Reportagem Jungle em Lisboa
Foi uma estreia que há muito se exigia pelas grandes salas de espetáculos portuguesas. Depois de quase uma década a serem presença assídua nos maiores festivais de verão de Portugal, tocando desde o NOS Alive e o Super Bock Super Rock até mais a norte pelo Primavera Sound e Paredes de Coura, os Jungle finalmente se apresentaram por Portugal em nome próprio. Aquando uma nova passagem do grupo londrino por terras lusitanas, a sua legião de fãs aumentava gradualmente, não sendo por isso surpresa que o Campo Pequeno tenha esgotado para a ocasião.
Naquela que foi a sétima presença dos Jungle por Portugal, Volcano foi o principal cartão de visita na noite de 29 de outubro, e tal como o nome do quarto disco de originais da banda, também o Campo Pequeno se fez passar por um vulcão. Não tardou muito para o dito atingir o ponto de ebulição, ou não estivesse a sala já (quase) toda preenchida quando nem uma hora separava o reencontro entre os londrinos com o público português. Naturalmente, a antecipação pelo momento levou a que a erupção estivesse para breve, e se desse no preciso instante em que a cortina laranja que escondia o palco caiu ao chão e iluminasse o enorme letreiro com o logótipo dos Jungle que pairava no teto.
O arranque fez-se ao som de “Us Against The World”, puxando dos primeiros movimentos 4x4 pela plateia. Todavia, o início com a sala toda em uníssono só viria com o tema seguinte, “Candle Flame”, cujo aumento do nível de festividade contagiou as bancadas a levantarem o pé e deixarem-se levar por uma súbita e incontrolável sede de dança. Mesmo com o ritmo a abrandar na harmoniosa “Dominoes”, com especial destaque para a transição galopante a culminar em “The Heat”, o público nunca mais viria a arredar pé e as cadeiras da sala ficariam despedidas de gente até ao final do serão.
Através de “Heavy, California” e “Beat 54 (All Good Now)”, tocadas de seguida e das mais celebradas da noite, os Jungle revisitaram algum do seu passado, apesar dessas instâncias terem pecado por escassas; em vinte-e-picos temas do alinhamento, metade esteve representado por Volcano e a restante repartida pelos três discos anteriores. E apesar do tripleto de “Problemz”, “I’ve Been In Love” e “Back On 74” demonstrarem a versatilidade do seu som enérgico e dançante, são repescagens como “Time”, “Happy Man” e “Casio” que arrancam os cânticos entoados pela lotada sala.
Mais do que demonstrar uma nova faceta da sonoridade de Jungle, uma na qual o retro e o futurista se cruzam através disco, do funk e do soul, Volcano veio também consolidar o estatuto do grupo londrino como uma das bandas mais eletrizantes em palco da atualidade. O crescimento dos Jungle é também notório no quão à vontade se sentem, hoje, Josh Watson e TomMacFarland em palco, não só apelando continuamente à participação do público, mas também pela forma exímia como orquestraram esta sinfonia de dança. Para além do salto qualitativo, os Jungle alcançaram o estatuto de banda grande, e o resultado esteve à vista.
Coincidindo com a primeira volta completa dos ponteiros do relógio, e em dia de mudança de hora, “Holding On” e “Good Times” fizeram-se ouvir, suar e dançar, isto enquanto transmitiam a mensagem do ‘tudo o que é bom acaba depressa’, naquele que foi o primeiro final da noite. Para o encore, e à boleia da suspensão da primeira nota que se prolongou entre a saída/entrada dos Jungle em palco, “Keep Moving” sugou os restos de energia que ainda sobravam no Campo Pequeno para terminar a noite em clima de festa, celebração e com a nostalgia pelas noites de verão que já lá vão e que certamente tiveram em Jungle uma das suas bandas sonoras de eleição. Em jeito de docinho bem guardado para o final, houve “Busy Earnin’” e uma ruidosa ovação para aquela que foi a tão aguardada estreia dos Jungle fora da esfera festivaleira portuguesa, e que em honra de ocasião tão solene, não teria perdido nada se se tivesse prolongado por mais dez ou vinte minutos.
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Organização:Everything is New
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terça-feira, 10 setembro 2024