Reportagem Björk em Lisboa
Uma verdadeira romaria de pessoas em direcção ao Altice Arena. Um frenesim controlado e ordeiro antecipava uma experiência que viria a materializar-se em imersiva, sensorial, activista e profundamente tocante.
O aparato cénico, apesar de esperado, foi deslumbrante. A tela gigante, as imagens aludindo ao oceano e aos seres que o habitam, quer reais quer imaginários, o canto dos pássaros, que nos transportou para qualquer recanto da floresta amazónica, os músicos com harpa, as flautas, os sopros, a fusão entre o orgânico de tudo isto com tecnológico dos instrumentos electrónicos resultaram numa apoteose contínua. Tudo funcionou como se duma peça de teatro se tratasse. As cortinas abriram-se e fecharam-se e o elenco entrava e saia de cena como nos vários actos de uma peça. O guarda-roupa foi exuberante, digno de uma qualquer produção de teatro ou cinema, feminino nos detalhes e orgânico na alusão a elementos naturais a lembrar penas, etc.
Mais do que um concerto, foi uma peça musical, com direito a personagens principais e secundárias, direcção artística e musical, bem como, guarda-roupa (figurinos).
E a voz! Ah! A voz! Sobressaiu em tudo isso, conduziu toda a viagem visual e sensorial.
Estamos habituados à criatividade de Bjork, à sua inovação/mudança constante, a cada álbum, uma nova expressão fruto da digestão dos estímulos e influências a que se submete nesta actividade constante que é viver. De matriz criativa e eclética, as suas criações não descuram contextos e preocupações actuais como a preservação da natureza e do planeta como ficou patente na mensagem de Greta Thunberg passada em vídeo durante o concerto.
Apesar de a receptividade aos seus últimos álbuns não ser a mesma de outros tempos, fruto talvez de uma linguagem mais depurada e pouco refém de fórmulas pré-concebidas, o espectáculo foi centrado na discografia mais recente, ainda que, com um ou outro regresso ao passado.
Seguramente haverá quem sinta não conseguir “conversar /comunicar“ com Bjork à luz da sua mais recente discografia, mas não deixo de pensar e sentir que é sempre tão bom ouvir o que ela tem para dizer em cada nova exploração criativa.
Notou-se a presença de fãs fiéis e também novas gerações de admiradores, bem como, de admiradores ocasionais que não podiam deixar de ver tão ilustre presença. Todos desfrutaram o espetáculo e saíram mais preenchidos, mais conscientes e certamente embalados por toda aquela utopia quase biónica em que a natureza comunga com a tecnologia.
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Organização:Everything is New
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terça-feira, 10 setembro 2024