Reportagem Radio Moscow - Porto
Foi no passado dia 30 que o Hard Club recebeu os Radio Moscow, antecedidos pelos Kaleidobolt, para dois grandes concertos recheados de energia sónica.
Pelas 22h00, deu-se inicio às festividades. O trio vindo directamente de Helsínquia foi o aperitivo mais que perfeito para o que viria a seguir. Num formato idêntico (bateria, baixo, guitarra/voz) e com um som a gravitar muito próximo do universo dos Radio Moscow. Os Kaleidobolt circuitam pelos caminhos do rock progressivo e do stoner rock, e souberam demonstrar uma grande maturidade sonora, especialmente tendo em conta que o projecto tem apenas três anos de existência. Durante cerca de 55 minutos, os temas de “The Zenith Cracks”, “Kaleidobolt” e “Momentum” rugiram bem alto, numa banda que certamente irá voltar para outros vôos.
Pouco passava das 23h10 quando os Radio Moscow fizeram a ponte entre Iowa e o Porto, chutando a porta de entrada abaixo e iniciando as hostilidades com “New Beginning”, do álbum homónimo lançado justamente no dia anterior. Com trejeitos muito, muito Black Sabbath, seguiu-se “Broke Down” de Brain Cycles, segundo registo da banda, para depois aumentar a toada psicadélica bem ao jeito de Hendrix com “Death of a Queen”, onde a veia mais clássica vem ao de cima.
Ficando no mesmo álbum, Magical Dirt de 2014, Parker Griggs e a sua trupe atiraram-se de garra e dentes a “There Days”, mas seria ao quinto tema que o público reagiria de forma mais apoteótica com o icónico “250 Miles” em jeito de medley com o instrumental “Brain Cycles”, temas que aliás estão de mãos dadas no alinhamento de Brain Cycles.
E é fácil de entender o porquê da magia deste tema, já que a forma e estrutura bluesy misturada com o hard rock mais psicadélico fica presa no nosso cérebro durante dias a fio. E após o final com prego a fundo na quinta mudança do medley, “Last to Know” nem deixa respirar, e “Woodrose Morning” é anunciada com pompa e circunstância como retirada do novo álbum, lançado no dia anterior, repleta de wha-wha, e onde o espectáculo de luzes é bem mais notório, num strobe diabólico a acompanhar o ritmo frenético.
Segue-se a também fresquíssima “Driftin’”, apresentando uma espécie de groove que se encontra um pouco por todo o novo álbum, e “Before it Burns” morde os calcanhares dançantes com uma dose extra de wha wha e, de novo, relembra as incursões mais psicadélicas dos anos 70 que caracterizam Magical Dirt. “Pacing”, dos poucos temas anunciados pela banda (e novamente um tema do último álbum) mostra uns Radio Moscow mais acessíveis ao ouvido comum, e rematam o tema exprimindo a felicidade de ter voltado ao Porto, numa das raras vezes que se dirigiram ao público.
Anunciada como um tema mais antigo, “The Escape” surge com o lado mais cool da banda sobre os ombros, fazendo ponte com “Dream” (atrasada um pouco devido a mais uma mudança de cordas, a mais demorada da noite), que como Parker Griggs fez questão de sublinhar, a música é nova, mas é a última do álbum e a última da noite. E que tema, pano de fundo para uma longa jam psicadélica e que, a par dos restantes temas deste álbum, se demarcam da cena mais hard rock e mergulha em campos mais fáceis de ouvir, sem nunca sacrificar a sua matriz base.
Mas, claro, não foi. Após a cerimónia de aplausos, a banda retornou para mais dois temas, do primeiro e último álbum respectivamente: “Deep Blue Sea”, tema blues à moda de Radio Moscow, e “Deceiver” para fecho do contido caos, já o relógio marcava 00h36.
Uma bela prova de amor (mais uma) em terras nacionais, onde espaços como a sala 2 do Hard Club começam a ser pequenos para conter tanta energia garage e psicadélica.
- terça-feira, 02 janeiro 2018