óbvia mudança de identidade musical, tendo, no novo “Currents”, trocado as guitarras pelos sintetizadores e o psicadelismo dos anos 60 por um registo mais dançável. No entanto, a julgar pela recepção extremamente calorosa que a banda teve – nesta que foi a primeira data da actual digressão europeia - os fãs não pareceram minimamente incomodados, pelo menos os que se deslocaram a Paredes de Coura. Num grande espectáculo, com direito a projecções de cariz psicadélico, ouviram-se novidades como “Let It Happen” e recordações como “Elephant”, “Feels like We Only Go Backwards”, “Alter Ego” ou “Apocalypse Dreams”. Uma actuação digna do estatuto de cabeças de cartaz, que será recordada durante muito tempo.
21 De Agosto
Tal como tinha acontecido no dia anterior, o palco Vodafone de Paredes de Coura abriu ao som de talento nacional, com os X-Wife, de volta ao activo depois de uma pausa de três anos. O grupo portuense mostrou que ainda está em boa forma, interpretando temas como “ Keep on Dancing” com garra e entusiasmo.
De seguida, os Allah-las vieram de los Angeles para nos contagiar com o seu surf/garage rock simples mas eficaz, que nos fez pensar em praia e tudo o que o Verão tem de bom. Contando com projecções que ajudavam a ilustrar melhor a nossa viagem musical, o quarteto revelou-se uma das maiores preciosidades desta edição de Paredes de Coura.
No palco Vodafone FM, os destaques deste dia vão para Waxahatchee, projecto de Katie Crutchfield, acompanhada pela sua banda e em estreia no nosso país. Perante uma plateia composta, a simpática e meiga artista norte-americana explorou os meandros do folk e do rock alternativo, numa actuação onde o carácter intimista deste palco contribuiu para que se tivesse criado um ambiente adequado.
Quem também surpreendeu foram os Merchandise, que já tinham marcado presença na edição de 2013 do Primavera Sound. Com uma sonoridade bastante dinâmica e difícil de descrever, onde o post-punk, a pop ou o shoegaze coexistem de forma harmoniosa, ofereceram ao público um concerto cativante, sendo uma daquelas bandas que tem tudo para singrar nos próximos anos.
Mark Lanegan é já uma figura conhecida do público português, tendo actuado no nosso país três vezes nos últimos cinco meses. No entanto, é sempre uma honra voltar a rever este senhor, autor de uma voz áspera e assombrosa, recordando ocasionalmente a de Tom Waits. Ao vivo, Lanegan cria imediatamente um ambiente negro mas estranhamente confortável, embalando-nos na melancolia poética de músicas como “No Bells on Sunday”, “Riot In My House” ou “The Gravedigger's Song”. Houve também tempo para recordar os míticos Joy Division com “Atmosphere” – um tributo que faz todo o sentido num festival onde tantos nomes devem muita da sua inspiração à banda britânica. Um espectáculo poderoso, que provou que a chama criativa de Mark Lanegan ainda se mantém bem acesa.
Charles Bradley chegou e encantou. Pela segunda vez no nosso país, o músico norte-americano honrou a tradição soul de James Brown e derreteu corações, não só com a sua voz mágica, mas também com a paixão genuína e o registo humilde com que se dirigiu a uma audiência que não parava de dançar. Acompanhado de uma banda maravilhosa, Charles Bradley apelou ao amor e à paz entre seres humanos, e tendo em conta o ambiente pobre e perigoso onde cresceu, percebe-se bem o que o leva a pregar essa mensagem. Acima de tudo, este senhor, já com quase 67 anos, é um símbolo de vitória após uma árdua batalha com a vida, sendo que músicas como “How Long”, “You Put the Flame On It” ou “Confusion” são hinos cantados por um homem grato por tudo aquilo que tem depois de ter crescido com tão pouco. Este foi, sem dúvida alguma, um dos melhores concertos que vimos neste festival… e em 2015.
Depois da prestação fabulosa de Charles Bradley, parecia que mais ninguém ia conseguir superá-lo. Ainda assim, os The War on Drugs, de Adam Granduciel, proporcionaram um concerto bonito, não fosse “Lost in the Dream” um disco majestoso, nascido a partir da mais profunda tristeza e confusão emocional do seu compositor. Contudo, apesar de temas como “ Under the Pressure”, “Red Eyes” ou “An Ocean in Between the Waves” serem simplesmente belos, talvez resultem melhor em disco ou numa sala fechada, perdendo alguma força num festival ao ar livre.
22 De Agosto
Chegamos ao último dia de Paredes de Coura, sendo que o cansaço já se fazia sentir. Contudo, ainda havia muita coisa para ver, começando pela electrónica psicadélica dos portuenses Holy Nothing, que fizeram dançar os festivaleiros. No palco principal, Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Fred Ferreira, conhecidos colectivamente como Banda do Mar, terminaram a sua digressão perante uma plateia desejosa de os ver. “Velha e Louca”, de Mallu, “Dia Clarear” e “Muitos chocolates” foram algumas das músicas escutadas.
Uma das grandes surpresas deste último dia foi Natalie Prass. Nativa de Richmond, Virginia, em disco pinta uma imagem depressiva e recheada de desgostos amorosos, mas aqui mostrou-se bastante afável, brindando a audiência com uma pop delicada, de passagens folk, e cativando-nos com a sua boa disposição e temas como “Bird of Prey” ou “My Baby Don't Understand Me”.
Já tínhamos referido o papel crucial do revivalismo psicadélico nesta edição de Paredes de Coura, sendo que o palco Vodafone prosseguiu com dois nomes desse vasto universo. Primeiro, os Woods maravilharam-nos com um folk sereno, sonhador e suficientemente alucinante, interpretando músicas como “Leaves Like Glass” e
“Shepherd”.
Seguiram-se os Temples, banda britânica para quem as décadas de 60 e 70 nunca acabaram, sendo que as referências aos Beatles da fase mais experimental ou aos Led Zeppelin são mais que óbvias. No entanto, não se pense que isso é um defeito, pois a eficácia com que invocam lendas do passado é absolutamente louvável. Entre temas da estreia “Sun Structures”, como “Colours to Life” ou “The Golden Throne”, e ainda a apresentação de uma composição inédita, os Temples provaram que o hype à volta deles é plenamente justificado.
Para quem aprecia um bom rock, a sonoridade dos Fuzz com certeza que terá agradado. O concerto do grupo, que conta com o prolifero Ty Segall na bateria, atraiu uma moldura humana considerável ao palco secundário, e a julgar pela qualidade do garage rock espacial que apresentam, há motivos para tal. Um nome a manter debaixo de olho, sendo que o mesmo se pode dizer acerca da dupla norte-americana Sylvan Esso, que espalharam um enorme charme electrónico.
A sueca Lykke Li escolheu o emblemático recinto de Paredes de Coura para o seu segundo concerto de 2015 – o primeiro na Europa. Vestida de preto, tal como os panos que enfeitavam o palco, iniciou a actuação com “I never Learn” e “Sadness Is a Blessing”, criando desde logo uma atmosfera envolvente – afinal, o repertório de Li é feito de belas peças pop. Ouviu-se também “No Rest for the Wicked”, “Just Like a Dream”, “I Follow Rivers” ou mesmo uma versão de “Hold On, We 're Going Home”, de Drake.
Li, que viveu alguns anos em Portugal, ainda arriscou umas frases na nossa língua, tentando ao máximo criar empatia. No entanto, o concerto acabou por ser demasiado curto para cabeça de cartaz, ficando a sensação que um encore teria elevado a qualidade de uma prestação satisfatória.
Os Ratatat fecharam o palco principal com chave de ouro. Adicionando elaboradas projecções a uma electrónica psicadélica, pulsante, experimental e com riffs típicos do rock clássico, a banda de Brooklyn fez-nos dançar e viajar com músicas como “Loud Pipes” ou “Cream on Chrome”. Destacamos ainda o post-punk/darkwave dos The Soft Moon, já no after hours – uma despedida perfeita para um festival inesquecível.
Reportagem Maré de Agosto
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23 de agosto
A duas edições de celebrar o 30º aniversário do Festival Maré de Agosto realizado há precisamente 28 anos consecutivos, este ano na pequena cerimónia de abertura pretendeu-se destacar principalmente os vários apoios a nível local, regional e nacional como por exemplo através da PT e do projecto "Moche" da TMN, patrocinador oficial desta edição.
Com o palco a cerca de 20 metros do mar e do principal areal da Praia Formosa, este ano os esforços para montar o espaço foram redobrados devido à passagem do Furacão Gordon. Já dizia João Pimentel, presidente da Associação Cultural Maré de Agosto que "Gordon é com muito gelo" num tom descontraído. Com gelo não foi, mas sim com algumas consequências reflectidas em estragos na marginal e na zona do festival mas que mesmo assim não coincidiram com a não possibilidade de por de pé um dos, senão o mais emblemático e maior festival de música açoriano.
E foi com música nacional mais uma vez que se iniciou o primeiro dia com os Supernada que apresentaram temas do seu primeiro álbum "Nada é possível". Como normal, o recinto devagarinho ia ganhando forma com a população que entrava e com as bilheteiras ainda com filas para os recém-chegados à ilha nas habituais viagens de barco...Depressa a energia de Manel Cruz em palco e a fusão de sonoridades através de sintetizadores do rock característico fundiu-se com a plateia já disposta ao habitual "espírito de Maré".
Seguiu-se Nneka, a cantora nigeriana/alemã cativou logo a maioria dos festivaleiros aquando da sua presença no cartaz deste ano, não só pelo seu single "Heartbeat" conhecido pelos portugueses em varias peças televisivas portuguesas mas também pela sua fusão de hip-hop com raízes musicais diferentes cantadas em inglês e no peculiar "Igbo".
A energia dos espanhóis que terminaram a noite a nível de bandas, permitiu entrar na melhor forma no espírito do festival. "Mentira politica" dos Che Sudaka foi por exemplo um ponto alto dos vizinhos ibéricos que não pararam em palco.
A finalizar, depois de algum tempo na preparação do som, terminou em grande potência a noite com os Bulldogs, a conjugar a forte presença da percussão da bateria e as produções de estúdio deste duo alemão em Dubstep.
24 de agosto
Seguiu-se mais uma noite de Maré. O início desta manteve-se estrelado e tranquilo. Da mesma forma tranquila, começaram Hamilton de Holanda e Edmar Castaneda cujo som do bandolim de 10 cordas e da fabulosa harpa do colombiano radicado em Nova Iorque transmitiram como de habitual um início de noite tranquilo e com uma fusão de sonoridades que captam a atenção de um público mais reservado mas muito atento.
Directamente da Grã-Bretanha, Charlie Winston. O cantor da nova geração de música que está a colocar-se no topo europeu e com muito sucesso por exemplo em França, trouxe ao público da Maré um ritmo contagiante, característico pelos teclados e pela harmónica ligada a um pedal de efeitos, bem como uma presença bem viva e "teatral" de certa forma, que foi o suficiente para formar um excelente espectáculo, do início ao fim.
Já de madrugada, seguiram-se mais uma vez os sons de Espanha com Judith Mateo, trazendo um estilo musical já favorito dos festivaleiros, o Folk-Rock. Judith com o poderoso som do violino conseguiu adaptar desde os clássicos, aos sons Irlandeses sempre com as raízes das Astúrias e da Galicia acompanhada pelos ritmos do rock, funk ou até ska.
Não tão "violento" num sentido positivo, segundo os que permaneciam até o fecho de portas, mas batidas suficientemente influenciáveis trouxe-nos o DJ MPS Pilot da Holanda. Misturando suavemente e com brilhante execução rítmica, os sons da Ásia, África, Oriente Médio e América do Sul chegaram para um bom pé de dança até perto das 6h00.
25 de agosto
As bilheteiras não pararam durante o dia, sempre com novos festivaleiros a chegar e o barco chegava com mais uma multidão disposta a ouvir a música do mundo na baía da Praia Formosa.
Mais uma vez, com um público mais reservado mas muito atento, e mesmo com algumas pessoas que por curiosidade "infiltravam-se" no espaço do recinto e tranquilamente sentadas na zona de relva ouviam atentamente Rabih Abou-Khalil no seu alaúde e Ricardo Ribeiro, um mestre do canto português que criavam ambos uma sinfonia perfeita com a voz adequada ao tempo do alaúde e dos ritmos do quarteto. Ricardo Ribeiro, mostrou-se muito contente por tocar em Santa Maria, adequando-se à ansiedade que sentiu previamente pelo que já sabia da diversidade cultural do festival.
Seguiu-se Lyricson, o cantor da Guiné que vive actualmente em Paris trouxe de novo o reggae à Maré de Agosto. Lyricson foi uma alteração de última hora a Bushman no cartaz da Maré por razões alheias à organização. O cantor da Guiné trabalha paralelamente em muitos concertos de Manu Chao.
De Inglaterra chegam os Crystal Fighters que mostraram possuir uma energia cativante que espalham pelos seus concertos por todo o mundo desde o Japão até à America. Techno dance e uma abrangência de variados estilos musicais tornam a música dos Crystal Fighters única e característica por exemplo em "Plage" ou "Swallow". Foi definitivamente um dos favoritos de quem se deslocou à "Ilha do Sol" no fim-de-semana de 23 a 26 de Agosto.
A noite terminou com uma tripla de dj's portugueses que enalteceu o entusiasmo do público pela diversidade de gostos musicais adaptados aos vários escalões etários no recinto. Desde rock dos anos 50, ao disco dos anos 90. A tripla "Bailarico Sofisticado" tornou o encerramento de portas possível com muito ânimo da parte de quem saía para descansar de mais uma madrugada e noite de folia e muita música.
26 de agosto
Terminou em 3º lugar o programa "Ídolos" em 2003 e desde então não faltou destaques nos Estados Unidos e reconhecimento internacional. Luísa Sobral começou a noite de domingo, no último dia do Festival Maré de Agosto. Com um disco editado e um single, esta cantora portuguesa encheu os corações dos festivaleiros com a inspiração musical transmitida pelo seu quarteto e nos instrumentos que a própria Luísa tocou tais como harpa, xilofone, violão ou contra-baixo. Um "concerto calmo mas muito bom", de uma forma simples, era assim que algumas pessoas descreviam o início da noite de Domingo.
A noite prosseguiu mais uma vez com portugueses. Desta vez os Melech Mechaya, inspirados pela música dos Balcãs, cigana, árabe, tango e claro pelo fado, foi uma surpresa especial para quem ouvia com mais pacatez o início do concerto e rapidamente se difundiu no meio da plateia que dava o seu pé de dança. "Chapéu Preto" ou alguns "covers" adaptados ao seu estilo "Klezmer", os Melech Mechaya até uma grande roda criaram no meio do público que não renunciou a energia de Miguel Veríssimo no clarinete que conseguiu terminar o concerto com os outros membros a esboçar grandes sorrisos.
Talvez os "cabeça-de-cartaz" desta edição e com pouco tempo de existência mas já numa tour mundial de sucesso, os Suecos Royal Republic terminaram esta edição da Maré a nível de concertos. Talvez iniciando com algumas dúvidas em relação à aderência de quem lhes ouviria para a hora e meia seguinte, certamente que os "rockalheiros" da Tommy Gun ou da energética "Full Steam Space Machine" sentiram o poder do público que gritou, saltou e sentiu o rock dos suecos. A dar uma pré-visualização do mais recente álbum a ser lançado em breve, os Royal Republic tocaram e cantaram para um público que mostrou conhecer esta banda que já esteve no top #1 do MTV Rockcharts. Através de Adam Grahn no final do concerto, a banda mostrou-se muito contente por tocar num sítio à partida "isolado" (comparativamente aos habituais festivais onde tocam) mas onde a energia é excelente e o público esteve mais que à medida!
A noite terminou com um português da cidade invicta. Rui Maia, mentor do projecto "Mirror People" colocou ao rubro os que ainda permaneciam no recinto para terminar a noite com as batidas deste dj que participa noutro projecto a nível da electrónica e sintetizadores na banda X-Wife. A energia sentiu-se, e o público queria que o sol nascesse ao som das batidas deste projecto Mirror People.
Tal como a Associação Cultural Maré de Agosto criou há uns anos, pela presença de um francês Antoine Laborde na organização inicial do festival a ideia de "Spirrit" com dois "r" não é nada mais do que o verdadeiro "Espírito" que só quem presencia de perto estes 4 dias num sítio único, com música de todo o mundo consegue sentir. Este ano, nem as condições climatéricas do Gordon nos dias antes conseguiram afastar a base do festival. Os marienses, açorianos e quem habitualmente desloca-se à ilha de Santa Maria no último fim-de-semana de Agosto já esperam pela edição de 2013.