Máquina - Não se passa nada às segundas
Casa absolutamente cheia, mesmo a abarrotar, para ver os Máquina (ou, usando a grafia própria deles, MДQUIИД.) na cave da Socorro, em mais um capítulo da bela iniciativa da Saliva Diva intitulada “ Não se passa nada às segundas”. Mas hoje algo se passou, e claramente foi para mais tarde recordar.
Por esta altura já quase todos os que seguem o panorama alternativo cá em Portugal estarão cientes deste impressionante fenómeno de popularidade, mas a verdade é que o hype é real e , ao mesmo tempo, totalmente justificado - especialmente em palco , onde parece que o trio de Lisboa ainda mais incendiário se mostra, fervoroso na sua entrega ruidosa. O volume, aliás, é sempre deliciosamente elevado, os decibéis a funcionarem como plataforma de catarse dançável em que os corpos se rendem ao vendaval sonoro. Um minimalismo possante e hipnótico que “cospe” com urgência e determinação a “sujidade” ( “DIRTY TRACKS FOR CLUBBING”, assim se intitula a tão badalada estreia) do psych rock como se este emanasse de uma discoteca remota - imaginem os 10 000 Russos em modo after esotérico, e ficam relativamente próximos do que aqui se ouve.
Uma fórmula simples , mas que na verdade requer talento para ser bem executada, e que nesta tarde, ao ecoar numa cave a transbordar de animação e calor , soou particularmente vigorosa, mais viva do que nunca. Havia malta a dançar, a saltar, e estar lá dentro era como estar a dar tudo numa rave punk extraordinariamente alucinante , arrasados que fomos por esta descarga de adrenalina que teve na fúria psicadélica a sua fonte de transcendência. O ambiente idílico para os MДQUIИД , portanto, que aqui partiram tudo num potente manifesto de relevância contemporânea, e foi isso que também cativou - estarmos a assistir, em tempo real, ao período áureo de um coletivo que já ultrapassou a categoria de promessa para se afirmar como confirmação.
Além disso, se é inegável que com a quantidade de gente lá dentro ( já dissemos que eles foram responsáveis pelo recorde de bilheteira na Socorro, com mais de duzentas pessoas? Ah pois é) , quem estava mais atrás não via tão bem, é igualmente seguro afirmar que praticamente ninguém terá saído defraudado desta explosão auditiva inacreditavelmente vital - autêntica riffalhada anárquica banhada em batidas de espírito clubbing e decorada com vozes distorcidas, por vezes berradas como desabafos num motim, outras vezes lançadas como simples exclamações eufóricas. Enfim, não vale a pena resistir, urge antes abraçar e reconhecer esta grandeza . Que jarda do caraças….
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Organização:Saliva Diva
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quarta-feira, 04 dezembro 2024