Reportagem Process of Guilt no Porto
Regresso ao Porto por parte dos Process of Guilt após a excelente passagem pelo Amplifest no ano passado, agora em modo bem mais intimista num Maus Hábitos cheio (de pessoas e calor humano, claro está) ,que permitiu ao coletivo eborense destilar uma estrondosa jarda descomunal que nos deixou absolutamente siderados.
Começaram ao som de “ Scars” , marcha violentíssima de um sludge /doom acutilante, e logo aí um negrume tenebroso pareceu engolir a sala, o volume ensurdecedor que saía das colunas a espancar-nos os ouvidos sem misericórdia enquanto a alma era purificada. Chega mesmo a ser difícil exprimir por palavras a força surreal desta atuação , mas, sobretudo para aqueles de nós a absorver tudo na fila da frente, era como estar no meio de um tsunami sonoro impiedoso, arrepiados que estávamos por uma uma das entregas mais pujantes e emotivas que já vimos os Process of Guilt - ou melhor, os “Process of Jarda”, como muito bem escreveu a Amplificasom nas redes sociais - oferecer.
Seguiu-se “Victims”, novamente do mais recente “Slaves Beneath the Sun”, que ainda andam a promover, e a energia não só se manteve altíssima como efetivamente pareceu até subir: à nossa volta avistávamos pessoas que pareciam quase possuídas pela intensidade destes sons, como se mais que um concerto , estivéssemos perante uma experiência religiosa. Não restam dúvidas de que a transcendência foi magnificamente ruidosa, de um peso de tal forma colossal que parecia perfurar a pele para nos chegar às entranhas.
Pelo meio houve tempo para recordar umas poucas preciosidades do passado- “Fæmin” , de 2012, que soou monstruosa e implacável, revestida de riffs que esmagavam o espírito como um bulldozer, e “ Hoax” ,autêntica procissão fúnebre deliciosamente agonizante , de uma garra que se revelou tétrica e demoníaca. Contudo, foi o referido “ Slaves Beneath the Sun” que recebeu o maior destaque, com a banda a interpretar quatro dos seus temas, incluindo o final com “Host ”.
Rendidos a este concerto que na verdade foi um ritual transformador, ansiávamos por mais , por um encore que prolongasse o serão, mas o grupo deu por terminada a sua passagem sem oferecer esse momento “extra”. Desapontante , por um lado, mas nada de grave. Afinal, enquanto isto durou, permanecemos encantados, e saímos de alma lavada. Máquina incrivelmente bem oleada e verdadeiramente imponente, os Process, nesta noite, foram deuses. Que a memória coletiva preserve a glória do momento.
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domingo, 03 novembro 2024