Reportagem Goat no Porto
Até na mente menos supersticiosa de todas ocorreu, a certo ponto desta malograda sexta-feira dia 13 de Outubro, que algum bruxedo teria sido lançado aos céus da cidade do Porto: além das nuvens terem aparentemente nascido do nada e infligindo uma daquelas molhas à antiga, a estreia em nome próprio dos suecos Goat em Portugal teve que ser adiado, devido à greve dos controladores aéreos franceses. Assim sendo, o ritual pagão foi adiado das 21h50 para as 23h00.
E, felizmente, a banda fez cumprir as horas, e com apenas dois minutos de atraso os músicos subiram ao palco, assumindo as suas posições de paz envergando imaginativas vestes. Além da música, existe uma performance demarcada no conjunto nórdico cujo impacto começa precisamente na roupa: uma espécie de broinha de mel de influências tradicionais, evocativas de trajes tradicionais dos quatro cantos do mundo, mas sem serem demasiado específicos para se figurar um caso de apropriação cultural - uma espécie de mundo alternativo onde a torre de babel implodiu em vez de cair.
O som não estava particularmente brilhante, nomeadamente no início do concerto onde um feedback não solicitado era bastante audível num dos amplificadores, mas não obstante disso, os Goat começaram com tudo. Primeiro com “Soon To Die”, a mostrar o lado mais gingão da banda e a terminar com um enorme solo psicadélico. Mas logo de seguida haveria mais sonoridades a visitar no repertório já longo da banda de Korpilombolo, fosse com a veia mais stoner rock com “Goatfuzz”, fosse mostrando o lado mais funky e afrobeat de “Under No Nation”. É, de facto, hipnotizante a facilidade como o septeto flutua por estilos musicais que normalmente se encontram distantes, e para isso muito contribui o mistério envolvido em cada um dos músicos, sejam as máscaras negras de ambos os guitarristas a impor respeito, sejam as elaboradas e coloridas máscaras das vocalistas, menos opacas mas ainda assim bem sucedidas em ocultar a sua identidade.
O concerto prolongou-se, com paragens mínimas entre os temas, revisitando o final bamboleante de Commune, segundo álbum de 2014, com “Gathering of Ancient Tribes”, passando por “It’s Time for Fun” onde os guitarristas anónimos trocaram um pouco as suas guitarras por maracas e passearam-se pelo palco, interagindo com o público com o seu corpo: é, a par da sua música, a forma adoptada para a interacção com o lado de cá do palco, nunca em discurso falado, mas sim com danças, vénias e gestos.
Porém, apesar da competência e da energia que todos os álbuns de Goat trazem à mesa, é sobretudo à boleia dos temas do álbum de estreia - World Music, de 2012 - onde a comunhão entre os fãs e os artistas se completa de forma mais intensa, seja com “Goatman” ou “Disco Fever”, que arrancaram uma grande ovação dos presentes. “Let it Burn” traz uma certa negritude e peso que rareou um pouco neste concerto, a convidar a um letárgico headbanging e perfeito para marcar o final do concerto em tempo regulamentar.
Claro que, sob um enorme coro de aplausos, poucas alternativas surgiram à banda, que obedeceu às orações barulhentas da sua tribo e presenteou o Hard Club com mais uns temas. “Union of mind and soul” recorre às flautas para entregar a sua mensagem humanista e neo-hippie (a fazer lembrar um pouco as canções que se fizeram de flores no cabelo em passadas décadas), mas para terminar a noite o emblemático e, talvez, o tema mais portentoso do conjunto: “Run to your Mama”, que tradicionalmente encerra as suas atuações, fez com que todos os esqueletos e cordas vocais se arrastássem em uníssono e é, provavelmente, o seu melhor cartão de visita. Esperemos por mais uma noite elétrica voodoo aqui no nosso reino, seja numa sexta-feira 13 ou não.
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Organização:Crowdmusic
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terça-feira, 10 setembro 2024