Reportagem Melt-Banana no Porto
Numa altura em que comemoram 25 anos de carreira, os japoneses Melt-Banana passaram pela primeira vez pelo nosso país. Uma estreia demorada, mas esse “atraso” só fez com que a ocasião fosse mais especial, ou não estivéssemos a falar de uma banda de culto que marcou o cenário da música experimental nas últimas duas décadas.
O grupo – actualmente um duo formado pela vocalista Yasuko Onuki e o guitarrista Ichirou Agata – proporcionou nesta passagem pelo Maus Hábitos um dos mais ensurdecedores concertos ao qual alguma vez assistimos. Não há palavras que descrevam fielmente o buraco negro de ruído para o qual fomos arrastados, mas a verdade é que não tínhamos vontade nenhuma de abandonar este cenário, por muito que os nossos ouvidos estivessem a ser severamente punidos (o zumbido manteve-se presente várias horas após tudo ter terminado). Tal era inevitável - a amálgama de noise, grindcore, electrónica, pop pouco ortodoxa e tudo o que esta imprevisível e dinâmica dupla se lembra de incorporar constitui um violentíssimo ataque sonoro.
Com Yasuko a revelar um saudável sentido de humor na forma como elogiou o nosso país (especificou que 90 % dos sapatos que usa são cá fabricados), o concerto fez-se assim de boa disposição e de uma surreal intensidade expressa em temas como “Candy Gun”, “The Hive” ou na brutalíssima cover de “What a Wonderful World”, clássico popularizado por Louis Armstrong.
Demorou a acontecer, mas a estreia dos Melt-Banana foi um dos mais memoráveis momentos a registar no calendário de concertos deste ano. Podemos ter perdido alguma da nossa capacidade auditiva, mas saímos da sala com o dobro da felicidade.
- terça-feira, 02 janeiro 2018